terça-feira, 14 de agosto de 2018

Insuficiências na construção

Um dos pontos que me causaram maior preocupação no jogo com o Moreirense foi as notórias dificuldades do Sporting no momento da construção. Isso, a meu ver, explica-se sobretudo por dois fatores: o duplo pivot que Peseiro coloca à frente dos centrais não tem capacidade para organizar e transportar jogo ou dar apoio em zonas mais adiantadas (Coates e Mathieu foram mais participativos do que Petrovic e Battaglia); e também a desinspiração de Nani e Acuña, sendo que no caso do argentino há a agravante de se ter alheado do jogo durante demasiado tempo (Jefferson foi mais extremo do que Acuña, que raramente teve intervenções úteis junto à área adversária).

Intervir muito no jogo não é sinónimo de intervir bem, mas intervir pouco não costuma ser bom sinal para a exibição de um jogador - nomeadamente se tiver responsabilidades na construção. E olhando para o número de toques por 90 minutos (o número de toques corrigido em função do tempo de utilização de cada jogador), vê-se claramente que os números confirmam essa perceção:


Toques na bola por 90 minutos vs Moreirense (Fonte: whoscored.com)

Por um lado, salta à vista o fraco nível de participação de Acuña em comparação com os outros jogadores de vocação mais ofensiva (deve excluir-se Dost desta comparação, pelas suas características específicas). É verdade que os número de toques de Raphinha e Jovane é empolado por terem sido muito mais solicitados no pouco tempo que estiveram em campo, mas, ainda assim, Acuña tocou na bola pouco mais de metade das vezes que os seus companheiros. 

Por outro, confirma-se que o centro do jogo ofensivo do Sporting passa muito pouco pelos homens que ocupam o miolo do terreno.

Heatmap vs Moreirense (Fonte: whoscored.com)

Petrovic raramente tocou na bola no meio-campo adversário. Battaglia jogou mais adiantado do que o sérvio, mas poucas vezes se aproximou da área do Moreirense. Jefferson, Bruno Fernandes e até Raphinha tiveram muito mais presença junto à linha de fundo do nosso flanco esquerdo do que Acuña.

E nem vale a pena falar na presença de jogadores na área. Foram poucas as ocasiões, bolas paradas excluídas, em que tivemos mais do que um homem em posição de finalização.

Parece-me evidente que a nossa produção ofensiva continuará a estar furos abaixo do necessário se não tivermos mais jogadores de apetência atacante. Contra o V. Setúbal, entre Raphinha, Jovane ou Matheus, pelo menos um terá de ser titular (no lugar de Acuña). E não me chocaria absolutamente nada se Peseiro apostasse de início em dois deles nos lugares de Acuña e Nani. 

Vamos ver o que decidirá o treinador no próximo sábado.