Ontem, no programa Quinta da Bola, um dos temas debatidos foi a polémica à volta dos pedidos de convites de políticos e dirigentes da FPF e Liga para assistirem a jogos de futebol. Isto vem na sequência da revelação dos emails sobre a solicitação de dois convites em nome do ministro Mário Centeno para a tribuna presidencial do Benfica, bem como os inúmeros bilhetes oferecidos por Paulo Gonçalves aos mais diversos agentes de futebol e que o coroaram, muito justamente, como o rei das borlas.
Aqui fica uma pequena parte do que foi falado:
Como seria de esperar, José Manuel Delgado acha toda esta questão absurda. Considera que há pessoas que, pelos cargos que ocupam, não se devem misturar na bancada com o resto dos espectadores por questões de segurança, que é bom para o futebol que as pessoas do futebol estejam próximas do futebol, e que ao estarem a afastar do futebol pessoas que gostam de futebol estão a causar danos ao futebol.
José Manuel Delgado utiliza um outro argumento: o de que é bom que as pessoas do futebol estejam próximas do futebol. A argumentação faria todo o sentido... se muitas dessas pessoas do futebol não andassem a solicitar bilhetes para acompanhantes. Se estiverem lá em trabalho, para observar o que se passa in loco (e é discutível que tenham de o fazer), por que motivo é que precisam de ir acompanhados pelos filhos ou amigos?

Depois há a questão de, segundo José Manuel Delgado, ser danoso para o futebol estar-se a afastar pessoas que gostam de futebol. Mas quem é que os impede de irem ao jogo por meios próprios? Não podem comprar bilhete? Têm mesmo de andar a pedinchar convites, dando sinais desnecessários de promiscuidade com clubes e dirigentes, dos quais se deviam manter equidistantes? Veja-se o caso de João Leal, responsável pelos registos e transferências da FPF, cujo nome tem aparecido em inúmeros emails de pedidos de convites para jogos do Benfica: gostava de saber se costuma ir muitas vezes assistir a jogos do Belenenses, Estoril ou Sporting... é que se a questão é unicamente o amor ao futebol, se calhar seria natural que fosse presença igualmente assídua noutros estádios da região de Lisboa.
Tentar fazer crer que tudo isto é natural, é estar a gozar com a cara das pessoas - ainda mais quando se conhecem as motivações de quem oferece os bilhetes ("o interesse exclusivo do SLB", segundo Paulo Gonçalves) e quando são desenterrados diariamente casos preocupantes de promiscuidade, tráfico de influências ou corrupção.
Compreendo que Delgado se sinta quase ofendido por se colocar em causa o direito à borla. Tanto compreendo, que gostaria que de lhe fazer uma pergunta: qual foi a última vez em que teve de pagar bilhete para assistir a um jogo do Benfica na Luz?