Ontem, a TVI fez uma longa entrevista a Luís Filipe Vieira, e há que dizer que o presidente benfiquista se mostrou bastante confortável no papel de entrevistado. É normal que assim seja. Não só porque está a colher os frutos da experiência acumulada de quase década e meia a presidir um clube tão mediático como é o Benfica, mas, sobretudo, por causa de dois outros fatores, um intrínseco e outro extrínseco.
O intrínseco tem a ver com a própria natureza de Vieira, no sentido em que é uma pessoa que dispensa estar constantemente debaixo dos holofotes mediáticos - bem diferente de Bruno de Carvalho, por exemplo. Como tal, tem a capacidade e paciência para escolher os timings que lhe são mais convenientes - como não lembrar, por exemplo, o verão de 2014, quando o Benfica estava em alvoroço pelas inúmeras saídas de jogadores, em que Vieira conseguiu estar semanas sem dizer publicamente uma palavra que fosse -, que normalmente coincidem com períodos positivos do clube. A aparição de ontem explicar-se-á, sobretudo, por estarmos a apenas um mês e meio das eleições.
O fator extrínseco tem a ver com o papel a que se prestam os meios de comunicação social que o entrevistam. Nos últimos anos, Vieira, ao ser entrevistado, tem jogado sempre em casa: ou fala para a BTV, ou fala para A Bola, mais especificamente José Manuel Delgado. A entrevista de ontem, dada à TVI foi a primeira, em muitos anos, que fugiu a esta lógica. Mas não tardou muito para se perceber que, mais do que uma entrevista, estávamos perante uma espécie de programa de homenagem. Não faltou o vídeo para lhe tentar soltar a lágrima, um jornalista macio e pouco informado / interessado sobre os assuntos efetivamente importantes, e, como se isso não fosse suficiente, um trio de convidados benfiquistas (sobre Diamantino é escusado referir a promiscuidade, visto que tem os biscates que tem graças à comunicação benfiquista) que não tinham perfil nem, se calhar, grande vontade para apertar o seu presidente.
O contraditório foi, salvo uma outra exceção pontual, nulo. Nenhuma pergunta é verdadeiramente incómoda se quem a faz não estiver preparado para fazer o devido escrutínio às respostas no momento em que elas são dadas. Pelo contrário, várias das questões, nomeadamente as de Diamantino, eram a pedido e claramente direcionadas temas que davam jeito e, por arrasto, falar-se (mal, obviamente) de Bruno de Carvalho e Jorge Jesus. Aliás, para quem supostamente não gosta de falar nos outros, foram várias as bicadas e referências a outros clubes. Vieira falou da dívida bancária, mas ninguém o confrontou contra as promessas que fez no passado. O mesmo se aplica ao Benfica made in Benfica, uma promessa antiga que continua a ser adiada (olhando para o plantel atual, tirando Guedes, que poucas oportunidades terá para jogar, é Lindelof, que chegou a Portugal com 18 anos, quem mais se aproxima deste desígnio). Ou as várias referências a Bernardo Silva e João Cancelo, utilizadas para atingir Jesus, mas em que ninguém recordou a Vieira que, segundo as palavras do próprio na altura em que foram emprestados, iriam de certeza voltar ao Benfica. E podia continuar com mais exemplos.
Relembrando a última entrevista que Bruno de Carvalho deu a este mesmo canal - com uma Judite de Sousa extremamente agressiva -, não é possível deixar de reparar no contraste em relação à conversa de amigos que aconteceu ontem. Moniz não se viu, mas a sua presença foi sentida em ambos os casos. A direção de informação da TVI (e José Alberto Carvalho em particular) devia ter vergonha da pobre figura que fizeram ontem.