A minha reação à notícia do alegado aliciamento de jogadores do Rio Ave por parte de empresários ligados ao Benfica foi, de certa forma, contraditória: por um lado, não me recordava de ter visto, nessa partida, de erros descarados de jogadores da equipa da casa; por outro, a época foi de tal forma escandalosa, que não me surpreende absolutamente nada que tenham existido movimentações no sentido de facilitar uma ou mais vitória - ainda mais numa época em que a famosa estrutura não podia, de forma alguma, perder o título para o Sporting de Jorge Jesus.
Convém lembrar, no entanto, que existem vários cenários hipotéticos em que o aliciamento de uns e a falta de erros descarados de outros possam ser compatíveis. Em primeiro lugar, o facto de ter havido aliciamento a jogadores não quer dizer que estes tenham aceitado o dinheiro que lhes tenha sido oferecido. Em segundo, nunca saberemos se, tendo os jogadores aceitado o dinheiro que lhes tenha sido oferecido, não estariam a reservar um erro flagrante para uma situação de extrema necessidade - o jogo só acaba com o apito final do árbitro, e a verdade é que, nessa época, muitos jogos se resolveram perto do fim. E há sempre a hipótese de cometerem erros impercetíveis. O mais natural é que não queiram dar demasiado nas vistas com erros demasiado óbvios, já que isso também pode complicar a sua carreira desportiva.
Quando, mais acima, me referi ao escândalo que foi a época, referia-me aos múltiplos jogos em que aconteceram infelicididades e erros grosseiros que, de uma forma ou de outra, ajudaram o Benfica a ganhar jogos.
Aconteceram também situações dessas em jogos do Sporting? Certamente que sim. Os benfiquistas lembram exaustivamente o penálti cometido por Tonel perto do fim, que caberia também numa lista dos casos mais estranhos, mas há uma diferença fundamental: enquanto no Sporting falamos de situações perfeitamente pontuais, no caso do Benfica a dimensão deste fenómeno foi absolutamete surreal.
Nos jogos do Benfica, não foram casos isolados, nem se restringiram a um determinado momento da época: aconteceram no início (desde a primeira jornada), no meio e no fim da época (até à última jornada); aconteceram em alturas em que o Benfica estava na perseguição ao líder, e em alturas em que o Benfica liderava isolado a classificação; e aconteceu haver jogos com erros pontuais (mas cirúrgicos) como jogos com epidemias de erros. Não quer dizer que tenham nascido de aliciamentos ilícitos, obviamente, e todos eles merecem o benefício da dúvida, mas que foram demasiados erros grosseiros e infelicidades, lá isso foram.
Aconteceram também situações dessas em jogos do Sporting? Certamente que sim. Os benfiquistas lembram exaustivamente o penálti cometido por Tonel perto do fim, que caberia também numa lista dos casos mais estranhos, mas há uma diferença fundamental: enquanto no Sporting falamos de situações perfeitamente pontuais, no caso do Benfica a dimensão deste fenómeno foi absolutamete surreal.
Nos jogos do Benfica, não foram casos isolados, nem se restringiram a um determinado momento da época: aconteceram no início (desde a primeira jornada), no meio e no fim da época (até à última jornada); aconteceram em alturas em que o Benfica estava na perseguição ao líder, e em alturas em que o Benfica liderava isolado a classificação; e aconteceu haver jogos com erros pontuais (mas cirúrgicos) como jogos com epidemias de erros. Não quer dizer que tenham nascido de aliciamentos ilícitos, obviamente, e todos eles merecem o benefício da dúvida, mas que foram demasiados erros grosseiros e infelicidades, lá isso foram.
Fiz um apanhado dessas infelicidades e erros. Aqui fica uma espécie de Best XI da época dos jogos 'estranhos' do Benfica, relembrando que bastaria que um destes jogos tivesse acabado empatado para o campeão ser outro.
Nota: nos jogos em que me refiro a erros de arbitragem, não houve quaisquer erros grosseiros a prejudicar o Benfica com o resultado em aberto, foi tudo num único sentido.
