quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Pífio e vazio de conteúdo

Na edição da tarde de ontem do Mais Tabaco, Rui Pedro Braz comentou a revelação da revista Sábado em como o Benfica recebeu a minuta distribuída pela APAF aos árbitros por altura do inquérito sobre os vouchers:



Não surpreende que o comentador da TVI24 desvalorize este novo capítulo do caso dos emails (que cruza com o dos vouchers), mas não posso deixar de fazer algumas observações sobre determinadas coisas que foram ditas por Braz.

"O Benfica terá tido acesso a esta minuta da mesma forma que os órgãos de comunicação social terão tido acesso a essa mesma minuta"

Isto é irrelevante para o caso. Em primeiro lugar, o Benfica teve acesso à minuta no mesmo dia em que esta foi distribuída pela APAF aos árbitros, muito a tempo de ajudar a preparar as declarações que Luís Filipe Vieira iria dar sobre o mesmo tema. A comunicação social só teve acesso a essa mesma informação alguns dias depois. Em segundo lugar, o Benfica é uma das partes interessadas no caso dos vouchers. O que se diria se um polícia, testemunha de um caso judicial, desse a conhecer antecipadamente o conteúdo do seu testemunho ao advogado de defesa, à revelia da acusação? Este tipo de promiscuidade entre o Benfica e o seu garganta funda da APAF nunca poderá ser encarado como uma coisa normal - e não é o facto de a comunicação social ter tomado conhecimento do mesmo documento alguns dias mais tarde que atenua a gravidade do sucedido.


"O que revela é que um desses 122 árbitros terá libertado essa informação para o Benfica, um ou mais"

Esta é a grande frase da intervenção de Braz, que nem se deverá ter apercebido da barbaridade que disse, ainda por cima no tom casual que utilizou. Mas então por alma de quem é que algum árbitro, enquanto elemento supostamente isento e equidistante a todos os clubes, iria passar informação desta natureza ao Benfica, parte interessadíssima no escândalo dos vouchers? O expectável (e desejável), em circunstâncias destas, seria que evitasse qualquer contacto com o clube. E esta questão acaba por levantar outra questão tão ou mais pertinente: um árbitro que age desta forma nos bastidores não estará disponível para fazer outro tipo de favores dentro das quatro linhas, em jogos que interessem direta ou indiretamente ao Benfica?


"... e que um ou mais desses 122 árbitros, assistentes, delegados terá libertado essa informação também para os órgãos de comunicação social"

Não é necessariamente verdade que a pessoa ou pessoas que terão passado a informação ao Benfica tenham sido as mesmas que passaram a informação à comunicação social. Podem ter sido pessoas diferentes a fazê-lo, eventualmente com intenções bastante diferentes. Mas existe uma outra hipótese, que não é de todo improvável: pode ter sido o próprio Benfica a colocar essa informação cá fora, como forma de tentar isolar o Sporting na polémica dos vouchers.


"... como terá libertado eventualmente para o FC Porto, como terá libertado eventualmente para o Sporting"

Esta frase não é mais do que uma manobra de diversão de Rui Pedro Braz para tentar dar uma aura de normalidade ao sucedido. Com que direito tenta envolver outros clubes num escândalo que envolve única e exclusivamente o Benfica? Se lhe pedissem para comentar o Apito Dourado, alguma vez lhe passaria pela cabeça dizer que Augusto Duarte poderia eventualmente ter visitado o domícilio do presidente do Benfica ou do presidente do Sporting? Isto é uma vergonha.


"Neste caso em concreto parece-me uma situação pífia, vazia de conteúdo e sem grande relevância"

Aqui não há nada de surpreendente, tendo em conta a pessoa que proferiu esta opinião. Falamos do mesmo comentador que, na altura em que Francisco J. Marques começou a revelar mails efetivamente comprometedores, os catalogou como sendo "uma mão cheia de nada"...


... e que garantiu, no dia a seguir a Bruno de Carvalho ter revelado a existência do Kit Eusébio, que apenas sete pessoas tinham usufruído dos vouchers.


Mais tarde veio a saber-se que a lista de pessoas que usufruiram dos vouchers é muito mais longa, e que a mão cheia de nada dos emails já deu origem a várias buscas da PJ ao Estádio da Luz e à residência de vários dirigentes do clube. Podemos dizer, portanto, que os comentários de Braz sobre estes assuntos se revelaram pífios e vazios de conteúdo verdadeiro. O tempo dirá se esta situação da minuta será assim tão pífia e vazia de conteúdo quanto Braz diz que é.

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Benfica teve acesso privilegiado a depoimentos dos árbitros

Artigo da revista Sábado, de autoria de Carlos Rodrigues Lima - LINK.



Benfica teve acesso privilegiado a depoimentos dos árbitros


Depois da Liga ter aberto um inquérito, em Outubro de 2015, resposta preparada pela APAF para os árbitros chegou a Paulo Gonçalves a 7 de Novembro. Luís Filipe Vieira prestou declarações quatro dias depois.

Quatro dias antes de prestar depoimento na Comissão de Instrução e Inquéritos da Liga sobre o caso dos vouchers, o presidente do SL Benfica, Luís Filipe Vieira, muito provavelmente já saberia o que é que os árbitros testemunharam acerca daquela matéria. Tudo porque no mesmo dia em que a Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol enviou para os associados uma "resposta-tipo" para ser entregue à CIIL, o documento chegou a Paulo Gonçalves, assessor jurídico da SAD do Benfica.


De acordo com a reconstituição feita pela SÁBADO, depois de, em Outubro de 2015, a CIIL ter aberto um inquérito ao caso, denunciado pelo presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, a 7 de Novembro daquele ano a APAF enviou para árbitros, árbitros assistentes, segunda categoria, estagiários e observadores uma "sugestão de resposta" à CIIL. "Os árbitros e assistentes solicitaram à APAF aconselhamento jurídico, no seguimento de um pedido da Comissão de Inquéritos da Liga", explicou à SÁBADO José Fontelas Gomes, então presidente da associação, actual presidente do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol.

O documento chegou naquele mesmo dia ao email de Paulo Gonçalves, que o reencaminhou para Ricardo Costa, consultor da Abreu Advogados e antigo presidente da Comissão de Disciplina da Liga. No processo dos vouchers, Luís Filipe Vieira prestou declarações na CIIL a 11 de Novembro de 2015.

Leia toda a história na edição 708 da Revista SÁBADO, esta quarta-feira nas bancas.



A grande questão é saber quem fez chegar este mail a Paulo Gonçalves, que a Sábado, aparentemente, não conseguiu apurar - o que é estranho, considerando que deverão ter os emails nas suas mãos. Segundo o mesmo artigo da revista Sábado, a informação foi depois enviada pelo assessor jurídico benfiquista para o endereço contraosistema@iol.pt, cuja titularidade tem sido atribuída a Ricardo Costa, por, noutros mails, Paulo Gonçalves se ter dirigido a este indivíduo por "Ricardo".

Por razões óbvias, o facto de o documento da APAF ter chegado ao Benfica demonstra a existência de conluio para fintar a polémica dos vouchers, pelo que é fundamental que se apure quem foi o autor da fuga.

