Ricciardi pode dizer que o tempo não é para estagiários, pode dizer que é o banqueiro mais competente do mundo (apesar de os últimos anos terem dado provas mais que suficientes de que não é), pode dizer que é fundamental haver uma direção com muito know how ao nível financeiro (o que, não sendo o mais importante, é um requisito de que ninguém discordará), mas é mais que evidente que está completamente impreparado para ser presidente de um clube como o Sporting.
Se dúvidas existissem, basta ver o que foi dito pelo candidato na entrevista ao Record assim que pôs o pé de fora da questão financeira e do futebol masculino:
"O Sporting tem mais de 80 jogadores de futebol, até tem duas equipas de futebol feminino... Quer dizer, perdeu-se completamente a cabeça."
O Sporting passou recentemente a ter duas equipas de futebol feminino. Para além da equipa principal, bicampeã nacional e vencedora das duas edições da Taça de Portugal e da Supertaça, o Sporting criou agora uma equipa B que disputará o Campeonato de Promoção (2ª divisão) na época que agora está a começar.
Significa isto o aumento dos quadros com mais um plantel inteiro de jogadoras? Não. Ao contrário da ex-equipa B masculina ou da nova equipa sub-23 masculina, compostas por jogadores profissionais (muitos dos quais dedicados exclusivamente a essas equipas), o Sporting decidiu (e muito bem) criar a equipa B feminina única e exclusivamente para dar um contexto competitivo de futebol de 11 às atuais jogadoras juniores e juvenis, visto que o campeonato sub-19 apenas existe no modelo de futebol de 9, e o campeonato sub-17 apenas existe no modelo de futebol de 7.
Serão, maioritariamente, as jogadoras da equipa de juniores a disputar as partidas da equipa B. A treinadora da equipa B será a treinadora das juniores, Mariana Cabral. Não existirá um aumento de encargos com salários, porque as jogadoras que fizerem jogos na equipa B não receberão mais por isso. Os custos adicionais que o Sporting terá com a formação desta equipa serão, sobretudo, de natureza logística (deslocações, sobretudo, porque é prática comum irem e voltarem no próprio dia do jogo). Estaremos a falar de uma verba anual que, no máximo, rondará um par de dezenas de milhares de euros, ou seja, é bem provável que seja menos do que o que Ricciardi gastará mensalmente com apenas um dos administradores do seu board da SAD. Se é isto o seu conceito de se perder completamente a cabeça...
Mais: seria bom que Ricciardi tivesse noção de que nem sequer todas as jogadoras da equipa feminina principal são profissionais de futebol a tempo inteiro.
Com este pequeno desabafo, é fácil perceber a impreparação de Ricciardi para o que é realmente fundamental: a liderança desportiva. Não tem o conhecimento necessário nem quer saber. E convém que haja consciência do seguinte: se a parte desportiva correr bem, rapidamente a parte financeira (que não é tão desesperada quanto Ricciardi quer fazer crer) entrará nos eixos; mas se a parte desportiva correr mal, até pode ter os melhores especialistas do mundo a tratar das finanças... mas de certeza que continuará tudo igual ou pior do que está agora.