Nota: nos jogos em que me refiro a erros de arbitragem, não houve quaisquer erros grosseiros a prejudicar o Benfica com o resultado em aberto, foi tudo num único sentido.
1º - Marítimo 0 - Benfica 2, 33ª jornada
Penúltima jornada, última deslocação de risco do Benfica no campeonato, sem que houvesse qualquer margem de erro. Um empate significaria que o Sporting, que no dia anterior goleara o V. Setúbal por 5-0, avançaria para a última jornada na frente e dependente apenas de si próprio para se sagrar campeão.
Neste jogo, não há imagens disponíveis que possam resumir de forma completa aquilo que aconteceu. A jogar em vantagem numérica durante a maior parte do desafio em virtude da expulsão de Renato Sanches, vários jogadores pareceram ter desaprendido de jogar à bola. Viu-se de tudo: abdicaram de contra-ataques em vantagem numérica, os remates à baliza foram quase exclusivamente de meia-distância com uma probabilidade de êxito quase nula (e aqui estou a ser generoso ao colocar a palavra quase), e das poucas vezes em que entraram na área... mais valia que não tivessem entrado tal foi o desastre na finalização. Isto, repito, jogando mais de 50 minutos de 11 contra 10. Nunca se terá visto uma equipa abordar com tamanho desinteresse uma partida em que poderia deixar uma marca profunda no desfecho do campeonato. Apesar da vergonhosa abordagem ao jogo, ninguém ficou realmente surpreendido depois da festa antecipada que Carlos Pereira e Luís Filipe Vieira tinham feito ao almoço.
2º - V. Guimarães 0 - Benfica 1, 15 ª jornada
Numa jornada em que Sporting e Porto (que tinham 4 e 5 pontos de avanço, respetivamente, sobre o Benfica), a equipa de Rui Vitória necessitava de vencer para poder, por um lado, aproveitar a perda de pontos de pelo menos uma das equipas, e, por outro, não se deixar ficar ainda mais para trás face ao vencedor.
O Benfica ganharia por 1-0, beneficiando de uma quantidade inacreditável de erros grosseiros de arbitragem - TODOS em seu favor - da equipa chefiada por Carlos Xistra. Com o resultado em 0-0, aconteceu apenas isto: Eliseu devia ter sido expulso aos 18' por uma agressão clara, ficaram penáltis por assinalar por faltas de Fejsa (33') e Lisandro (51') - este último valeria o segundo amarelo e consequente expulsão ao central. Nos descontos, com o resultado já em 0-1, Jardel devia ter visto o segundo amarelo que o deixaria de fora na partida seguinte. O inenarrável desempenho de Carlos Xistra foi bem evidente também por um amarelo mostrado a Cafu que ficou para a história como um dos mais absurdos de sempre.
Foi um jogo em que a arbitragem ofereceu - intencionalmente ou não, deixo ao juízo de cada um - 3 pontos ao Benfica que foram fulcrais para manter a equipa na luta pelo título.
3º - Nacional 1 - Benfica 4, 17ª jornada
O desnível do resultado está longe de demonstrar as dificuldade por que o Benfica passou na partida, que se disputou ao meio-dia de uma segunda-feira em virtude do nevoeiro que caiu sobre a Chupana na noite anterior. Este jogo ficou marcada por uma arbitragem que foi decisiva no decurso da partida, que até nem tinha começado mal para o Benfica. Dois erros escandalosos, um mais desculpável, mas os três com influência decisiva no resultado.
No início da segunda parte, com o resultado em 0-1, Eliseu escapou inacreditavelmente (mais uma vez) à expulsão. Com o resultado em 1-1, Tiago Martins assinalou uma falta ofensiva absurda a Tiquinho Soares num lance em que tinha tudo para consumar a reviravolta no marcador. O Benfica aproveitou a benesse e alcançaria de novo a vantagem no marcador com um golo irregular de Jonas - por ter afastado com os braços o defesa que o marcava.
