terça-feira, 13 de março de 2018

Meio a zero

O cenário, à partida, era negro: uma deslocação complicadíssima ao campo do 6º classificado que, na época passada, foi uma espécie de coveiro dos nossos objetivos, e onde não ganhávamos há 23 anos. Só por isso, seria um desafio exigente... mas a isso juntou-se o fator desgaste (em virtude de acontecer no meio de uma eliminatória europeia, sendo a 18º partida que o Sporting disputou no ano civil de 2018, no espaço de apenas 68 dias, e que incluiu uma longuíssima deslocação ao inferno gelado do Cazaquistão), e o facto de alinharmos apenas cinco dos habituais titulares (e com uma lesão logo a abrir). Ao fim de um quarto de hora, estávamos com um lateral adaptado (Battaglia), um lateral e um médio de transporte sem rotinas (Lumor e Misic), sem o motor da equipa (Bruno Fernandes), sem o flanco esquerdo habitual (Coentrão e Acuña), e com a 3ª ou 4ª opção para ponta-de-lança (Montero, atrás de Dost e Doumbia, e não sei se não estará também atrás de Rafael Leão).

À medida que o tempo ia correndo, não havia forma de o cenário se desanuviar. O Sporting fez uma primeira parte péssima, e ia a caminho de fazer uma segunda parte igual... até ter entrado Dost.




A entrada de Dost - a sua entrada transformou o jogo. A sua mera presença permitiu ao resto da equipa ter um ponto em que se focar, deixando de ter um jogo completamente inconsequente e passando a ter capacidade de construir ocasiões para marcar. Mas se a presença de Dost impõe respeito, por algum motivo será, e o holandês fez questão de o demonstrar. Não se fez rogado na área e manteve a sua média de 50% de finalização: teve quatro oportunidades razoáveis para marcar e aproveitou duas. Matador.

Battaglia decisivo - defensivamente competente, ofensivamente ineficaz, acabou por ser um lateral à imagem de Piccini (apesar de o italiano estar, naturalmente, alguns furos acima). Acabou por ser uma das figuras do jogo graças a duas intervenções decisivas: evitando um golo do Chaves sobre a linha, e, após roubar a bola a Platiny, assistindo Dost para o segundo golo.

Três pontos, apesar das adversidades - por tudo aquilo que referi no início, parece-me óbvio que ganhar nestas condições é sempre bom, nem que seja por meio a zero. De facto, face ao nível exibicional, soube precisamente a isso, a uma vitória por meio a zero. Sofrida, mas nem por isso menos saborosa.



Primeira parte para esquecer - foi do pior que vi o Sporting fazer esta época, provavelmente a par da primeira parte na Amoreira e da segunda parte na Luz, graças à total incapacidade de ligação entre setores quando tínhamos a posse de bola. Montero era incapaz de segurar uma bola, William e Misic não conseguiam transportar jogo e revelaram pouco acerto no passe, Ruiz passou completamente ao lado do jogo, e Rúben Ribeiro e Gelson estavam com o complicómetro ligado. Ao ver a completa ausência de fio de jogo, fiquei na dúvida se estes jogadores alguma vez na vida treinaram juntos. Foi demasiado mau.

Segunda parte a lembrar Setúbal - do ponto de vista exibicional, a segunda parte foi muito superior à primeira. Dost entrou, marcou... e a partir daí construímos várias ocasiões que fomos desperdiçando, umas a seguir às outras. Num jogo apertado, comecei a recordar-me demasiadas vezes do que se passou em Setúbal. Felizmente, Dost voltaria a faturar e deu-nos a folga necessária para trazer a vitória para casa. Não fosse essa folga, e provavelmente teríamos mesmo repetido Setúbal.



MVP: Bas Dost

Nota artística: 2

Arbitragem: boa decisão de Hugo Miguel e de Fábio Veríssimo ao validar o primeiro golo de Dost, pois Nuno André Coelho está a colocar o holandês em jogo no momento do cruzamento de Rúben Ribeiro. Decisão mais discutível no penálti assinalado a Coates: o uruguaio coloca, de facto, a mão sobre o ombro de Djavan, mas não vejo que o tenha puxado ou empurrado. Djavan sente o contacto e deixa-se cair. Um penálti que NUNCA seria assinalado contra Benfica ou Porto. Dúvidas ainda para uma queda de William na área do Chaves. Infelizmente, a Sport TV não mostrou nenhuma repetição nem durante a transmissão, nem depois no programa Juízo Final.



Mais uma exibição sofrível que redundou num bom resultado. Curiosamente, temos perdido pontos em jogos em que fizemos exibições interessantes. Com esta vitória, voltamos a ficar a apenas cinco pontos do Porto e a três pontos do Benfica. Estamos de volta à luta pelo título? Na minha opinião, não. Continuamos de fora dessa luta. Talvez se tenha entreaberto uma nesga de uma janela de oportunidade para podermos ainda sonhar com isso, mas, pensando de forma racional, parece-me muito improvável: estamos a jogar muito pouco, os jogadores indisponíveis são mais que muitos, continuamos com um calendário preenchidíssimo - em contraste com os rivais -, as arbitragens são o que são, e estamos com um atraso que, não sendo irrecuperável, será complicado de recuperar face a dois adversários diferentes. Ainda assim, a esperança é a última a morrer, e quando estamos estenuados, pode ser importante ter qualquer coisa para nos agarrarmos perante um cenário extremamente adverso.