Novo texto do 3295C.
Já se percebeu que o Benfica está a tentar curar um cancro com aspirina. A saída em liberdade de Paulo Gonçalves está perfeitamente enquadrada com as medidas de coacção previstas para os tipos de crime de que é acusado. E não são nada leves. Independentemente de ter tido autorização para voltar ao seu local de trabalho – quando no dia em que foi ouvido pela juíza de instrução saí na primeira página do i, reconhecidamente com critérios editoriais vermelhos, era apresentado como portista ferrenho –, tal não invalida que tenha de ir sentar-se no banco dos réus para ser julgado, respondendo às acusações que sobre si recaem, uma vez que se remeteu ao silêncio no referido interrogatório.
Informa a imprensa agora que as autoridades começaram a investigar a existência de mais duas toupeiras que passariam informações de processos, quem sabe novamente a troco de umas camisolas, umas visitas à tribunal presidencial da Luz, com direito a fotos com craques e presidente, cachecóis e outras benesses que, por amor de Deus, quem é que se vai vender por tão pouco!
Os mais fraquinhos continuam em negação e embarcam na ridícula teoria da cabala contra o Benfica, como se não fosse a sua máquina que controlasse os principais meios de difusão de propaganda contra os adversários e branqueamento do que se passa dentro da casa dos patrões.
O caso dos e-mails andou, durante muito tempo, demasiadamente escondido das páginas de muitos títulos e da antena de outras tantas rádios e televisões. Era o elefante na loja de cristais que uma esmagadora maioria da imprensa parecia querer ignorar, até o silêncio ter ficado realmente ensurdecedor.
Durante estes anos de denúncias, o Sporting, pela voz de Bruno de Carvalho, fez o papel do rapaz na história de ‘O Rei Vai Nu’. Pior para o Clube porque na história riem-se do rapaz. No caso do Sporting, atacam com mentiras para numa tentativa ímpia de descrédito do mensageiro, sem perceber que caem no ridículo por passar ao lado da mensagem, que é realmente o que importa.
Desde os vouchers que se anda a tapar o sol com a peneira, até se perceber, afinal, que o futebol já tem cancro de pele e que quanto mais se prolongar o facto de ter de se olhar de frente para os problemas e tentar resolvê-los, ao invés de acreditar que o tempo tudo cura e que as pessoas não terão memória para a pouca vergonha do que se anda a passar.
Comentadores afectos ao Benfica pelas televisões (todas) a tentar defender o indefensável. Até ouvi a extraordinária verborreia de um deles – não os identifico porque, no final, são todos iguais –, alegando que ele próprio não faz nada sem pedir favorzinhos, porque é assim neste país.
O rei vai nu e riem-se é do rapaz.
O pior que pode acontecer a algum prevaricador é o sentimento de impunidade. Cometer um crime e considerar que tem fortes possibilidades de sair sem problemas. Ter toupeiras em vários tribunais para conseguir informações de processos, mesmo a troco de uma só barra de Twix, não é apenas um crime de corrupção passiva e activa. Facilmente deve configurar associação criminosa. E enquanto ‘escaparem’ os Guerras e os Gonçalves desta vida, que não se pense que o chefe está a salvo. O seu envolvimento em toda esta trama está cada vez mais a ficar menos nublado (para ser modesto na apreciação) e no dia que ficar nítido para a polícia, leia-se haver provas, a queda será com estrondo. Ficaremos a saber quem é, de facto, o novo Vale e Azevedo do futebol português. Até parece as ligas a título experimental: alguém está a fazer o pleno. E se virmos bem, há um padrão:
Ligas da tanga
1934/35 FC Porto
1935/36 Benfica
1936/37 Benfica
1937/38 Benfica
Artistas
1982/… Pinto da Costa (33.º presidente)
1997/00 Vale e Azevedo (o original)
2003/… Luís Filipe Vieira (33.º presidente)
Já se sabe onde, provavelmente, irá cair o próximo messias. E para os portistas chocados com esta lista é porque não se recordam da fuga para Vigo e do pentelho processual que salvou o ainda líder depois das escutas que o país inteiro ouviu e que, para vergonha nacional, não foram incluídas como provas.
E ainda para os que querem responder com o idiota exemplo de Paulo Pereira Cristóvão, deixo só uma pergunta: que função desempenha cada um deles nos respectivos clubes no momento e quanto tempo demoraram a sair? Na resposta, encontra-se uma das gigantescas diferenças entre os três grandes, que mais não são do que aquilo que os seus adeptos quiserem que seja.