A revista Sábado também revelou que, noutra troca de emails ligada ao mesmo assunto entre Paulo Gonçalves e uma das firmas de advogados que trabalha para o Benfica, o assessor jurídico sugeriu que Vieira mudasse o seu depoimento sobre a alteração da política de oferta de vouchers no início de 2013/14 (altura em que o Benfica passou a oferecer vouchers de 4 refeições a cada elemento da equipa de arbitragem, observador e delegados, em vez dos vouchers de 2 refeições que ofereciam anteriormente): em de ser o presidente a assumir a responsabilidade, deveria atribui-la a um qualquer elemento do departamento de futebol responsável pela execução da cortesia.

O pormenor de considerarem que refeições para 2 pessoas não era cortesia suficiente é absolutamente delicioso...

terça-feira, 28 de novembro de 2017

O dia em que o futebol português se transformou num sketch de humor nonsense

Perto do final do Aves - Porto, Danilo cai na área da equipa da casa, mas nem o árbitro Rui Costa nem o VAR Bruno Esteves viram motivos para assinalar penálti. Na minha opinião, decidiram mal, mas isso acaba por ser irrelevante para o tema deste texto. É bem possível que, mesmo que tivesse sido assinalado penálti, os acontecimentos que se seguiram após o final do jogo fossem exatamente os mesmos.

Nas redes sociais as opiniões, como não poderia deixar de ser, dividiram-se. Um sportinguista filma uma das repetições com o telemóvel e coloca-a no Twitter, usando a sua conta Sporting Dependente. O vídeo, que acaba por sair com muito pouca qualidade, não capta de forma minimamente clara o momento em que o jogador do Aves toca na perna de Danilo. Fruto de várias partilhas, o vídeo começa a ganhar alguma embalagem mediática e chega aos olhos do responsável pela conta de Twitter que o Benfica criou para comunicar de forma privada com os jornalistas. Foi neste momento que o assunto se transferiu da esfera dos adeptos para as mais altas instâncias da propaganda do futebol português.


Nuno Farinha, subdiretor do Record, usa o vídeo como argumento para defender a decisão do árbitro Rui Costa num bate-boca no Twitter - o que, como calculam, levou a que os ânimos ainda se incendiassem mais entre quem assistia à conversa. Entretanto, começam a circular outras imagens, de melhor qualidade, que levam Farinha a mudar de opinião e retratar-se do que tinha escrito anteriormente.


O problema é que, quando algum conteúdo enganador é posto a circular a esta escala, não há forma de travar a sua disseminação. A polémica continuou acesa. No dia seguinte, Francisco J. Marques coloca, também no Twitter, um vídeo dividido em duas metades: a esquerda, uma imagem nítida, onde se pode ver o toque em Danilo; à direita, a imagem de fraca qualidade que circulava desde o dia anterior. Conclusão do diretor de comunicação portista: manipulação de imagens por parte do Benfica.

A conta Sporting Dependente, ou seja, o sportinguista que originalmente publicou o vídeo, que pode ser acusado de tudo menos de ser um apreciador do nosso vizinho da 2ª circular, confirmou que o vídeo divulgado pela conta do Benfica era o seu, e que não tinha havido qualquer manipulação.

Seguiram-se outros novos elementos, a mostrar como é fácil cortar frames num vídeo, e por aí fora, mas poucas pessoas se lembraram do óbvio: imagem de má qualidade + conversão manhosa do Twitter = vídeo impróprio para se analisar um lance em que há um toque tão rápido e subtil.

Para a coboiada ser ainda maior, a Sport TV entra ao barulho, dando ordem para remover os vídeos das redes sociais. A conta Sporting Dependente foi suspensa, e o vídeo divulgado por Francisco J. Marque foi bloqueado, dando, por sua vez, origem a acusações de censura octópode.


Entretanto a conta do Benfica decide negar as acusações de manipulação, prometendo levar o assunto para tribunal. Mais um processo de um clube a juntar-se às dezenas que contribuem para entupir os tribunais.


Mas estávamos apenas ainda a meio de segunda-feira, ou seja, ainda não tínhamos chegado ao período de excelência de debate nonsense do futebol português: os programas da segunda à noite. Como não poderia deixar de ser, a CMTV decidiu superar-se e recorreu a um dos seus profissionais da área de edição de vídeo para analisar se havia ou não manipulação nas tais imagens. Veredicto: houve manipulação de imagens.


E, para finalizar em beleza, André Ventura baralha-se completamente e semeia ainda mais a confusão: em vez de atribuir a publicação original do vídeo à conta de Twitter Sporting Dependente, atribui-a ao espaço Sporting Independente, uma página de Facebook sportinguista anti-Bruno de Carvalho. Considerando que Pedro Guerra também terá dito exatamente a mesma coisa, terá sido um momento menos bom do cartilheiro Carlos Janela.

No Twitter, todos perceberam a confusão que se gerou... mas houve quem lhe desse credibilidade...


... e a aproveitasse para desancar nos "sportingados" (confesso que não sei de onde surgiu esta nova terminologia, nem qual é a diferença para os "sportinguenses") que, neste caso, não tiveram nada a ver com o assunto. 

Resumidamente, foi isto que aconteceu nas últimas 48 horas: todo um sketch humorístico digno dos Monty Python, oferendo-nos vários protagonistas do mais elevado calibre que nunca deram um pontapé numa bola (com exceção de um ex-jogador do Damaiense), e provando que o conceito de fundo não existe no futebol português - há talento de sobra para escavar sempre mais um bocadinho.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

O guardião do 2º poste

Piccini não teve uma tarefa fácil em afirmar-se junto dos adeptos do Sporting, devido à desconfiança que se gerou no momento da sua contratação, face ao seu perfil e aos números que apresentou na última época. Eu era um daqueles que não acreditava que pudesse ser um jogador útil para o Sporting.

Ofensivamente, Piccini continua, na minha opinião, a não dar aquilo que o Sporting precisa contra defesas mais fechadas. No entanto, tenho de dar a mão à palmatória: defensivamente, tem sido um gigante. Ontem, Piccini teve uma intervenção decisiva que começa a ser a sua imagem de marca: fechar ao meio quando um cruzamento é realizado para o 2º poste.

O vídeo seguinte tem duas intervenções suas: a primeira, impedindo que a bola chegasse ao adversário num livre batido para o segundo poste; a segunda, num contra-ataque, em que a bola atravessa a área e consegue, graças a um posicionamento e timing perfeito, impedir que Bruno Moreira finalizasse e empatasse a partida. Chamo a vossa atenção para a repetição deste segundo lance, onde se pode ver como Piccini controla, por duas vezes, o local onde estava o adversário. Defender em função da bola, mas também do adversário direto - algo que parece tão básico mas que, no entanto, muitos laterais não são capazes de fazer.



O sucesso também se alcança através das quase-oportunidades

Após o empate do Porto na Vila das Aves e em véspera de um clássico Porto - Benfica, o jogo de ontem em Paços de Ferreira era um daqueles que o Sporting, simplesmente, não se podia dar ao luxo de não ganhar. O problema é que da necessidade à concretização vai alguma distância, sendo que, quando se joga na Mata Real, essa distância não costuma ser curta. O Paços não desiludiu e foi o adversário chato (no sentido de complicado) que costuma ser sempre que nos recebe, mas contra isso o Sporting soube mudar o chip da Liga dos Campeões e ser, desde o primeiro minuto, a equipa pragmática e concentrada que precisava de ser para sair de lá com os três pontos.




