O Euro 2016 demonstrou que existem três condições fundamentais para podermos ambicionar uma longa participação no mundial que se avizinha: a primeira é um onze sólido, construído em função das funções defensivas da maior parte dos jogadores; a segunda é ter Cristiano Ronaldo saudável e não demasiado desgastado; e a terceira é o fator sorte, em especial na obtenção de emparelhamentos favoráveis na fase a eliminar. Tudo o resto é opcional, nomeadamente no que diz respeito à existência de processos ofensivos oleados.
Considerando o que aconteceu nos jogos disputados pela seleção, podemos dizer que este duplo compromisso foi um semi-sucesso, já que Cristiano Ronaldo demonstrou que, sendo servido em condições, não deixará de meter umas batatas nas redes adversárias. Confirmou-se também que, com a bola nos pés, a seleção continua a mostrar pouco ou nenhum fio de jogo e que Fernando Santos parece ser incapaz de oferecer ao nosso jogo ofensivo mais do que a soma das individualidades que estão em campo. O que correu mal foi a vertente defensiva, pois a seleção apresentou-se muito mais frágil do que se esperaria, apesar de haver as (importantes) atenuantes de nunca ter podido contar com Pepe e de a metade mais recuada do onze nada ter a ver com aquela que será utilizada quando começarem os jogos a doer.
No jogo de sexta, Fernando Santos teve oportunidade para verificar que a estrelinha está em forma, mas ontem esticou demasiado a corda, pois não há fada madrinha que consiga sacar um encantamento que resista ao onze escalado contra a Holanda: uma linha defensiva totalmente nova (Mário Rui em estreia, Cancelo é um lateral que é mais extremo do que defesa) e um meio-campo composto por jogadores redundantes - um onze que se preze não pode utilizar em simultâneo mais do que dois jogadores de um grupo formado por Adrien, Manuel Fernandes, André Gomes e Bruno Fernandes, quanto mais os quatro em simultâneo.
Acredito que, mesmo assim, Fernando Santos tenha conseguido retirar algumas conclusões sobre com quem pode contar e sobre quem deve descartar no momento de escolher os 23 que irão à Rússia.
Aqui ficam os meus dois centavos sobre quem escolheria para o mundial. Separo os 23 em indiscutíveis (aqueles que TÊM de ser selecionados) e abertos a discussão (eu levaria, mas admito que possa haver uma decisão diferente da minha). Nas alternativas estão aqueles que podem ser considerados.
GR: os três guarda-redes parecem-me completamente definidos. Nem sequer existe a necessidade de abrir o grupo a um elemento mais jovem, já que quer Rui Patrício quer Anthony Lopes têm ainda muitos anos de carreira pela frente - e não existe nenhum guarda-redes jovem que me pareça justificar essa prova de confiança.
Laterais: na direita, Cédric e Nélson Semedo parecem seguros. Cancelo não tem as características necessárias e creio que, com a exibição de ontem, deverá ter hipotecado as suas hipóteses. Aliás, creio que Ricardo Pereira deveria ser estar à frente de Cancelo na hierarquia de laterais. Na esquerda, admito que Coentrão não seja indiscutível devido à inconsistência da sua condição física.
Centrais: o setor em que temos mais problemas. Pepe é o único central de qualidade indiscutível. Fonte já provou formar uma boa dupla com Pepe, pelo que também deverá constar da lista final. Bruno Alves, na minha opinião, poderá ir... por falta de alternativas. Para mim, Rúben Dias seria também chamado, porque é urgente rejuvenescer esta posição, já com um olho no Euro 2020.
Médios defensivos: não me parece que existam grandes dúvidas aqui. Rúben Neves, a fazer uma boa época (no Championship, convém sempre lembrar), até poderá ser considerado, mas creio que só será chamado em caso de indisponibilidade de William e Danilo.
Médios de transporte: é, provavelmente, a posição em que mais concorrência existe. Considerando o momento de forma atual, só um jogador estará certo: Bruno Fernandes. João Mário, que é um dos elementos do núcleo duro da seleção, não deixará de fazer parte da convocatória se tiver um ritmo competitivo minimamente aceitável. Adrien, se continuar a ter poucos minutos, poderá ter problemas. André Gomes, para mim, já nem deveria ser hipótese. Moutinho garante melhor rendimento (ainda que também há muito não faça exibições verdadeiramente convincentes), e mesmo Manuel Fernandes e Pizzi deveriam ser considerados à frente do jogador do Barcelona.
Extremos / alas: Nani, com uma época pouco conseguida, não deverá conseguir fazer parte dos 23. Quaresma, Bernardo, Gelson e Guedes não só oferecem qualidades que poderão ser importantes em diferentes cenários de jogo, como também estão a fazer excelentes épocas nos seus clubes.
Pontas de lança: Cristiano Ronaldo e André Silva estão muito acima da concorrência. Não estou a ver Eder, o talismã de França, a fazer parte do grupo do mundial.
Quais seriam as vossas opções?