Após o empate do Porto na Vila das Aves e em véspera de um clássico Porto - Benfica, o jogo de ontem em Paços de Ferreira era um daqueles que o Sporting, simplesmente, não se podia dar ao luxo de não ganhar. O problema é que da necessidade à concretização vai alguma distância, sendo que, quando se joga na Mata Real, essa distância não costuma ser curta. O Paços não desiludiu e foi o adversário chato (no sentido de complicado) que costuma ser sempre que nos recebe, mas contra isso o Sporting soube mudar o chip da Liga dos Campeões e ser, desde o primeiro minuto, a equipa pragmática e concentrada que precisava de ser para sair de lá com os três pontos.
Vitória sem espinhas - o Sporting voltou para Lisboa com os três pontos porque fez em campo por merecê-los. O golo de Battaglia surge de uma jogada atabalhoada... mas totalmente legal, porque Bas Dost está atrás da linha da bola no momento em que o argentino faz o primeiro remate à baliza. Lamentável a postura dos comentadores de serviço da Sport TV ao dizerem de imediato que Dost estava adiantado - eles que, normalmente, costumam ser tão reticentes em apontar falhas da arbitragem -, quando as imagens, mesmo não sendo captadas do melhor ângulo possível, eram suficientemente esclarecedoras para comprovar a legalidade do lance. E depois, o golo de Gelson, a cruzamento de Fábio Coentrão é uma obra prima que acho que não terá o reconhecimento que merece. O trabalho a retirar o adversário do caminho antes do remate é absolutamente delicioso. Golos à parte, o Sporting também dispôs de bastantes mais oportunidades para marcar do que o Paços de Ferreira. A nota artística pode não ter sido muito elevada, mas a justiça da vitória do Sporting não pode ser beliscada de maneira alguma.
Gelson | 74' | Reveja aqui o 2º golo do @Sporting_CP! #seguejogo na SPORT TV. Adira já na sua box. pic.twitter.com/c4xnzBWVMr— SPORT TV (@SPORTTVPortugal) 26 de novembro de 2017
Savoir-faire na defesa, ou como o sucesso também se alcança através das quase-oportunidades - o normal, num jogo de futebol que oponha o Sporting a um adversário do nível do Paços de Ferreira no seu reduto, é que o Sporting tenha sempre mais oportunidades para marcar, independentemente de estar a atravessar uma época mais ou menos positiva. No entanto, em demasiadas ocasiões, o Sporting acabou por perder pontos graças a lances idênticos a vários que, por pouco, não aconteceram ontem. Vou tentar explicar-me melhor: o Paços teve três oportunidades para marcar em todo o jogo (uma das quais deu golo), mas teve umas três ou quatro quase-oportunidades que, noutros anos, teriam sido oportunidades de corpo inteiro e, com um elevado índice de probabilidade, poderiam mesmo parar apenas no interior da baliza de Rui Patrício. No entanto, ontem não passaram de quase-oportunidades porque temos uma linha defensiva extremamente competente a limpar vários tipos de lances complicados: é ver como Piccini e Coentrão fecham ao centro quando os cruzamentos/passes são feitos para o segundo poste, e como Mathieu (ontem Coates esteve abaixo do que é habitual) se transforma num muro quando um adversário entra na área com a bola controlada. Ações destas acabam por passar mais despercebidas do que os golos marcados, mas também têm valido muitos pontos esta época. São coisas que não costumam entrar nas estatísticas, mas que ontem, seguramente, nos garantiram a vitória.
Regressos - Acuña regressou à titularidade e fez um jogo regular, acabando por ser substituído perto da hora de jogo - suponho que a alteração já estaria planeada à partida, para não sobrecarregar o atleta. Bryan Ruiz também regressou, aumentando o lote de opções - e como o Sporting tanto precisava... - no banco. Não sei se este seria o momento mais adequado para o lançar: colocar um jogador que já não competia há 6 meses num jogo destes, com o resultado em aberto (o resultado estava ainda em 1-0), pode ter implicado alguns riscos que, felizmente, não se concretizaram.
O golo sofrido da praxe - no último mês e meio, o Sporting disputou 9 jogos. Em 6 jogos desses, sofreu pelo menos um golo nos últimos 5 minutos da partida. Uma estatística estranha de uma defesa que já demonstrou ser muito segura, mas que há-de ter alguma explicação lógica. Descompressão prematura? Desgaste físico? Azar? All of the above? Já vai sendo tempo de descobrir o motivo.
A jornada era complicada mas acabou por ser extremamente positiva: recuperámos 2 pontos em relação à liderança, com uma forte possibilidade de voltar a ganhar pontos a pelo menos um dos adversários diretos na próxima jornada. Mas primeiro há que não facilitar contra o Belenenses.