Vitória sem espinhas - o Sporting voltou para Lisboa com os três pontos porque fez em campo por merecê-los. O golo de Battaglia surge de uma jogada atabalhoada... mas totalmente legal, porque Bas Dost está atrás da linha da bola no momento em que o argentino faz o primeiro remate à baliza. Lamentável a postura dos comentadores de serviço da Sport TV ao dizerem de imediato que Dost estava adiantado - eles que, normalmente, costumam ser tão reticentes em apontar falhas da arbitragem -, quando as imagens, mesmo não sendo captadas do melhor ângulo possível, eram suficientemente esclarecedoras para comprovar a legalidade do lance. E depois, o golo de Gelson, a cruzamento de Fábio Coentrão é uma obra prima que acho que não terá o reconhecimento que merece. O trabalho a retirar o adversário do caminho antes do remate é absolutamente delicioso. Golos à parte, o Sporting também dispôs de bastantes mais oportunidades para marcar do que o Paços de Ferreira. A nota artística pode não ter sido muito elevada, mas a justiça da vitória do Sporting não pode ser beliscada de maneira alguma.

Savoir-faire na defesa, ou como o sucesso também se alcança através das quase-oportunidades - o normal, num jogo de futebol que oponha o Sporting a um adversário do nível do Paços de Ferreira no seu reduto, é que o Sporting tenha sempre mais oportunidades para marcar, independentemente de estar a atravessar uma época mais ou menos positiva. No entanto, em demasiadas ocasiões, o Sporting acabou por perder pontos graças a lances idênticos a vários que, por pouco, não aconteceram ontem. Vou tentar explicar-me melhor: o Paços teve três oportunidades para marcar em todo o jogo (uma das quais deu golo), mas teve umas três ou quatro quase-oportunidades que, noutros anos, teriam sido oportunidades de corpo inteiro e, com um elevado índice de probabilidade, poderiam mesmo parar apenas no interior da baliza de Rui Patrício. No entanto, ontem não passaram de quase-oportunidades porque temos uma linha defensiva extremamente competente a limpar vários tipos de lances complicados: é ver como Piccini e Coentrão fecham ao centro quando os cruzamentos/passes são feitos para o segundo poste, e como Mathieu (ontem Coates esteve abaixo do que é habitual) se transforma num muro quando um adversário entra na área com a bola controlada. Ações destas acabam por passar mais despercebidas do que os golos marcados, mas também têm valido muitos pontos esta época. São coisas que não costumam entrar nas estatísticas, mas que ontem, seguramente, nos garantiram a vitória.

Regressos - Acuña regressou à titularidade e fez um jogo regular, acabando por ser substituído perto da hora de jogo - suponho que a alteração já estaria planeada à partida, para não sobrecarregar o atleta. Bryan Ruiz também regressou, aumentando o lote de opções - e como o Sporting tanto precisava... - no banco. Não sei se este seria o momento mais adequado para o lançar: colocar um jogador que já não competia há 6 meses num jogo destes, com o resultado em aberto (o resultado estava ainda em 1-0), pode ter implicado alguns riscos que, felizmente, não se concretizaram.



O golo sofrido da praxe - no último mês e meio, o Sporting disputou 9 jogos. Em 6 jogos desses, sofreu pelo menos um golo nos últimos 5 minutos da partida. Uma estatística estranha de uma defesa que já demonstrou ser muito segura, mas que há-de ter alguma explicação lógica. Descompressão prematura? Desgaste físico? Azar? All of the above? Já vai sendo tempo de descobrir o motivo.



A jornada era complicada mas acabou por ser extremamente positiva: recuperámos 2 pontos em relação à liderança, com uma forte possibilidade de voltar a ganhar pontos a pelo menos um dos adversários diretos na próxima jornada. Mas primeiro há que não facilitar contra o Belenenses.

domingo, 26 de novembro de 2017

"Para ser honesto, nunca senti nada assim"



Tive o privilégio de assistir ao jogo de ontem entre o Sporting e o Dina - a minha estreia no Pavilhão João Rocha - e, de facto, é um espaço que impressiona quer pela magnífica obra que é, quer pelo ambiente que se gera a partir das bancadas. A equipa de futsal, que continua a contar por vitórias todos os jogos disputados esta época, brindou-nos com mais uma demonstração de grande classe, assumindo-se como candidata a ganhar todas as provas em que participa. 

Isto é o Sporting!


A expulsão de Ary Papel

O futebol português teve ontem mais um capítulo que demonstra não só a falta de qualidade da arbitragem nacional, mas também que falamos de uma classe mesquinha e prepotente, que gosta de marcar as suas posições de forma totalmente absurda e desproporcionada. Refiro-me à expulsão de ontem de Ary Papel frente ao Famalicão. Para quem não viu, aqui está o momento em que o jogador angolano viu o cartão vermelho:


De notar que o árbitro que cometeu esta barbaridade é Hugo Miguel, que é apenas um dos juízes mais permissivos que existem em Portugal, daqueles que só mostram amarelos quando começa a haver desmembramentos ou cabeças a rolar em campo. Ontem, com 5 minutos de jogo decorridos, com o resultado a zeros, decidiu o desfecho de uma partida de futebol ao obrigar uma das equipas a jogar com menos um durante praticamente 90 minutos, por causa de um... palavrão.

Veremos no futuro se Hugo Miguel continuará a ser tão pudico. Considerando as vezes que o palavrão em causa é utilizado nos campos de futebol, é possível que haja jogos que nem consigam chegar ao fim...


sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Aprovação vs. banalização do discurso

Nuno Saraiva fez, na última terça-feira, um post centrado numa sondagem realizada pelo jornal O Jogo sobre duas questões relacionadas com os presidentes do três grandes. A primeira pergunta consistia numa avaliação do trabalho dos presidentes pelos respetivos adeptos. A segunda referia-se especificamente a Bruno de Carvalho: "O Presidente do Sporting está a banalizar-se no discurso ao falar constantemente?".



Concordo com a análise feita por Nuno Saraiva à primeira parte da sondagem. Efetivamente, as eleições do Sporting demonstraram que a esmagadora maioria dos sócios reconhece o bom trabalho que a direção liderada por Bruno de Carvalho tem feito. Relembro que as eleições aconteceram em março de 2017, numa altura em que os resultados da equipa de futebol não podiam ser mais desmotivadores. De lá para cá, a equipa tem realizado uma época de 2017/18 bem superior à anterior, e, para além disso, acrescentou-se ao palmarés do Sporting um campeonato nacional de andebol - que há muito nos fugia - e uma Taça Challenge, o bicampeonato e supertaça de futsal, com uma presença na final da UEFA Futsal Cup, domínio total ao nível do futebol feminino, onde se ganhou tudo o que havia para ganhar em todos os escalões, e ainda dois dos três títulos em disputa ao nível das camadas de formação de futebol masculino. O hóquei também começou a época em bom nível e a nova equipa de voleibol promete lutar pelo título. E, last but not least, as contas da SAD registaram o maior lucro da sua história.

É perfeitamente normal (e justíssimo) que esta direção tenha uma taxa de aprovação elevada. No entanto, aprovar-se de uma forma geral o trabalho desta direção não implica necessariamente que não existam aspetos a corrigir ou a melhorar - o que me leva à segunda parte da sondagem.


