sexta-feira, 16 de março de 2018

De praga a inevitabilidade

Em dezembro de 2016, o Benfica perdeu com o Marítimo num jogo que ficou marcado pelas críticas encarnadas ao antijogo praticado pelos madeirenses. Na altura, vários órgãos de comunicação social pegaram no tema de forma quase indignada. Um dos jornalistas que escreveu sobre o assunto foi José Manuel Delgado:


O que se pôde retirar do artigo?

"A praga"

"Há que encará-lo [o problema de antijogo] de frente e agir em conformidade"

"isso não nos deve impedir (...) que estas [melhores práticas no controlo do antijogo] sejam aplicadas por via coerciva"

"Os árbitros não podem ser cúmplices do antijogo e quando o forem devem ser censurados e punidos"

Na altura escrevi sobre este artigo e mantenho a minha opinião: concordo com quase tudo com o que Delgado escreveu. A questão que na altura me incomodou foi: 1) o facto de a indignação generalizada se ter levantado na sequência de uma derrota do Benfica, quando, na realidade, o antijogo é um problema com barbas no futebol português; 2) o tom de indignação e de apelo a ações imediatas para resolver um problema antigo e nada fácil de resolver.

Ontem, na sequência da polémica levantada no final do Paços Ferreira - Porto por Sérgio Conceição, o programa Quinta da Bola debateu a questão do antijogo em Portugal. Apesar de estar no papel de moderador do programa, José Manuel Delgado não deixou de deixar passar a sua opinião sobre o assunto - seja através das perguntas que lançava, seja através de comentários que foi fazendo. Aqui fica um pequeno apanhado:


O que se retira daqui?

"Quem nunca pecou que atire a primeira pedra?", referindo-se às queixas de Sérgio Conceição

"Quando uma equipa tem um orçamento de 3 milhões e está a jogar contra outra que tem um orçamento de 60... o que está mal aqui é a equipa de 3 ou 4 milhões não ter os mesmos meios."

"Nos últimos anos, tem-se verificado que darem 6 minutos, 7 minutos, 5 minutos passou a ser muito mais normal, passou quase a ser recorrente, quando há 3 ou 4 anos andávamos ali nos 3 minutos, 4 minutos. Noutro campeonato qualquer isso não existe. Mas mesmo assim há um esforço dos árbitros."

"Junta-se a fome com a vontade de comer."

É particularmente delicioso ver que, em dezembro de 2016, todos estes argumentos apresentados ontem ficaram na gaveta ou não mereceram mais do que uma referência de passagem. A questão da diferença de orçamentos passou a ser uma atenuante importante, agora os árbitros estão a fazer um esforço mas em dezembro de 2016 não podiam ser cúmplices e deviam ser punidos. De uma praga que tinha de ser encarada de frente de forma urgente, passou a uma quase inevitabilidade que os árbitros têm tentado combater dentro do que as leis de jogo lhes permitem.

Quem o conheça que o compre.