terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Vitória hardcore

Começa a ser uma ciência: quando o Sporting ganha à tangente, pode-se aferir a importância da vitória e o nível da azia dos rivais pelo tempo que o presidente do clube adversário passa na sala de imprensa após o final da partida. Nesse sentido, considerando que defrontávamos uma espécie de Benfica C (sendo que o Braga é o Benfica B e o Benfica B é o Benfica D), o jogo de ontem não poderia ter terminado de forma mais apropriada para testar a teoria acima exposta. Golo marcado nos descontos dos descontos dos descontos que deu direito a um presidente na sala de imprensa a mostrar fotos de mazelas de jogadores em lances perfeitamente limpos e a barafustar com a compensação de tempo demasiado esticada por João Capela (aqui com alguma razão, admita-se). Sendo esse presidente um benfiquista assumido que tem o condão de contagiar esse benfiquismo aos treinadores e jogadores que lidera sempre que a sua equipa defronta um grande - principalmente quando o adversário é o Benfica - é fácil compreender a sua a frustração - não tanto pelo ponto perdido - que não lhe deverá fazer particular falta, considerando que o objetivo da manutenção está bem encaminhado -, mas sobretudo pela mala que voou e pela impossibilidade de um certo rival do seu adversário poder assumir o segundo lugar isolado na classificação. Há dias assim.

Foto: Vítor Parente / Kapta+ (zerozero.pt)



Até ao fim - as circunstâncias eram bastante desfavoráveis: havia o desgaste acumulado durante a semana com duas viagens intercontinentais e uma partida exigente, e, para piorar, um dos poucos jogadores poupados a esse esforço foi expulso, deixando a equipa em desvantagem numérica durante meia-hora. Jesus preferiu não mexer na equipa e colocou William como central improvisado. Como seria de esperar, o Sporting não foi capaz de fazer um final de partida tão esclarecido como seria desejável, mas nem por isso deixou de criar ocasiões para marcar. Foi um daqueles jogos ganhos com o coração, graças à superação de esforço de todos os que estavam em campo. Vitória hardcore, mas inteiramente merecida.

A importância de ter Dost - marcou mais um golo que foi só encostar, correspondendo a um magnífico cruzamento de Acuña, mas o holandês teve participação decisiva na construção da jogada, fazendo a ligação com Bruno Fernandes (que depois faria o passe para Acuña) com um precioso toque em habilidade. Não marcou o segundo golo, mas também teve um papel fundamental na jogada ao servir Doumbia com um toque de cabeça em esforço. Ricardo Costa antecipar-se-ia ao costamarfinense desviando a bola para o poste, e Coates faria o resto. O regresso de Dost não podia ter corrido de melhor forma.

A resposta ao golo do Tondela - boa reação da equipa, que aumentou a velocidade de execução e a pressão sobre o adversário, encostando o Tondela às cordas. O golo de Dost surgiu com naturalidade, e a equipa poderia ter perfeitamente chegado ao intervalo em vantagem.



Equipa hardcore - Pepa prometeu e a sua equipa não o desiludiu. A partir do momento em que o Sporting começou a mandar no jogo, o Tondela entrou em modo castanhada e conseguiu superar largamente a média que faz deles a equipa mais faltosa da liga. 24 faltas, algumas delas bastante duras e que não nem sempre foram punidas em conformidade, que ajudará a subir a média de 18 faltas que tinham até esta jornada. Curiosamente, Pepa ainda não explicou em que ilha deserta ficou perdida a equipa hardcore no dia do jogo contra o Benfica, partida que apenas cometeram... 8 faltas. Uma equipa pouco séria, que tem por hábito ser das mais duras do campeonato, mas que estende a passadeira quando o adversário ao Benfica. A rábula do presidente do Tondela após o final do jogo foi a cereja no topo do bolo. Se há uma equipa que merece perder desta forma hardcore, o Tondela é seguramente uma delas.

(via @paravertudo)



A arbitragem - João Capela fez uma excelente arbitragem... até ao tempo de descontos da primeira parte. Deu apenas um minuto adicional (quando houve uma assistência que, sozinha, durou quase dois minutos) e nem deixou marcar um canto conquistado antes desse minuto adicional se ter esgotado. A segunda parte foi muito fraca, com erros para os dois lados. O mais falado é, obviamente, a extensão do tempo de descontos da segunda parte, que foi exagerado (apesar de não tão exagerado como se diz por aí, pois houve imensas paragens após os 90'). Mas, por outro lado, os quatro minutos de descontos, numa segunda parte que teve muitas paragens e substituições, foram compensação demasiado curta. Mathieu foi bem expulso, mas Pedro Nuno devia ter visto também ordem de expulsão - segundos antes tinha simulado uma falta sem ver amarelo, e a varridela a Rúben Ribeiro foi alaranjada. Pareceu-me haver um penálti por assinalar sobre Coates aos 73', mas infelizmente o VAR não fez a revisão desse lance. O amarelo a Murillo por simulação não faz sentido: apesar de não ter havido penálti, o desequilíbrio é natural face à pressão que estava a sofrer de ambos os lados. Coates devia ter visto amarelo por tirar a camisola nos festejos. Arbitragem obviamente negativa, mas não tão inclinada quanto os Benfica Press's da vida quererão fazer crer.

A expulsão de Mathieu - segundo amarelo bem visto, numa asneira pouco compreensível num jogador tão experiente. Esteve muito perto de comprometer decisivamente a conquista dos três pontos.



Nota artística: 4 até à expulsão, 3 no geral.

MVP: Bas Dost



Vitória hardcore, obtida no final de um tempo de descontos hardcore, contra uma equipa que prometia ser hardcore e foi efetivamente hardcore. Curiosamente, foi uma espécie de reedição do jogo de estreia do Tondela na I Liga, em casa emprestada... contra o Sporting, que também terminou em 2-1, com o golo da vitória a surgir aos 98'. Três pontos absolutamente fundamentais.