quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Combate contra o karma

A Taça da Liga continua a ser a menor das competições oficiais que o Sporting disputa. Não tenho nenhum desejo especial de vencer a Taça da Liga, pelo que não ficaria particularmente aborrecido se tivessemos sido eliminados ontem. No entanto, não se pode menosprezar a importância desta vitória (mesmo que em penáltis): uma eliminação - ainda mais na ressaca daquele empate em Setúbal - poderia ter um impacto psicológico profundo no plantel e nos adeptos numa fase em que se joga grande parte do sucesso da época. 

A exibição esteve longe de ser brilhante - o Sporting só esteve claramente por cima do jogo nos primeiros vinte minutos -, mas nunca senti que o adversário alguma vez nos tenha conseguido encostar atrás como aconteceu na Luz contra o Benfica ou em Alvalade contra o mesmo Porto. Ou seja, houve algum controlo dos acontecimentos por parte do Sporting, suponho que em parte por se saber que, indo a decisão para penáltis, teríamos melhores hipóteses do que o Porto para nos qualificarmos para a final. Uma vez nos penáltis, lá apareceu Rui Patrício a fazer o que costuma fazer...




O suspeito do costume - Rui Patrício não teve grande trabalho durante os 90 minutos regulamentares, mas quando a decisão foi para os penáltis, o Sporting parte quase sempre em vantagem tendo o guarda-redes que tem. São Patrício é um especialista nestas séries, e ontem voltou a prová-lo. Uma referência do clube a quem apenas falta o campeonato para subir ao estatuto de lenda.

Combate contra o karma - encarámos o karma de olhos nos olhos com as opções tomadas para bater os penáltis. Perdemos o primeiro round quando William falhou. Com enorme determinação (ou loucura?), fomos para um double or nothing com Bryan Ruiz... e ganhámos! Excelente para o clube, e excelente também para um jogador que não merece a etiqueta que lhe foi colocada por causa do golo que falhou há dois anos. E por falar em karma...


O "milagre" de Coentrão - se dúvidas existissem, nossas e do próprio jogador, em relação à capacidade física de Fábio Coentrão, ontem elas terão ficado definitivamente dissipadas. Não quer dizer que não possa haver um azar já no próprio jogo - knock on wood - mas o lateral tem ultrapassado com distinção a sequência de jogos consecutivos que tem realizado, sem nunca deixar de colocar tudo o que tem em lances divididos, e independentemente do adversário direto que lhe apareça pela frente. Ontem foi Marega, que, não sendo o mais jeitoso dos jogadores, é difícil de controlar pela sua força e rapidez, mas Coentrão voltou a fazer um grande jogo. Mérito do jogador, obviamente, e também do departamento médico de excelência que o Sporting tem à sua disposição.



Nota artística - a vitória foi saborosa, como é óbvio, mesmo que a exibição não tenha sido brilhante, de parte a parte. O Sporting rematou pouco à baliza de Casillas, dispondo de apenas duas verdadeiras oportunidades para marcar - cabeceamento de Coates ao poste e remate de Bruno Fernandes bloqueado por Telles -, mas o Porto, rematando mais em virtude de uma abordagem muito mais direta, conseguiu, na minha opinião, criar apenas duas grandes situações de golo - remate frouxo de Ricardo Pereira após boa jogada individual e a oferta de Mathieu a Aboubakar. Jogo tão transpirado como desinspirado, de parte a parte.

A arbitragem - a decisão de não assinalar penálti de Danilo sobre Dost é absurda. Dost está um pé adiantado no momento em que o cruzamento é feito, mas está a ser agarrado e abraçado muito antes de conseguir ter parte ativa no lance. Nestes casos, a lei diz que o penálti tem precedência sobre a posição de fora-de-jogo. A decisão de anular o golo a Soares é boa, porque o brasileiro parece efetivamente adiantado, mas não ficaria escandalizado se o VAR tivesse optado por validar o golo. De resto, a arbitragem foi fraquíssima, com um critério disciplinar enviesado que permitiu excesso de agressividade aos jogadores do Porto - como é possível, por exemplo, que Filipe não tenha sido expulso por aquela entrada bárbara sobre Rúben Ribeiro, que Oliver não tenha visto cartão ao acertar na cara de Battaglia, ou que William tenha visto o primeiro amarelo do jogo quando, minutos antes, Soares tinha sido poupado por agarrar Rúben Ribeiro quando este ia entrar na área? - mas excessivamente rigoroso na gestão das faltas e faltinhas - muitas assinaladas desnecessariamente, outras que foram erros óbvios, principalmente ao apitar várias faltas ofensivas de jogadores do Sporting que não existiram. Se o jogo foi fraco, em parte também se deveu à má condução de jogo de Nuno Almeida. 

A lesão de Gelson - já andava a ameaçar, ontem quebrou. Esperemos que não seja grave.

As opções para a marcação dos penáltis - nunca atacarei William por ter avançado para marcar o quinto penálti - é um jogador que nunca se esconde nestes momentos -, mas, que raio, já sabemos que está longe de ser um especialista no momento do remate à baliza. A decisão foi incompreensível e deve ter deixado o universo sportinguista à beira de um ataque de nervos, principalmente quando Montero e Bryan estavam disponíveis. 



Ao fim do terceiro clássico/dérbi da época, o Sporting continua invicto nas competições nacionais. O raciocínio sobre o que se evitou ao não perder também se pode inverter, ou seja, um sucesso sobre um adversário direto ajuda sempre a ganhar confiança, e creio que isso permitirá libertar algum vapor da muita tensão que existe nos adeptos e na equipa. Agora, convém que ninguém se esqueça que a vitória de ontem não servirá de nada se não vencermos a final, pelo que é preciso abordar o jogo de sábado com níveis máximos de concentração e sem qualquer displicência. 

Sendo a Taça da Liga uma competição em que nos tem acontecido de tudo - a forma inesperada como perdemos a nossa primeira final, o escândalo da Taça Lucílio Baptista, o episódio do dolo sem intenção, etc.), continuaremos o combate contra o karma defrontando a mesma equipa que nos derrotou na final da primeira edição da prova. Acredito que haja muita vontade nos jogadores em "vingar" o empate de sexta-feira passada, e, se assim for, ficaremos muito mais próximos de conquistar a Taça da Liga pela primeira vez no nosso historial.