Se me tivessem perguntado se o presidente do Sporting está a banalizar-se no discurso ao falar constantemente, a minha resposta seria, sem margem para dúvidas, afirmativa. Bruno de Carvalho devia ter noção de que está a banalizar-se no discurso. A pergunta d' O Jogo está de facto construída de forma algo manipuladora, mas acredito que se fosse colocada de outra forma - como, por exemplo, "Como avalia o discurso do presidente Bruno de Carvalho neste último mês?" (para ficar idêntica à primeira pergunta da sondagem) -, os números continuariam a ficar bastante abaixo do que os da aprovação do trabalho realizado.

A sobre-exposição satura, e pelas reações que vou vendo a seguir a cada novo post, é crescente o número de sportinguistas que vão tendo cada vez menos paciência para o ler ou ouvir. Bruno de Carvalho pode e deve responder a ataques feitos ao clube e a si pessoalmente, mas isso não quer dizer que tenha de responder em todas as ocasiões e, mais importante, não quer dizer que tenha de responder a todos os que o atacam. Só em relação às intervenções mais recentes, Bruno de Carvalho fez bem em responder às calúnias de Paulo Pereira Cristóvão, fez bem em colocar António Salvador no seu lugar, mas o que ganha ao andar a responder a figuras insignificantes como Ribeiro e Castro e meter-se num bate-boca com Rui Santos? Não tem elementos na estrutura que poderão fazer essa lavagem de roupa suja por si, de forma a preservar-se para guerras mais importantes? Não teremos um presidente mais eficaz, com maior impacto na mensagem, se se souber guardar para as ocasiões que realmente o justifiquem?

P.S.: por exemplo, foi excelente a intervenção de Bruno de Carvalho no final do jogo de ontem que garantiu a presença na final four da UEFA Futsal Cup. Uma mensagem positiva e agregadora, coisa que não tem sido muito frequente nos últimos tempos. Vale mesmo a pena ouvir.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Miserável

Que existam benfiquistas que odeiem Bruno de Carvalho, parece-me natural. Que existam adeptos "anónimos" que comentem ou até gozem com aspetos da vida privada de presidentes de outros clubes em espaços informais, também acho normal. Que uma pessoa com responsabilidades faça este tipo de comentários, revelando uma satisfação evidente por um (hipotético) problema na vida privada de outra pessoa, é apenas miserável.



Na raça



Na luta até ao fim

Se houver uma nota artística aplicada ao pragmatismo de uma exibição, então penso que se pode dizer que o Sporting atingiu praticamente a perfeição no jogo de ontem contra o Olympiacos. Jogo completamente controlado do início ao fim, capacidade para criar várias ocasiões de golo sem oferecer aos gregos espaço para contra-atacar, e bom nível de eficácia no momento de meter a bola na baliza. Um desnível acentuado que ajudou a recordar que o domínio registado no jogo da Grécia - numa altura em que tínhamos o melhor onze disponível - não foi nenhum acidente, e que consolida um percurso europeu que, mesmo se não acabar como todos desejamos, tem de ser considerado muito positivo.




Na luta, a um jogo do fim - quando o sorteio agrupou o Sporting com estes três adversários, terão sido muito poucos aqueles que imaginavam que seria possível estarmos a disputar a passagem à fase seguinte no arranque da última jornada. Será muito díficil chegar ao 2º lugar? Certamente que sim, mas olhando para o que tem sido a qualidade de jogo das várias equipas neste grupo, não é de todo impossível. Defrontaremos um Barcelona já com o 1º lugar assegurado que terá margem para rodar a equipa, e os italianos vão a um estádio sempre complicado - onde o próprio Barcelona não passou. Resta saber qual a carne que os gregos colocarão no assador, tendo o seu destino europeu já definido. Mas, seja qual for o desfecho das partidas que restam, nada pode apagar uma participação muito meritória de um clube que, após alguns anos traumáticos, se voltou a habituar a jogar de igual para igual com qualquer equipa da Europa.

Killer Dost - o holandês estreou-se a marcar na fase de grupos da Liga dos Campeões (já tinha marcado um golo em Bucareste), respondendo da melhor forma à oportunidade falhada no início da partida. Está de regresso à sua melhor forma, voltando aos registos assombrosos de eficácia finalizadora. Se continuar assim, estaremos muito mais perto de vencer os jogos que se seguirão.

O regresso de alguns dos lesionados - ainda não foi desta que o Sporting conseguiu juntar o seu onze mais forte (Coates e Acuña, por motivos distintos, não puderam jogar), mas a presença de Mathieu, William, Piccini e Coentrão eleva a capacidade desta equipa para um outro nível: os laterais, mantendo a qualidade defensiva a que já nos habituaram, estiveram muito mais ativos na manobra ofensiva do que tem sido habitual, enquanto a presença de Mathieu e William acrescenta, por si só, uma segurança muito maior nas saídas para o ataque. Mas é justo referir que tanto André Pinto como Bruno César, os dois jogadores que renderam Coates e Acuña, estiveram também a um nível elevadíssimo.

Gestão de jogo perfeita - controlo total do ritmo de jogo, resultado resolvido relativamente cedo, e até deu para utilizar as substituições para poupar alguns dos jogadores regressados de lesões. O golo sofrido não belisca uma gestão de jogo perfeita.



Banco muito curto - felizmente não foi necessário, mas as alternativas que havia no banco não eram propriamente tranquilizadoras, na eventualidade de acontecer alguma lesão ou haver necessidade de promover alguma alteração tática. Apenas dois jogadores de cariz ofensivo, sendo que um deles pouco ou nada tem rendido, e, tirando Podence, o melhor que se pode dizer de todos os jogadores que estavam sentados no banco é que podem ser úteis em situações muito específicas. Se por acaso o jogo se complicasse, dificilmente seria resolvido através de substituições. Há trabalho para fazer na janela de transferências de janeiro.



Foi um jogo entretido que não provocou grandes sobressaltos ao tão massacrado coração do adepto sportinguista, que deu mais três pontitos, mais um milhão e meio de euros para a nossa conta bancária (claro que haverá quem diga que é tudo para pagar à Doyen), e que coloca a Juventus em estado de alerta máximo para a última jornada. All in all, nada mau para uma noite de quarta-feira. Mas agora, como disse ontem um reputado treinador nacional, temos de pensar que há vida depois da Champions: é fundamental mudar o chip para o campeonato. Essa, sim, tem de ser encarada como a principal prioridade, agora e sempre.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Sporting - Vilaverdense

Sorteio realizado há pouco para os oitavos de final da Taça de Portugal:

Rio Ave - Benfica
Marítimo - Cova Piedade
Porto - V. Guimarães
U. Madeira - Aves
Sporting - Vilaverdense
Moreirense - Santa Clara
Caldas - Académica
Praiense - Farense

Sorteio favorável para o Sporting, que receberá o Vilaverdense, que ocupa atualmente a 4ª posição da série A do Campeonato de Portugal, a 8 pontos do líder, o Vizela. Nunca facilitando, mas dará para gerir o plantel num ciclo muito complicado de 8 jogos em 29 dias.






Vai ser um dia produtivo no trabalho, vai...

Youth League às 14h, UEFA Futsal Cup às 16h, Liga dos Campeões às 19h45, e uma deslocação complicada da equipa de andebol ao pavilhão do Águas Santas às 21h. Vai ser um dia produtivo no trabalho, vai...


