quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Copo meio cheio vs copo vazio

Não deve haver sportinguista que não tenha ficado tremendamente desiludido com a prestação da equipa no princípio de noite de ontem. Foi quase tudo mau, e não se consegue entender como é que a equipa produz tão pouco no ataque ao fim de 8 semanas de trabalho. Na pré-época, todos evidenciavam o problema na defesa e ninguém parecia preocupado com a capacidade ofensiva na equipa. Jesus mexeu no onze e parece ter encontrado uma solução para a questão da defesa, mas, infelizmente, resolveu-o à custa da criatividade. Se ainda havia dúvidas depois do que se viu contra o V. Setúbal, o jogo de ontem encarregou-se de as esclarecer em definitivo: no momento de forma atual ao nível individual, iniciar jogos com este onze é dar 60 minutos de avanço ao adversário.




As hipóteses de qualificação - estaríamos todos à espera que o Sporting tivesse dado um passo importante no sentido de assegurar a qualificação. Isso não aconteceu, mas, apesar de tudo, a eliminatória não ficou comprometida. 0-0 é um resultado ingrato para a equipa que faz a 2ª mão em casa, pois fica com metade da margem de erro da equipa visitante. De qualquer forma, o Sporting terá sempre que marcar se quiser passar. Darão os romenos mais espaços pelo facto de jogarem perante o seu público? Provavelmente, sim. O mais importante é saber se será o Sporting capaz de aproveitar esses espaços, face ao que se tem visto ao nível da produção ofensiva.

"Muita fortes a defender" - Jesus, no brilhante exercício de copo meio-cheio que efetuou na flash interview após o final do jogo, destacou o facto de o Sporting ter feito o seu 3º jogo oficial e continuar sem sofrer golos. Concordo que, na primeira parte, o Sporting esteve muito bem defensivamente. O Steaua praticamente que nem cheirou a área de Rui Patrício, com exceção de uma oportunidade criada através do nosso flanco direito que o guarda-redes salvou junto ao poste. Na 2ª parte, a história foi diferente: o Steaua teve duas excelentes oportunidades para marcar quando as pernas começaram a faltar a alguns jogadores. Ainda assim, é justo assinalar as melhorias neste departamento face ao que foi o nosso principal problema na época passada.



Persistência no erro - o Steaua veio jogar com uma estratégia idêntica à do V. Setúbal, e Jorge Jesus apostou na mesma estratégia que utilizou frente ao V. Setúbal. Estranho seria se a combinação desses dois fatores desse um resultado diferente. A solidez defensiva que Jesus elogia deve-se muito ao facto de utilizarmos dois laterais e dois médios centro cuja principal preocupação é assegurar equilíbrios defensivos e que, como tal, pouco ou nada contribuem ofensivamente. Mas se, contra o V. Setúbal, Jesus não foi particularmente lento a perceber que tinha que arriscar mais - colocando Doumbia e Bruno Fernandes à passagem dos 60' -, ontem foi bastante mais conservador. Lançar Doumbia quando a bola não chegava lá à frente em condições dificilmente poderia dar bom resultado. Bruno Fernandes entraria perto dos 70', quando a equipa já se mostrava demasiado ansiosa e cansada para poder passar a atacar com a velocidade e discernimento necessários.

Problemas nas laterais - Coentrão, não arriscando, continua a ser um lateral competente. O problema é que ficou sem pernas demasiado cedo. Aos 70' já andava a passo e não conseguia dominar bolas fáceis. A expulsão do jogador romeno acabou por lhe poupar a humilhação de ser substituído por Jonathan Silva - Jesus voltou atrás na substituição e preferiu lançar Iuri Medeiros quando viu que ia jogar em superioridade numérica no resto do tempo. Piccini, defensivamente também é competente, mas com a bola nos pés parece que fica paralisado sem saber o que fazer a seguir. Não havendo laterais que subam bem e com frequência, o aproveitamento das faixas laterais para criar desequilíbrios fica demasiado dependente daquilo que os extremos conseguirem fazer no 1 contra 1... ou no 1 contra 2. Para além disso, não temos jogadores que saibam centrar.

Ausência de jogo interior - nada que surpreenda, considerando os jogadores que estão em campo. Adrien, que não é propriamente um fora-de-série a criar espaços pelo meio, está num mau momento de forma. Battaglia, quando ataca, fá-lo em condução, e não em trocas de bola. Podence está num mau momento. Dost pode ajudar, mas não é ali que deve desequilibrar. Acuña e Gelson tentam movimentos interiores, mas têm pouquíssimas opções com que trabalhar. Resumindo, neste momento, estes jogadores não chegam para desmontar nenhuma defesa minimamente organizada.

Desorientação - perdi a conta aos passes, cruzamentos e domínios de bola mal efetuados sem haver qualquer pressão ou oposição. Na segunda parte, num livre no meio campo do Steaua, os centrais sobem para a área, mas Adrien bate para trás, e a construção segue como se fosse um lance em que a equipa estivesse organizada. Perto do fim, houve um lance em que o Sporting tinha muitos jogadores perto da área, e foi Doumbia que desceu para receber a bola - ou seja, tivemos o ponta-de-lança a funcionar como 4º ou 5º elemento mais recuado. Demasiados pormenores a falhar que denotam alguma desorientação na equipa quando as pernas, a confiança e o discernimento começam a falhar.



Infelizmente, Jesus tem razão: o Steaua foi um adversário do nosso nível, mas a responsabilidade de isso ter acontecido é inteiramente sua. Não quer dizer que as coisas não melhorem com mais tempo de trabalho e com a subida de forma de certos elementos, mas, neste momento, contra adversários teoricamente mais fracos que não vêm discutir o resultado, este onze não é solução.

É obrigatório vencer os próximos dois jogos, pelo que esperemos que o treinador se consiga desfazer imediatamente dos equívocos em que parece envolvido.