Aquilo que Matheus Pereira fez no último domingo não é admissível. Ao usar as redes sociais para contestar a opção do treinador está a desrespeitar a hierarquia e o colega que ficou com o lugar que Matheus julgaria ser seu. Por acaso, o jogador que, provavelmente, ficou com esse lugar - Jovane - teve um papel decisivo no jogo, mas isso nem sequer é importante. Matheus tem o direito de não ficar satisfeito, tem até direito em demonstrar ao treinador o seu descontentamento pela opção - desde que de uma forma correta e no local apropriado. Nunca através do Twitter durante o intervalo de um jogo que, ainda por cima, não estava a correr propriamente bem ao Sporting.
Peseiro criticou (e bem) a atitude do jogador na conferência de imprensa que deu após o final do jogo de Moreira de Cónegos, e colocou Matheus a trabalhar sozinho. Não posso opinar se o castigo é justo ou severo porque não sei quando vai acabar nem se mais alguma coisa ocorreu na sequência deste episódio. O que sei (e espero) é que o objetivo do castigo deve ter em mente, para além da defesa da disciplina no grupo de trabalho. o próprio desenvolvimento do jogador - que é um ativo do clube e um atleta de grande potencial. Espero, por isso, que a SAD esteja a agir no sentido de que Matheus perceba que não pode repetir a atitude após a sua reintegração que, desejavelmente, deverá acontecer a muito curto prazo. A conversa de que poderá ser dispensado não faz qualquer sentido porque seria uma penalização completamente desproporcionada face ao erro cometido.
Espero também que os castigos não aumentem ou diminuem em função do estatuto. Sérgio Conceição chegou ao Porto há pouco mais de um ano e teve sucesso na abordagem disciplinadora que colocou em prática porque não olhou a nomes no momento de agir: encostou jogadores como Casillas, Soares e Marega. Se Peseiro se armar em valente com jovens que estão em fase de afirmação no Sporting e, ao invés, meter o rabo entre as pernas caso haja algum episódio idêntico (nas redes sociais, em campo ou num treino) a envolver um jogador com outro estatuto, então não será líder de coisa nenhuma.
Espero que impere o bom senso com vista ao desenvolvimento de um talento que não nos podemos dar ao luxo de dispensar.
P.S.: percebo quem conteste este castigo face ao tratamento dado aos jogadores que rescindiram e regressaram, mas na minha opinião não são situações comparáveis. Esses jogadores rescindiram num contexto específico, que nada tem a ver com a gestão de um grupo de trabalho durante uma época desportiva, e entretanto chegaram a acordo com o clube para regressar. Do ponto de vista de quem gere o plantel, a questão das rescisões morreu aí, e não faria sentido que fossem mais tolerantes com acontecimentos como este de Matheus. Não agir seria meio caminho andado para termos o caos total no balneário numa questão de pouco tempo.