Há cerca de uma semana, Jorge Jesus chamou a si os louros pelo interesse que os jogadores do Sporting agora despertam junto de clubes mais endinheirados. Alguns comentadores não concordam, e encontraram outra explicação para a valorização dos jogadores do Sporting: o efeito "europeu".
Percebo a ideia. Não há montra como uma vitória numa final de uma grande competição internacional, e não duvido que a cobiça de certos clubes terá surgido (ou sido reforçada) com a inesquecível prestação da seleção no Euro 2016. Mas, na minha opinião, a valorização dos jogadore está longe de se explicar apenas por isso.
Comecemos por falar de João Mário. Foi vendido ao Inter por 40 milhões de euros, podendo o montante chegar aos 45, em função de determinados objetivos que, para já, ainda não são conhecidos. Certamente que o facto de ser campeão europeu ajudou nas negociações, mas não me parece descabido que o Sporting conseguisse vender João Mário por 30 ou 35 milhões sem a presença no Euro 2016, face à fantástica época que realizou no clube. O europeu pode ter valorizado João Mário em 5 ou 10 milhões, mas quanto valorizou o jogador enquanto jogador de Jorge Jesus? Numa visão otimista, não acredito que algum clube pagasse mais de 20 milhões quando o atual treinador do Sporting chegou ao clube.
Peguemos na outra grande venda do Sporting neste defeso: Slimani. Não participou no europeu mas, no entanto, foi vendido por 30 milhões (que poderão chegar a 35). Ou seja, acabou por ser transferido por um valor que pode ficar acima daquilo que era a sua cláusula de rescisão (que era válida apenas até finais de junho). Quanto valia Slimani um ano antes, após uma época em que marcou 15 golos em todas as competições? Provavelmente nem metade.
Mais: não são muitos os jogadores portugueses que se possa dizer que tenham tido uma grande valorização durante o europeu. É certo que Renato Sanches e Raphaël Guerreiro foram transferidos antes da competição começar, mas, de resto, não se viram grandes efeitos práticos. Apenas Nani foi transferido para o Valência, ainda durante a competição, por um valor pouco significativo (8,5 milhões). Houve também a transferência de André Gomes para o Barcelona por uma verba fabulosa, mas cuja valorização é exclusivamente derivada da influência de Jorge Mendes, já que, do ponto de vista desportivo, o jogador fez um europeu - e toda uma época, já agora - abaixo das expetativas.
Portanto, é verdade que o efeito "europeu" pode ter ajudado o Sporting a fazer da venda de João Mário a segunda maior da história do futebol português - apenas ultrapassada pela de James que, como se sabe, foi inflacionada para reduzir o valor de João Moutinho -, mas não foi esse o principal motivo de valorização dos jogadores do Sporting. O principal fator de valorização dos jogadores transferidos pelo Sporting mora em Alvalade e chama-se Jorge Jesus.
Ainda há alguma dúvida de que Jesus merece o salário que ganha?