A greve, take 2

A APAF voltou à carga e anunciou uma nova greve dos árbitros para a próxima jornada da Liga. Mas é uma greve muito especial: não é suposto abranger toda a classe, havendo apenas alguns árbitros que se declararão indisponíveis para apitar no próximo fim-de-semana. Nem seria de esperar outra coisa desta classe submissa, que no seu historial realizou apenas um boicote contra um único clube, o Sporting - por motivos ridículos quando comparados com outros episódios bem mais graves que vão acontecendo todos os anos -, pelo que nunca se atreveria a fazer uma greve a sério em fim-de-semana de Porto - Benfica.

Ontem, o Record revelou que, afinal, a única consequência da greve será...


... a inviabilização do VAR.

Portanto, podemos concluir que a classe dos árbitros não é apenas cobarde e submissa: é também muito pouco inteligente. O VAR, apesar das falhas registadas, tem sido aquilo que tem impedido o desempenho geral da arbitragem de ser um desastre completo - viu-se como foi na Taça. Os árbitros estarem a abdicar propositadamente dessa ferramenta para marcar uma posição é o maior tiro nos pés que poderiam dar. A não ser, claro, que o objetivo seja boicotar o VAR, por estar a expor de forma ainda mais evidente a falta de competência de certos árbitros e dificultar a vida aos que têm determinadas missões a cumprir...

terça-feira, 21 de novembro de 2017

O Benfica apresenta "O Novo Apito Dourado"

O Benfica estreou ontem um programa que, supostamente, serve de resposta às sessões semanais de tortura a que têm sido submetidos todas as terças-feiras no Porto Canal, desde que Francisco J. Marques passou a divulgar os famosos emails. O formato escolhido é semelhante ao do Universo Porto da Bancada, com um painel formado por quatro pessoas: Luís Costa Branco, o pivot; José Marinho, diretor-de-qualquer-coisa-na-comunicação-do-Benfica; António Rola, isento árbitro jubilado e especialista em recursos humanos; e António Bernardo, comentador da BTV.

Tive oportunidade de ver a parte do programa dedicada a este tema, e acho pertinente fazer alguns comentários em relação ao que vi, tanto no programa propriamente dito, como em relação às reações que se sucederam à sua emissão.


O conteúdo

Foram divulgados alguns nomes da estrutura portista que, segundo o programa, têm como missão movimentar-se nos bastidores do futebol português para conseguir obter determinados tipos de benefícios, utilizando vários métodos supostamente ilícitos. José Marinho deu alguns exemplos, como os Super Dragões serem utilizados como uma espécie de braço armado para intimidar os árbitros e respetivas famílias, a existência de ligações próximas entre um elemento da estrutura portista - António Perdigão, conselheiro para assuntos de arbitragem - e o motorista assignado pela AF Porto ao árbitro Rui Costa, ou a existência de telefonemas feitos por Pinto da Costa a um árbitro internacional para tentar acabar com a greve anunciada (e entretanto cancelada) há algumas semanas. Disse também ter em sua posse um email enviado por um alto dirigente da FPF a um alto dirigente do Porto, onde terá havido divulgação de informação confidencial. Recuperou ainda alguns episódios que já eram do conhecimento público, como as alegadas pressões de Luís Gonçalves sobre o árbitro Tiago Antunes.

Sabendo que o Porto atual continua a ter a mesma liderança que tinha nos anos 80, 90 e no Apito Dourado, não me custa absolutamente nada a acreditar que exista um fundo de verdade nas situações relatadas. O problema é que, não havendo provas, não havendo testemunhos, não havendo nada de concreto para suportar as suspeitas lançadas, tudo o que foi dito não passa de uma mão cheia de nada. Enquanto o Porto tem revelado situações claras de ilegalidade - de tráfico de influência e, potencialmente, de corrupção -, devidamente suportadas pelos emails, o Benfica estabeleceu apenas ligações que poderão ser consideradas suspeitas, mas sem concretizar a existência de qualquer ilegalidade. 

Se o Benfica tem mails e outras provas documentais em seu poder, convém que as mostre de imediato - caso contrário, não se augura grande futuro para esta iniciativa. Enquanto não houver nada de concreto para exibir, a única coisa que o Benfica conseguirá retirar deste programa é uma forma de tentar marcar a agenda mediática nos órgãos de comunicação social - com a prestimosa colaboração dos serviçais do costume (ver ponto seguinte) - e, em particular, dos programas de segunda-feira à noite. De qualquer forma, o principal objetivo do programa está longe de ser atingido.


Os serviçais

Não deixa de ser engraçado - apesar de não ser nada surpreendente - que o jornal A Bola, que durante semanas ignorou por completo as revelações feitas no Porto Canal sobre o polvo encarnado, não tenha perdido tempo a servir de caixa de ressonância sobre O Novo Apito Dourado. Às 18h30, ou seja, meia-hora depois do início do programa (que teve uma duração total de cerca de 90 minutos), o site do jornal já estava a reproduzir conteúdos revelados pelo Benfica:


Será de esperar uma postura inversa do jornal O Jogo. Não deverão ignorar por completo o programa da BTV, mas para já, no site, o destaque dado é mínimo.


Estão bem uns para os outros. Isenção é coisa que não abunda em qualquer um dos jornais.


E o Sporting, no meio disto tudo?

Vale a pena recordar algo que Horácio Piriquito, ex-membro do Conselho Fiscal da FPF, escreveu a Pedro Guerra num dos emails que levaram ao seu pedido de demissão: 
"Muitas vezes são as associações que estrangulam ou beneficiam os clubes conforme os alinhamentos 'clubísticos'. Por isso as corridas do SLB e do FCP ao domínio das associações. Se uma associação é Portista pode atrasar os pagamentos a um clube alinhado com o Benfica, e vice versa."

Estas frases, escritas em contexto de conversa privada entre camaradas afetos ao Benfica e amigos de longa data, demonstra bem que Os dirigentes de Benfica e Porto são os grandes cancros do futebol português. É um complemento elucidativo aos escândalos do Apito Dourado e do polvo encarnado - e, eventualmente, deste Novo Apito Dourado -, que em conjunto demonstram que existem dois clubes dispostos a fazer de tudo fora de campo para facilitar a vida dentro das quatro linhas. 

Comparado com isto, a denúncia caluniosa de Paulo Pereira Cristóvão é uma brincadeira de crianças - e, apesar disso, Paulo Pereira Cristóvão foi forçado a sair do Sporting no espaço de poucas semanas. Por sua vez, os presidentes de Benfica e Porto, enfiados até às orelhas nesta podridão, têm sido reeleitos sem contestação.

Mesmo não ganhando campeonatos há tanto tempo, é tão bom ser do Sporting...

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

VAR fora, dia santo na loja

Fim-de-semana alargado com mais uma eliminatória da Taça de Portugal, e a arbitragem portuguesa retomou a sua atividade presenteando-nos com exibições ao nível daquelas que tinha feito antes da paragem para os compromissos das seleções: miserável.

Em três jogos envolvendo os grandes do futebol português, não houve um que não tivesse pelo menos um erro grosseiro. Não vi os jogos dos nossos rivais, pelo que não posso afirmar que cometeram erros a beneficiar exclusivamente uma das equipas - os únicos lances que vi foram o da expulsão perdoada a Alex Telles e o do penálti perdoado a Varela -, mas o facto é que existiram decisões mal tomadas que poderão ter tido influência no resultado final.

