sexta-feira, 21 de abril de 2017

O castigo de Brahimi


Brahimi foi castigado com dois jogos de suspensão na sequência da expulsão no Braga - Porto disputado no último sábado. Devo dizer que, por uma questão de princípio, acho que faz sentido que um jogador que veja cartão vermelho por protestos ou faltas violentas seja castigado com um mínimo de dois jogos. Não faz sentido equiparar estas situações às expulsões por duplo amarelo ou aos vermelhos que decorrem de lances normais de um jogo, como o derrube a um adversário isolado.

Ainda esta época, Heldon foi suspenso por três jogos por ter insultado o árbitro Vasco Santos. Segundo o relatório desse jogo, o extremo do Rio Ave disse: "És um borrado meu grande filho da p...! Vai para a grande p... que te pariu!". Convenhamos que até a mãe de Heldon terá concordado com o castigo. O que não faria sentido era que o castigo fosse apenas de um jogo, como foi prática corrente no futebol português durante vários anos.

Voltando à expulsão de Brahimi, as imagens da transmissão televisiva não são esclarecedoras. A dada altura, vê-se Hugo Miguel a dirigir-se para a área técnica portista, onde dirigentes e membros da equipa técnica protestavam com o quarto árbitro, mostrando, uns segundos depois, o cartão vermelho ao jogador argelino, que estava junto ao banco. Ou seja, não temos forma de perceber o que aconteceu para levar o árbitro a expulsar Brahimi.

Depois houve a reação de Brahimi ao ver o cartão vermelho. Dirigiu-se ao quarto árbitro, mas a linguagem corporal do jogador não pareceu anormalmente agressiva ou insolente. Resta aquilo que o jogador possa ter dito.

Aqui está o primeiro problema. Aquilo que vem descrito no documento divulgado pelo CD da FPF...


... não tem nada a ver com o que foi captado pelas câmaras da Sport TV. Esta justificação só pode fazer sentido caso os factos descritos tiverem ocorrido antes de a realização ter passado a seguir as movimentações junto ao banco.

Ora, considerando o momento da época e a importância do jogador em causa - provavelmente o mais desequilibrador de um dos dois clubes que estão a disputar o título -, teria sido sensato que o CD tivesse dado explicações adicionais. E não faz sentido que o CD remeta a justificação para o relatório do árbitro, pois falamos de um documento que não é público.

O segundo problema, a meu ver, é o aparente agravamento dos castigos para certo tipo de sanções. Não que veja qualquer inconveniente nesse endurecimento das sanções, desde que praticadas de forma coerente - para além disso, falamos de um CD que tomou iniciou funções esta época, pelo que tem toda a legitimidade de alterar a sua atuação em relação ao que se fazia nas épocas anteriores.

No entanto, para haver uma justiça efetivamente equilibrada, esta endurecimento disciplinar deveria ter sido acompanhado por um maior rigor no tratamento dos casos flagrantes de indisciplina que não são devidamente sancionados pelos árbitros durante o jogo. E é aqui que o CD está a falhar em toda a linha. Pior do que isso, está a passar a ideia de que há justiças diferentes em função dos clubes envolvidos.

Não é compreensível, por exemplo, que em duas jornadas consecutivas, Samaris agrida adversários e não seja julgado em conformidade: a agressão a Alex Telles passou incólume, enquanto o soco a Diego Ivo deu apenas direito a um processo que dificilmente conhecerá desfecho na época em curso.

(de notar que não me esqueci do caso de Slimani, mas não só foi tratado por outro CD, como também é o exemplo perfeito de como não se deve conduzir um processo disciplinar desta natureza)

Como também não é compreensível que o CD tenha ignorado o encosto de cabeça de Luisão ao árbitro Nuno Almeida, no jogo Benfica - Chaves, em fevereiro passado:


Isto faz com que o sentimento de justiça dispar acabe por ganhar ainda mais força, pois o encosto de cabeça no árbitro é precisamente um dos atos que o CD considerou na suspensão de dois jogos de Brahimi.

O CD não existe para servir de contrapeso às péssimas arbitragens que existem em Portugal - não só pela fraca qualidade técnica e disciplinar dos árbitros, mas também pela parcialidade revelada em favor dos de sempre -, mas ao agravar as penas sancionadas em campo e ao continuar a ignorar as que não são punidas pelas equipas de arbitragem, está, efetivamente, a ampliar o efeito das más arbitragens. E se já era muito complicado para as equipas não bafejadas pelo colinho da arbitragem poderem competir com as que são, esta nova política do CD torna essa batalha ingrata e desigual ainda mais difícil.