sábado, 12 de agosto de 2017

Teste de esforço

A coisa esteve negra, muito negra. A época pode estar ainda no princípio, mas a equipa não perdeu tempo para fazer uma espécie de teste de esforço à condição cardíaca da família sportinguista.

Apesar das boas entradas tanto na primeira parte como na segunda, em que se criaram algumas boas oportunidades para marcar, o Sporting acabou por ir no canto da sereia e deixou-se apanhar na teia que o V. Setúbal montou. A entrada de Doumbia e Bruno Fernandes mexeu com o jogo, a equipa começou a sentir os minutos a esgotarem-se e espevitou-se o ritmo, mas poucas vezes de forma esclarecida.

Mas já se sabe que, quando a maior parte dos desequilibradores estão numa noite pouco inspirada, mais vale um grande volume atacante à balda e esperar um momento de genialidade de um dos nossos jogadores ou que o adversário cometa um erro, do que manter o jogo ultra-calculado e previsível que se viu na maior parte do tempo. E assim foi, o que acabou mesmo por acontecer foi um erro do adversário, cometendo um penálti escusado que acabou por dar de bandeja os 3 pontos ao Sporting.




A liderança de Mathieu - apesar de o V. Setúbal ter sido uma equipa inofensiva, o francês foi, para mim, a figura do jogo. Fez um jogo irrepreensível a limpar tudo o que aparecia na sua área de ação, mas o que mais me saltou à vista foi a sua atitude e capacidade de liderança. Numa altura em que a equipa parecia um pouco perdida em campo, Mathieu foi o jogador que mais tentou empurrar a equipa para a frente, fosse a dar instruções aos companheiros, fosse a levar jogo na direção da baliza adversária - coisa que os seus companheiros pareciam incapazes de fazer. O remate acrobático que fez na segunda parte poderia ter sido a cereja no topo do bolo.

Segurança defensiva - considerando as fragilidades defensivas que a equipa demonstrou ao longo de toda a época passada, é bom sinal ver que o Sporting não sofreu qualquer golo nos primeiros dois jogos a valer e, melhor ainda, concedendo muito poucas oportunidades aos adversários. É claro que não é alheio a esta segurança o facto de jogar com dois laterais que pouco contribuem ofensivamente e dois médios centro mais talhados para o combate do que para a construção ofensiva. Ainda assim, há que assinalar o progresso. 

Não falhou quando foi preciso - Dost não teve uma noite inspirada, falhando dois golos de uma posição onde, normalmente, não perdoa, mas não lhe faltou a frieza necessária para bater o penálti que deu a vitória.



Rever o plano A contra autocarros - já tinha acontecido contra o Aves, e voltou a acontecer ontem: o Sporting voltou a jogar demasiado tempo sem a velocidade e dinâmica necessária para ultrapassar equipas muito fechadas. O problema, a meu ver, é que há criativos a menos em campo. Dost precisa que lhe criem jogo, não está lá para construir, os laterais e o box-to-box não conseguem criar desequilíbrios, pelo que sobram Gelson, Acuña e Podence. Pode ser suficiente se estiverem em noite inspirada, mas ontem notou-se claramente a falta de um maestro que soubesse ajudá-los a tirar partido das suas qualidades. Falo, claro, de Bruno Fernandes. Contra adversários destes, não faz qualquer sentido levar a jogo Battaglia e Adrien em simultâneo. As duplas Battaglia / Bruno Fernandes ou até mesmo Adrien / Bruno Fernandes parecem-me alternativas bem mais lógicas.



MVP: Mathieu

Nota artística (1 a 5): 2

Arbitragem: Indo direto ao lance decisivo: o penálti foi bem assinalado. No estádio não tive dúvidas, e ao ver mais tarde na TV também não. Bruno Paixão esteve bem, portanto. Infelizmente, ficou um penálti por marcar, por um empurrão a Coates aos 30', e usou um critério demasiado largo na amostragem de cartões - há que dizer, no entanto, que esse critério foi coerente para ambas as equipas.



Primeiro jogo a doer em Alvalade, primeiro aperto de coração. Felizmente, este acabou por ter um final feliz.