No final, a vantagem de três golos no marcador pode passar a ideia de uma vitória tranquila, mas que só aconteceu porque o campo foi decisivamente inclinado quando o resultado estava completamente em aberto.
4º - P. Ferreira 1 - Benfica 3, 23ª jornada
O jogo que consagrou o artilheiro Jonas como Jonas Piscinas. O padre Jorge Ferreira cometeu dois erros graves com influência decisiva no resultado: primeiro, quando, nos descontos da primeira parte, assinalou grande penalidade num mergulho de Jonas na área, que deu o 1-2 ao Benfica. E o 1-3, marcado por Lindelof, é precedido por uma falta de Jardel, que se pendurou ostensivamente num adversário para fazer a assistência para o sueco.
Não me recordo de alguma vez ter visto uma equipa a correr tantos riscos frente a um adversário superior. A passagem de Julio Velasquez pelo Belenenses caracterizou-se por uma vontade de sair o mais possível com a bola jogável, mas aquilo que aconteceu no jogo com o Benfica ultrapassou todos os limites da ideia de jogo, entrando no domínio da irresponsabilidade total. Não interessava se o Benfica pressionava ou não: os jogadores do Belenenses trocavam a bola entre si como se não existissem adversários atentos às suas ações, e o resultado foram inúmeras perdas de bola em locais proibidos. Um autêntico passeio para a goleada, como se não bastassem os acordos de cavalheiros existentes entre os dois clubes,
Ainda assim, não deixou de haver um erro de arbitragem com implicações no resultado: falta de Renato Sanches sem bola na jogada do 0-1, que desbloqueou o empate.
Logo a abrir, um sinal claro para aquilo que viria a ser a temporada do Benfica. Ao fim de 10 minutos, Tiago Martins já tinha perdoado uma grande penalidade a Luisão, com o resultado em 0-0. O Benfica acabaria por vencer por 4-0, mas a diferença de golos foi bastante enganadora: os tentos do Benfica apenas surgiram no último quarto de hora da partida, com o segundo golo a surgir de um penálti mal assinalado.
7º - Benfica 4 - Nacional 1, 34ª jornada
Erros a abrir, erros em alturas decisivas do campeonato, erros a fechar. Na última jornada, o jogo era de festa, mas era preciso que acabasse em vitória para a equipa da casa. Com o resultado em 0-0, Talisca falha um corte de cabeça e acaba por jogar a bola com a mão. Penálti que Nuno Almeida, carinhosamente conhecido por Ferrari Vermelho, decidiu não assinalar.
8º - Benfica 3 - Paços Ferreira 0, 6ª jornada
O resultado estava em 0-0. A única pergunta que se pode colocar é: como é que nem o árbitro Rui Costa nem o fiscal-de-linha viram o braço de Mitroglou a desviar a bola na marcação deste livre?
10º - Benfica 3 - Académica 0, 12ª jornada
Vitória por três golos, com os dois primeiros a serem obtidos de penálti. Comum a ambos: péssima, péssima abordagem dos jogadores da Académica. Infelicidade dupla.
11º - Tondela 0 - Benfica 4, 9ª jornada
Na ressaca da pesada derrota na Luz por 0-3 frente ao Sporting, era importante para o Benfica uma vitória categórica que ajudasse a repor os níveis de confiança. Por sorte, calhou na jornada seguinte uma deslocação a Aveiro para defrontar o Tondela, uma equipa que, quando defronta o Benfica, tem por hábito colocar níveis de agressividade inversamente proporcionais aos que emprega quando defronta Sporting ou Porto.
O jogo não podia ter corrido melhor, mesmo tendo Clésio a lateral. Ao fim de 10 minutos, o Benfica já vencia por 2-0: um primeiro golo em que o cabeceamento em balão de Jonas teve a sorte de apanhar um guarda-redes num momento de reflexos lentos e fraca capacidade de impulsão; e um segundo golo também de grande infelicidade para um defesa.
