Chamo-lhe "The Bruno de Carvalho Show" porque o programa de ontem que a Sporting TV transmitiu não se assemelha em nada a uma entrevista. Rui Miguel Mendonça lá ia tentando esporadicamente fazer aquele que, supostamente, deveria ser o seu papel, mas acabou por ser pouco mais do que uma figura decorativa no meio de um guião que o presidente tinha levado e pretendia seguir, durasse o tempo que durasse. Bruno de Carvalho tinha, efetivamente, várias coisas importantes para dizer - e disse-as com a frontalidade que o caracteriza -, mas, infelizmente, juntando-lhe demasiadas divagações, encenações e comentários paralelos que, como já devia saber melhor do que ninguém, servirão de pretexto para desviar as conversas daquilo que era o seu principal objetivo quando decidiu ir à Sporting TV. É algo que faz parte da sua personalidade, mas que faria bem em tentar corrigir: a eficácia da mensagem sai seriamente prejudicada, bastando olhar para as capas de jornais de hoje para o confirmar.
Olhando para o conteúdo da mensagem: o principal objetivo de Bruno de Carvalho era a divulgação de detalhes sobre a forma como as instâncias disciplinares e a comunicação social o têm tratado ao longo do último ano.
No que diz respeito ao Conselho de Disciplina, Bruno de Carvalho tem todos os motivos para se sentir indignado. É uma vergonha a forma como tem sido perseguido por Meirim. Já se sabia que estão numa toada de pegar em tudo o que conseguem para castigar - e que castigos - Bruno de Carvalho, mas o panorama fica ainda mais surreal quando ficamos a saber que o CD não tenha permitido que o presidente do Sporting apresentasse a sua defesa de forma completa - por exemplo, quando foi impedido pelo próprio CD de apresentar como testemunha o presidente do Conselho de Arbitragem num processo sobre declarações relacionadas com o setor da arbitragem, por ser irrelevante ouvir Fontelas Gomes, é uma aberração.
Em relação aos jornalistas e comentadores visados e ao tratamento diferenciado que a comunicação dispensa a determinados clubes, como devem calcular, acho que tudo o que foi dito só peca por escasso. Apenas lamento que o programa de ontem tenha, ironicamente, coincidido com um dia em que A Bola publicou uma entrevista exclusiva com Piccini. Não compreendo como é que o Sporting pretende fazer-se respeitar se continua a dar borlas destas a quem faz tudo o que está ao seu alcance para denegrir a imagem do clube e do seu presidente. Existem alternativas.
A parte final foi dedicada ao esclarecimento das incidências do fecho de mercado. Referiu que Dost e Gelson foram muito cobiçados e esteve bem na forma como se referiu ao caso de Adrien - só faltou dizer o que falta para o processo ficar concluído e ser comunicado. As afirmações mais relevantes acabaram por ser dedicadas a William Carvalho, nem tudo por motivos positivos: fica-lhe muito mal puxar para si quaisquer louros que sejam pela carreira do jogador. Mais importante foi ter desmistificado histórias que têm sido repetidas até à exaustão nos últimos dias, afirmando novamente que o Sporting não recebeu qualquer proposta por William e negando que o Sporting esteja obrigado a pagar 5 milhões ao jogador em caso de rejeição de uma proposta de transferência.
Resumindo: por uma questão de eficácia e também de proteção da sua própria imagem, Bruno de Carvalho deve procurar ser mais objetivo na forma como passa a sua mensagem - o que não é novidade para ninguém - e menos centrado em si próprio, mas a importância do que tinha para dizer justificou totalmente a realização do programa. Dei por bem empregado o tempo.