sexta-feira, 11 de maio de 2018

A estratégia do Sporting para os empréstimos obrigacionistas

O jornal Sporting publicou ontem uma oportuníssima entrevista com Guilherme Pinheiro, um dos administradores da SAD, sobre o ponto de situação dos empréstimos obrigacionistas do Sporting - tanto aquele que vencia agora e cujo prazo foi estendido por mais seis meses, como o novo empréstimo de 15 milhões que se emitirá de imediato.

Deixo para já a entrevista (carreguem na imagem para a ampliar), que é de leitura imprescindível para quem se interessa pelas contas da SAD, e farei alguns comentários logo de seguida.


Como é sabido, o Sporting tem, neste momento, um único empréstimo obrigacionista de 30 milhões. Deveria ser reembolsado precisamente agora, mas a SAD entendeu não estarem reunidas as condições ideais para o fazer devido à polémica que estalou recentemente. Percebo o racional que esteve por trás da decisão - não vou dizer que concordo ou deixo de concordar com ela porque não faço ideia de qual era o sentimento dos principais investidores perante a instabilidade que se gerou -, mas não posso concordar de forma alguma com Guilherme Pinheiro quando diz que esta conjuntura foi criada por terceiros. Sabemos bem que não foram terceiros. Adiante.


A ideia da SAD passa pela emissão de um empréstimo de menor valor (15 milhões, mas que poderá ser superior em função da procura por parte dos investidores) já este mês, com dois anos e meio de maturidade. Daqui a seis meses será emitido um novo empréstimo de 30 milhões para para pagar o atual, com maturidade de (suponho eu) três anos. O Sporting ficará então com dois empréstimos ativos, de 15 e 30 milhões, que vencerão, respetivamente, em novembro de 2020 e em novembro de 2021.

Um aumento substancial do nível de empréstimos obrigacionistas (de 30 para 45 milhões, no mínimo) nunca será por si só uma boa notícia, mas não terá de ser necessariamente uma má notícia. O balanço, positivo ou negativo, terá de ser feito em função da evolução do endividamento total. Se a este aumento corresponder uma diminuição igual ou superior dos empréstimos bancários e do factoring, então a evolução do panorama geral será positivo. Se, ao invés, a SAD não for capaz de abater em igual medida as restantes ferramentas de financiamento, então a evolução será negativa. 

Acredito que estaremos perante o primeiro caso, por dois motivos. Em primeiro lugar, porque Bruno de Carvalho explicou o seguinte no artigo que publicou no DN: 
"III - Sobre a emissão obrigacionista de 15 milhões e o adiamento de 30 milhões da Sporting SAD
1. A emissão de 15 milhões está alinhada com o acordo com os actuais bancos (NB/BCP) de permitir aumentos de dívida desde que no global a mesma não aumente;"

Portanto, há um compromisso com a banca em como a dívida total não será aumentada. Em segundo lugar, por causa da explicação que Guilherme Pinheiro deu para a emissão do empréstimo de 15 milhões já em maio:
"A finalidade da emissão que estamos agora lançar (...) é o financiamento da tesouraria da sociedade, operacional e também de serviço de dívida. O objetivo é dar-nos uma maior flexibilidade na gestão do mercado de transferências para tentarmos valorizar ao máximo os nossos activos e fazermos os melhores negócios possíveis para a sociedade. Essa flexibilidade é muito importante para conseguirmos os melhores negócios."

Isto significa que a ideia da emissão do empréstimo de 15 milhões em maio é, em parte, permitir que o clube não se sinta pressionado, por questões de necessidades de tesouraria, a vender à primeira boa oferta se entender que poderá conseguir um negócio melhor - não esquecer que estamos em ano de mundial, onde teremos um grande número de jogadores na melhor montra possível. Ao mesmo tempo, a SAD terá maior flexibilidade para atacar o mercado sem estar condicionado pela concretização das inevitáveis vendas. Na prática, o Sporting está a repetir a estratégia de contratações do último defeso: ter a maior parte das aquisições (e que aquisições) feitas a tempo do início da pré-temporada.

Com as mais-valias geradas pelas vendas, será então possível reembolsar empréstimos bancários de forma que a dívida global não aumente. Claro que, se no final, a dívida se mantiver no mesmo nível, não ficamos exatamente na mesma, pois os juros médios vão aumentar substancialmente. No entanto, isso será uma contrapartida perfeitamente razoável no âmbito da renegociação das condições de compra das VMOCs.

Tudo isto está interligado e no geral, se tudo correr conforme o planeado, entre dívida bancária, obrigacionista e VMOCs, não tenho dúvidas de que ficaremos muito melhor do que estávamos há dois meses.