segunda-feira, 17 de abril de 2017

Hipocrisia ao som de cânticos sobre o very-light

Sábado foi dia de dois dérbis, de futsal e andebol, no pavilhão da Luz. Como costuma ser hábito, as claques benfiquistas foram protagonistas de tristes situações que são recorrentes nos jogos de pavilhão que opõem Sporting e Benfica. À tarde, no jogo de futsal, assobiando de forma a imitar o som do very-light que matou Rui Mendes, na fatídica final da Taça de 1996. À noite, no jogo de andebol, juntaram aos assobios este cântico:


Os atos ficam com quem os pratica, e quando são deste tipo dispensam grandes comentários. Infelizmente, nenhum clube grande tem grande moral para atacar os outros quando episódios destes acontecem. O Porto teve, na semana passada, o cântico do avião do Chapecoense, enquanto o Sporting já usou tarjas igualmente ofensivas usando a morte de Eusébio ou de um membro de uma claque benfiquista falecido há cerca de 20 anos. E não coloco as mãos no fogo em como não acontecerão novas ocorrências do género no dérbi do próximo sábado.

Mas para além dos atos propriamente ditos, há outras duas questões importantes que devem ser referidas. 

A primeira é o comportamento da comunicação social, que se atirou (e bem) de unhas e dentes ao cântico do Porto, dedicando-lhe páginas e páginas de jornais, horas e horas de debate. Infelizmente, as repetidas atitudes das claques do Benfica - num passado nada distante - foram ignoradas. Veremos até que ponto a comunicação social conseguirá evitar abordar o que se passou no sábado.

A segunda tem a ver com a hipocrisia da direção do Benfica. Mais uma vez, fazem de conta que nada aconteceu. Não é nada de novo, pois tem sido sempre essa a postura face aos casos semelhantes que as suas claques protagonizaram no passado, mas desta vez a hipocrisia salta ainda mais à vista porque, dois dias antes, a direção benfiquista teve esta posição oficial:


Face à rápida demarcação do Porto relativamente aos cânticos das suas claques, o Benfica foi igualmente célere a aplaudir a atitude do clube do norte. No entanto, no momento em que escrevo este texto, já se passaram mais de 24 horas desde os cânticos das claques do Benfica, e ainda não houve qualquer reação por parte da direção.

Provavelmente essa reação nunca chegará. Relembro a ocasião em que as claques do Benfica exibiram, no pavilhão da Luz, uma tarja de grandes dimensões a gozar com a morte de Rui Mendes: o Benfica, pela voz do presidente - que estava presente no pavilhão - anunciou a abertura de um inquérito para apurar responsabilidades.


Dois anos depois, ainda se está por conhecer as conclusões desse inquérito.

Não é por falta de capacidade que o Benfica se mantém em silêncio. Quando as suas claques foram responsáveis por ferimentos em adeptos do Atlético Madrid, a condenação oficial por parte da direção benfiquista não se fez esperar. Era fácil perceber que a motivação por trás dessa condenação era o receio de penas duras, como a interdição do Estádio da Luz nas competições europeias. 

Em Portugal sabe-se como funciona a justiça desportiva. Por isso, para quê se darem ao trabalho de criticar as suas claques? É tão mais simples (e útil) continuarem a ignorá-las...