No entanto, posso falar do que vi in loco em Alvalade e, mais tarde, pela televisão: uma quantidade desproporcionada de erros a favorecerem exclusivamente uma das equipas - não surpreendentemente, o adversário do Sporting.

A meio da primeira parte, ficou por marcar um penálti sobre Dost. O defesa do Famalicão não poderia ter sido mais óbvio no agarrão, prolongado e ostensivo, à camisola do holandês. Dos quatro pares de olhos da equipa de arbitragem que estavam no relvado, não houve um único que tivesse vislumbrado o sucedido.

Foi também óbvia a dualidade de critérios na marcação de faltas e na exibição de cartões, cumprindo-se mais um jogo que vai ao encontro de uma tendência já bem conhecida: os cartões saem com muito mais facilidade quando as faltas são cometidas por jogadores do Sporting. A partida terminou com 4 cartões amarelos mostrados a jogadores do Sporting (a maior parte por interrupção de ataques prometedores), contra apenas 1 mostrado a jogadores do Famalicão (nenhum por interrupção de ataque prometedor, e existiram vários).

Mas o lance mais inacreditável foi aquele que deu origem a uma grande penalidade marcada a favor dos visitantes:


Na mesma jogada, três erros consecutivos que acabaram por determinar uma oportunidade flagrante de o Famalicão reentrar na discussão do jogo: uma falta evidente sobre Battaglia que ficou por marcar imediatamente antes do cruzamento; posição irregular do jogador do Famalicão sobre quem é assinalado o penálti no momento do cruzamento; e não existe falta de Mattheus, pois é visível que não empurra o seu adversário - que, sentindo o braço do brasileiro nas suas costas, limitou-se a mergulhar para cavar a falta. 

Que a incompetência prolifera na arbitragem nacional, já todos sabemos. Mas fica difícil aceitar que se trata apenas de incompetência quando os erros acontecem todos a prejudicar o mesmo... porque, estatisticamente, seria expectável que pingasse um ou outro erro a prejudicar a outra equipa em campo.

Não é de estranhar que isto tenha acontecido numa competição em que não existe VAR. Não quer dizer que as arbitragens, com VAR, estejam a ser um modelo de isenção e competência - infelizmente, mesmo com VAR, continuam a cometer-se erros incompreensíveis -, mas ainda não tinha visto uma arbitragem deste calibre nesta época.

Acredito que, logisticamente, não seja possível à FPF ter VAR em todos os estádios nas primeiras eliminatórias, mas espero que Fernando Gomes anuncie a existência de videoárbitro, também na Taça de Portugal, já a partir dos oitavos-de-final. São só oito jogos, ou seja, menos do que uma jornada da Liga, pelo que não deverá ser difícil arranjar os meios humanos e tecnológicos necessários para que isso aconteça. E tem mesmo que acontecer, porque com os árbitros que temos, está mais que visto que não se pode facilitar.

sábado, 18 de novembro de 2017

Rui foi rei mais uma vez

A vitória de quinta frente ao Famalicão foi relativamente tranquila e não causou grandes sobressaltos ao coração sportinguista, mas devemos essa tranquilidade a mais uma enorme exibição de Rui Patrício. Assim se escreveu mais um capítulo de uma época em grande:



sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Fantasy journalism

As fantasy leagues (ou ligas virtuais) são um fenómeno cada vez mais popular entre os adeptos de vários desportos. O formato mais normal neste tipo de passatempos é bastante simples: cada pessoa dirige uma equipa e tem um orçamento para a formar, escolhendo um conjunto de jogadores que, ao longo da época, lhe irão dando pontos em função do seu rendimento nos jogos reais. O critério de escolha que cada pessoa segue costuma andar à volta das suas preferências pessoais (normalmente todos fazemos questão em incluir alguns jogadores da nossa equipa preferida) e da perceção dos pontos que cada jogador poderá dar ao longo da competição. Tudo isto, sempre dentro das limitações que os orçamentos impõem - nunca ninguém fica com todos os jogadores que escolheria caso não existisse qualquer restrição.

No jornalismo desportivo, e em particular no que diz respeito aos editoriais da nossa imprensa escrita, passa-se um fenómeno semelhante: quando escrevem, muitos diretores/subdiretores/adjuntos parecem limitados por determinados critérios à boa maneira das fantasy leagues, e não abordam todos os temas que deviam merecer a sua atenção - preferindo restringir-se a um sub-universo da realidade que coincide com os assuntos que não colocam em causa as suas crenças pessoais. Tudo aquilo que for demasiado delicado, é como se não existisse. É uma espécie de fantasy journalism à portuguesa.

Vem isto a propósito dos editoriais que Vítor Serpa e Nuno Farinha escreveram ontem n' A Bola e Record, no dia seguinte ao rebentamento do caso Piriquito:



Duas abordagens diferentes. Serpa foi direto ao tema do momento, mas, de forma relativamente habilidosa, dirigiu-o para onde mais lhe interessava: que os emails poderão não servir de prova; que os emails envolvem figuras menores e figuras mais representativas da administração; e que os responsáveis pelas ações condenáveis são gente pouco recomendável com quem a administração do Benfica não devia conviver nem deixar agir em seu nome.

Tudo isto é um enorme understatement. Primeiro, os emails poderão não servir de prova... mas também podem servir. Neste momento isso é irrelevante para a análise que deveria ser feita à atualidade. Segundo, o caso não envolve apenas figuras menores (suponho que se refira a Pedro Guerra) e figuras mais representativas da administração (suponho que se refira a Paulo Gonçalves): já mete administradores, como Domingos Soares Oliveira, e o próprio presidente Luís Filipe Vieira. Terceiro, a gente pouco recomendável a que Serpa alude é, quer queira, quer não, gente colocada pelas altas patentes do Benfica, de forma inteiramente consciente, para fazer precisamente o tipo de tarefas que os emails revelaram. Isso faz com que a administração e presidente sejam tão pouco recomendáveis como os indivíduos que contrataram para agir em seu nome.

Mas olhar para o editorial de Nuno Farinha é um exercício ainda mais fantasioso. Farinha não só ignora por completo a questão Piriquito e os emails que a levantaram, como tem a distinta lata de falar na redução da suspensão de Nuno Saraiva e do juiz que é adepto do Sporting e daqueles que usa cachecol e publica fotos no Facebook. No dia seguinte à demissão de um membro do Conselho Fiscal da FPF e do anúncio da federação de que vai entregar o caso à PJ, Nuno Farinha acordou repentinamente para o fenómeno do papel dos diretores de comunicação. Para piorar, usa como exemplo benfiquista um esclarecimento sobre uma falha no sistema de videovigilância da Luz - repito, no dia em que rebentou o caso Piriquito e em que houve uma exigência de demissão do Benfica de um juiz que nada fez de errado, Farinha escolheu dar como exemplo um esclarecimento sobre uma falha no sistema de videovigilância. Carlos Janela, ao ler tais argumentos, deve ter aproveitado para tirar notas para distribuir pela sua lista de contactos. Isto é o fantasy journalism elevado ao seu mais alto expoente.