O jogo que consagrou o artilheiro Jonas como Jonas Piscinas. O padre Jorge Ferreira cometeu dois erros graves com influência decisiva no resultado: primeiro, quando, nos descontos da primeira parte, assinalou grande penalidade num mergulho de Jonas na área, que deu o 1-2 ao Benfica. E o 1-3, marcado por Lindelof, é precedido por uma falta de Jardel, que se pendurou ostensivamente num adversário para fazer a assistência para o sueco.
5º - Belenenses 0 - Benfica 5, 21ª jornada
Não me recordo de alguma vez ter visto uma equipa a correr tantos riscos frente a um adversário superior. A passagem de Julio Velasquez pelo Belenenses caracterizou-se por uma vontade de sair o mais possível com a bola jogável, mas aquilo que aconteceu no jogo com o Benfica ultrapassou todos os limites da ideia de jogo, entrando no domínio da irresponsabilidade total. Não interessava se o Benfica pressionava ou não: os jogadores do Belenenses trocavam a bola entre si como se não existissem adversários atentos às suas ações, e o resultado foram inúmeras perdas de bola em locais proibidos. Um autêntico passeio para a goleada, como se não bastassem os acordos de cavalheiros existentes entre os dois clubes,
Ainda assim, não deixou de haver um erro de arbitragem com implicações no resultado: falta de Renato Sanches sem bola na jogada do 0-1, que desbloqueou o empate.
6º - Benfica 4 - Estoril 0, 1ª jornada
7º - Benfica 4 - Nacional 1, 34ª jornada
Erros a abrir, erros em alturas decisivas do campeonato, erros a fechar. Na última jornada, o jogo era de festa, mas era preciso que acabasse em vitória para a equipa da casa. Com o resultado em 0-0, Talisca falha um corte de cabeça e acaba por jogar a bola com a mão. Penálti que Nuno Almeida, carinhosamente conhecido por Ferrari Vermelho, decidiu não assinalar.
8º - Benfica 3 - Paços Ferreira 0, 6ª jornada
O resultado estava em 0-0. A única pergunta que se pode colocar é: como é que nem o árbitro Rui Costa nem o fiscal-de-linha viram o braço de Mitroglou a desviar a bola na marcação deste livre?
9º - Braga 0 - Benfica 2, 11ª jornada
Jogo de risco que o Benfica começou da melhor maneira, marcando dois golos no primeiro quarto de hora. No entanto, o segundo golo nasce de uma falta grosseira de Jardel, que abalroa Alan numa disputa de bola aérea. Como é possível Hugo Miguel não ter assinalado esta infração?
Jogo de risco que o Benfica começou da melhor maneira, marcando dois golos no primeiro quarto de hora. No entanto, o segundo golo nasce de uma falta grosseira de Jardel, que abalroa Alan numa disputa de bola aérea. Como é possível Hugo Miguel não ter assinalado esta infração?
10
10º - Benfica 3 - Académica 0, 12ª jornada
Vitória por três golos, com os dois primeiros a serem obtidos de penálti. Comum a ambos: péssima, péssima abordagem dos jogadores da Académica. Infelicidade dupla.
11º - Tondela 0 - Benfica 4, 9ª jornada
Na ressaca da pesada derrota na Luz por 0-3 frente ao Sporting, era importante para o Benfica uma vitória categórica que ajudasse a repor os níveis de confiança. Por sorte, calhou na jornada seguinte uma deslocação a Aveiro para defrontar o Tondela, uma equipa que, quando defronta o Benfica, tem por hábito colocar níveis de agressividade inversamente proporcionais aos que emprega quando defronta Sporting ou Porto.
O jogo não podia ter corrido melhor, mesmo tendo Clésio a lateral. Ao fim de 10 minutos, o Benfica já vencia por 2-0: um primeiro golo em que o cabeceamento em balão de Jonas teve a sorte de apanhar um guarda-redes num momento de reflexos lentos e fraca capacidade de impulsão; e um segundo golo também de grande infelicidade para um defesa.