segunda-feira, 12 de março de 2018

As costas dos outros (@3295c_)

Novo texto do 3295C.



Seria uma injustiça para o treinador do Paços de Ferreira avaliar a atitude de Sérgio Conceição no final da derrota na Mata Real sem referir o seu comportamento e a forma como reagiu ao que foi dito. O mote ao enquadramento que se possa fazer dos três treinadores em termos de comunicação – aliás, Jorge Jesus já havia referido a sua importância na conferência de imprensa de antevisão ao encontro com o Tondela – é precisamente a perspectiva do treinador do FC Porto no duro golpe que sofreu ao perder vantagem na corrida ao título. Isto, uma jornada depois de uma vitória frente ao Sporting no Dragão.

Por isso, para não se incorrer em injustiças, basta referir o recado de João Henriques, que recordou precisamente as palavras de Sérgio Conceição do dia anterior: “Na antevisão, o treinador do FC Porto disse que éramos uma equipa organizada, mas agora já somos uma equipa que só faz anti-jogo. No encontro contra o Benfica, houve 48 minutos de tempo útil de jogo, hoje houve 40. Não foi assim tão diferente, temos de ser factuais. Percebo e respeito a frustração, mas nós fizemos apenas o nosso trabalho e um extraordinário jogo em termos de solidariedade, competência, atitude. Soubemos sofrer e tivemos a sorte do jogo. Curiosamente não se falou de uma grande penalidade que não existiu. Felizmente, porque preparamos os jogos, sabíamos para onde o Brahimi ia bater. Não foi ele que falhou, foi, sim, uma grande defesa do Mário Felgueiras”.

Aliás, as duas conferências estão ligadas ainda por outra ponta solta, talvez a mais relevante neste episódio. O cumprimento no final. João Henriques explicou que em tempo algum dera indicações aos jogadores para perderem tempo, contrastando com as insinuações deixadas por Sérgio Conceição: “Recusei [cumprimentar] porque vi o que ele estava a tentar passar aos jogadores para dentro de campo”. É a palavra de um contra o outro.

Esta não é a primeira vez que o treinador do FC Porto entra em guerra aberta com um colega de profissão. A última vez, com Rui Vitória, sentiu necessidade de vir explicar-se sobre o boneco do filho. É altamente provável que desta vez não seja diferente.

Com a vitória é fácil lidar. Nas derrotas, as coisas tornam-se naturalmente mais complicadas. O verniz estala aos menos preparados e hoje a comunicação é realmente importante, interferindo nos caminhos que o futebol tem seguido. Mesmo que Sérgio Conceição sinta que a sua frustração face ao resultado seja a justificação para se mostrar ultrajado com o comportamento do adversário, deixar alguém de mão estendida e gritar-lhe na cara – cujas posições podiam estar invertidas –, configura outra coisa. E não é preciso ser hipócrita, basta usar o bom senso sob pena, realmente, de se participar (activamente) numa vergonha.