A abordagem habilidosa de um e a abordagem descarada de outro têm, no entanto, uma coisa em comum: nenhum dos dois jornalistas aproveitou o seu espaço de opinião - que tanta vez é usado como local de critica cerrada ao Sporting e, em especial, a Bruno de Carvalho - para aquilo que, neste caso, seria o ponto essencial da análise ao que se passou no dia anterior: repudiar, de forma clara, as ações de Horácio Piriquito e do clube que dá guarida a Pedro Guerra. 

Para pessoas que se dizem tão preocupadas com o futebol português, é estranho que não o tenham feito. Infelizmente, já todos percebemos que as regras do fantasy journalism não são as mesmas que se usam no jornalismo sério.

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Meça o tráfico de influências

Crónica de José Diogo Quintela na edição de hoje do Correio da Manhã:



Manobra de diversão


A resposta do Benfica às revelações da revista Sábado que levaram à demissão de Horácio Piriquito não tardou, mas revelou-se um tiro de pólvora seca:

Na sequência da redução do castigo a Nuno Saraiva, diretor de comunicação do Sporting, o Benfica pede a demissão de um dos juizes do Tribunal Arbitral Desporto (TAD), no caso José Manuel Gião de Rodrigues Falcato, disse fonte do clube da Luz ao nosso jornal. 

José Manuel Gião de Rodrigues Falcato integrou o colégio arbitral precisamente indicado por Nuno Saraiva (cada uma das partes indica um elemento, havendo ainda um terceiro juiz), mas as águias alegam ligação ao Sporting com base na página de Facebook de José Manuel Gião de Rodrigues Falcato. 

Numa publicação do dia 1 de outubro, dia do Sporting-FC Porto, o árbitro do TAD surge numa `selfie` no Estádio de Alvalade, numa fotografia, levando alguém a perguntar-lhe: «Já perdeste o cachecol do Sporting? Estás mais bonito sem ele», pode ler-se, ao que José Manuel Gião de Rodrigues Falcato responde: «Ahaha... sempre verde... com ou sem cachecol.» 

«Perante os factos, não resta outra alternativa senão demitir-se», disse ao nosso jornal a mesma fonte encarnada. 

Recorde-se que o TAD analisou o recurso interposto pelo diretor de comunicação do Sporting, Nuno Saraiva, após o castigo inicial de 45 dias imposto pela Federação portuguesa de futebol (FPF), e decidiu reduzir essa punição para nove dias.

Nuno Saraiva tinha recebido este castigo pelas suas declarações após o jogo com o Vitória de Setúbal, para a Taça da Liga, onde criticou o árbitro Rui Oliveira.

in abola.pt (LINK)


A argumentação benfiquista é ridícula: se o juiz do TAD é do Sporting e votou a favor da redução da pena de Nuno Saraiva, então deve demitir-se. É isto, e nada mais. Não há nenhum facto que demonstre que a decisão tenha sido errada, não há nenhum indício de favorecimento ilícito, não há conhecimento de nenhum pedido de favores, nem sequer demonstrações públicas de desrespeito por outros emblemas. Não há nada, que não seja a simples constatação de ser adepto do Sporting.

Se o critério fosse esse, não sobraria ninguém para ocupar este tipo de cargos: Fernando Gomes já foi administrador da SAD do Porto, Meirim é adepto benfiquista, e poderíamos seguir por aí fora. Seria uma razia total. Pior, ser-se adepto de outros clubes que não os três grandes não é suficiente para garantir isenção: há por aí adeptos do Barreirense e do Barcelona que são bem piores do que muitos benfiquistas...

Isto é apenas mais uma demonstração de que a comunicação benfiquista está completamente à deriva. Justiça seja feita: não é nada fácil defender-se o indefensável, pelo que a saída mais fácil acaba ser a criação de manobras de diversão para tentar desviar as atenções daquilo que é essencial. Infelizmente para Luís Bernardo e companhia, a carruagem começa a ganhar demasiada embalagem para ser travada com uns raminhos secos espalhados por cima dos carris.

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Obviamente, demitiu-se

"Tenho que me demitir? O que passou se?"

Desfecho inevitável. Pena apenas patético o comunicado que Horácio Piriquito escreveu para anunciar a sua saída do Conselho Fiscal da FPF. Os mails revelados pela Sábado demonstram uma completa consciência da gravidade do que estava a fazer, pelo que é escusado vir com conversas daquelas.


Não estará na altura de chamar os bois pelos nomes?

É um exercício interessante ver como os programas de informação dos diferentes canais deram a notícia do envio de documentos internos da FPF por parte de Horácio Piriquito para Pedro Guerra. A esmagadora maioria das peças identificou Pedro Guerra como sendo "um comentador ligado/afeto ao Benfica, o que é um eufemismo gritante:



Um comentador ligado/afeto a um clube é algo que pode ser utilizado para descrever João Gobern, Manuel Serrão, José de Pina ou até Rui Gomes da Silva (agora que já não faz parte da direção do clube ou da SAD), mas é curto, muito curto, para designar alguém como Pedro Guerra. A maior parte dos adeptos benfiquistas tenta fazer passar que Pedro Guerra nada tem a ver com o Benfica, mas toda a gente sabe que isso não é verdade: Pedro Guerra trabalha para o Benfica a tempo inteiro, recebe um salário do Benfica, o seu local de trabalho é em instalações do Benfica, usa a conta de email que o Benfica lhe forneceu, para tratar de assuntos que interessam, direta ou indiretamente, ao Benfica.

Está na altura de se começar a chamar os bois pelos nomes: Pedro Guerra é um elemento da estrutura do Benfica, pelo que é assim que deve ser descrito. Aquilo que faz, no âmbito das funções (sejam elas quais forem e tenham elas o nome que tiverem) que exerce no Benfica, implica o Benfica. Aquilo que determinará se o Benfica será ou não punido desportivamente - se se chegar à conclusão que existe um delito cometido por Pedro Guerra - dependerá, sobretudo, do tipo de crime que estiver em causa.

P.S.: A SportTV+ conseguiu a maior proeza de todas, que foi dar a notícia sem referir em algum momento os nomes de Horácio Piriquito, de Pedro Guerra e do Benfica. Isto é que é informação rigorosa e completa...

Mais um menino querido (ou o Piriquito que dá mais do que a patinha)

Excerto do artigo da edição de hoje da revista Sábado: LINK
O comentador Pedro Guerra recebeu durante vários meses documentos internos da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) relacionados com auditorias trimestrais, os quais não eram de divulgação pública. O acesso de Guerra a tais documentos apenas foi possível com a colaboração de Horácio Piriquito, gestor e membro do Conselho Fiscal da FPF, que lhe foi passando várias dessas auditorias.
Confrontada com os documentos em si, a Federação Portuguesa de Futebol garantiu à SÁBADO que os mesmos "são internos, sem acesso público". Questionada ainda se algum membro dos órgãos sociais poderia fazer a sua divulgação, a Federação insistiu: "São documentos internos da FPF".
Num dos emails trocados, em Setembro de 2015, depois de ter recebido mais um relatório da auditoria interna, Pedro Guerra, começando por agradecer o envio do documento - "que guardarei religiosamente e de forma confidencial, claro!", escreveu - quis saber a opinião do membro do Conselho Fiscal quanto a "uns devedores manhosos" os quais iriam deixar a Federação Portuguesa de Futebol "pendurada". "Não achas", questionou Guerra. 
Na resposta, Horário Piriquito, explicou que "muitas vezes são as associações que estrangulam ou beneficiam os clubes, conforme os alinhamentos ‘clubísticos’". Daí, continuou Horácio Piriquito, "as corridas do SLB e do FCP ao domínio das associações". "Se uma associação é portista pode atrasar os pagamentos a um clube alinhado com o Benfica, e vice-versa", acrescentou. É claro, disse ainda Horácio Piriquito, que "estas coisas nunca se podem escrever, só dizer e com pouca gente a ouvir".

As partes a negrito são de minha responsabilidade.

Infelizmente, já nada disto surpreende. A serem verdadeiros estes dados, tudo indica que estaremos perante mais uma situação de tráfico de influências, desta feita envolvendo um membro em funções dos órgãos sociais da FPF.


Fernando Gomes não pode fazer de conta que nada se passa, e tem de afastar imediatamente Horácio Piriquito da FPF.

Já agora, seria bom que a PJ aproveitasse a dica de Horácio Piriquito para olhar para a bandalheira que é o jogo de poder nas associações de futebol.

EDIT 11h06 - Entretanto a FPF já reagiu em comunicado:

"Comunicado da Federação Portuguesa de Futebol

1. A FPF tomou conhecimento no início da semana da possibilidade de documentos internos de controlo de gestão da Federação Portuguesa de Futebol terem sido partilhados com pessoas exteriores à FPF;
2. Por em causa poder estar a violação de segredo, a FPF denunciou o referido facto à Polícia Judiciária, disponibilizando-se para os procedimentos entendidos por convenientes;
3. O conteúdo da revista «Sábado», publicado esta quarta-feira online, aponta no sentido de os documentos internos da FPF terem sido partilhados por um elemento eleito para o Conselho Fiscal, pelo que a Direcção da FPF decidiu remeter nesta data, o conteúdo do artigo publicado para o Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol, apresentar queixa à Procuradoria Geral da República, por se tratar de eventual crime desta dependente, e requerer a realização de uma Assembleia Geral Extraordinária para discussão e votação da proposta de destituição de titular de órgão social da FPF, por violação grave de deveres estatutários."


A 'atitude' de Mathieu

Jérémy Mathieu deu ontem uma interessante entrevista ao programa Porta 10A, na Sporting TV. O jogador francês falou de vários temas, como a integração e adaptação ao Sporting e a Portugal, bem como as suas metas para a ponta final da sua carreira.

As palavras de Mathieu são um espelho da imagem que tem deixado nestes quatro meses ao serviço do Sporting: é um atleta altamente profissional, ambicioso e que, ao contrário do que muitos temiam,  veio para o Sporting totalmente motivado para continuar a conquistar títulos. Mathieu já foi campeão europeu e mundial pelo Barcelona, mas tem sido fácil perceber, pela sua postura em campo, que não veio para o campeonato português para usufruir de uma espécie de pré-reforma.

É sintomático que Mathieu tenha destacado a atitude como fator mais importante para se vencer no futebol. Se a sua qualidade enquanto central tem sido uma evidente mais-valia para o clube, aquilo que, a meu ver, tem conquistado os adeptos é, precisamente, a mentalidade demonstrada: mantém-se imperturbável sob pressão e não hesita em dar o exemplo aos colegas quando é preciso ir para cima do adversário.

Fica aqui um pequeno resumo da entrevista, preparado pelo Sporting Grande Jornal:


Não foi preciso muito tempo para percebermos o tipo de jogador que Mathieu é. A única incógnita que permanece - e que nunca se dissipará devido ao seu historial clínico - é a questão física. Mas se Mathieu conseguir evitar lesões graves durante estes dois anos de contrato e se mantiver a bitola exibicional ao nível que tem estado, "arrisca-se", de caras, a ser dos melhores centrais que já tive o privilégio de ver jogar no Sporting.


terça-feira, 14 de novembro de 2017

Dissecando a entrevista de Vieira, parte 4: Nuno Gaioso na linha de sucessão?

Os posts anteriores sobre a entrevista de Vieira limitam-se a apontar algumas mentiras e incoerências do presidente do Benfica, que têm o condão de passar sempre ao lado das análises da nossa atenta comunicação social, mas nada disso é particularmente relevante ou novo - tal como não é particularmente novo ou relevante o manancial de potenciais pérolas que poderão vir a ser relembradas num futuro mais ou menos próximo.

Uma das questões realmente interessantes que a entrevista abordou é a da sucessão de Vieira.

Acredito que Vieira, caso não tenha nenhum problema grave de saúde, não terá qualquer intenção de abandonar o cargo a curto ou médio prazo. Com as delicadas questões de índole particular das dívidas à banca e com o lastro de problemas (passados ou potencialmente futuros) com a lei, deixar de ser presidente do Benfica seria abdicar de um dos melhores escudos que este país tem para oferecer. Vale e Azevedo que o diga.

No entanto, Vieira nunca teve grandes problemas em falar da sua sucessão, e percebe-se porquê: é uma forma relativamente eficaz de não parecer demasiado agarrado ao lugar.

O episódio mais memorável nesta matéria aconteceu há cerca de 10 anos, quando Vieira anunciou, com toda a pompa e circunstância, que iria preparar Rui Costa para ser o seu sucessor:



Não foi preciso esperar muito para perceber que este anúncio de intenções não passava de uma forma de se aproveitar da popularidade do ainda então jogador - convém lembrar que Vieira, na altura, estava longe de ter a mesma segurança no cargo que tem atualmente. Rui Costa nunca teve perfil para ser um presidente à imagem de Vieira.

Na entrevista da semana passada, o presidente do Benfica voltou a abordar o tema:


As palavras finais de Vieira no vídeo acima são curiosas. Basicamente está a dizer que quem se quiser candidatar ao Benfica terá de pensar duas vezes porque os profissionais que ele colocou são insubstituíveis. Ou os meus, ou o caos. O desejo de dar continuidade à dinastia vieirista é clara, o que até é compreensível: nunca se sabe os problemas que poderiam aparecer caso uma pessoa não alinhada lhe sucedesse na direção do clube.

No período que antecedeu as últimas eleições, a imprensa avançava com dois candidatos a nº 2 de Vieira: José Eduardo Moniz e Nuno Gaioso. Acredito que a pessoa que Vieira tem em mente seja o último, porque a ligação com Moniz sempre pareceu uma espécie de casamento de conveniência.

Vieira e Gaioso na assinatura do protocolo com o Millonarios
Já a ligação a Nuno Gaioso, que é bastante mais jovem que Moniz, parece apresentar um potencial bem superior.  Para além de aparecer cada vez mais junto ao presidente e de estar a ganhar protagonismo nas AG's, é uma pessoa que vem do mundo da política e tem ainda um bónus nada negligenciável: é sócio do filho de Vieira na empresa Capital Criativo. Melhor que isto, do ponto de vista do atual presidente, é impossível.

Hoje, com os estatutos totalmente armadilhados, só um cataclismo impedirá que Vieira continue a ser eleito caso se apresente a votos - independentemente da oposição que lhe faça frente. E mesmo no caso de não se recandidatar, isto também se aplicará ao candidato que tiver a sua benção. É, por isso, bastante provável que Nuno Gaioso seja o próximo presidente do Benfica. Mais do que o desejo dos sócios, será o desejo de Vieira a determiná-lo. A principal dúvida que fica é quando é que isso acontecerá.