domingo, 26 de agosto de 2018

Tranquilidade debaixo de fogo

Já há alguns anos que não nos deslocávamos à Luz com um grau de favoritismo tão reduzido. Começando com a diferença de andamento entre Sporting (dois jogos oficiais e uma pré-época coxa) e Benfica (cinco jogos oficiais, incluindo três para as pré-eliminatórias da Liga dos Campeões), as lesões de Dost e (principalmente) de Mathieu, a indefinição na baliza após a lesão de Viviano em Moreira de Cónegos, e acabando nas fracas exibições que realizámos até agora em oposição a um rival capaz de chegar às balizas adversárias com relativa facilidade, tudo apontava para um final de tarde bastante complicado.

Felizmente o jogo acabou por não ser tão difícil quanto julgava à partida. Ainda que o Benfica tenha estado por cima do jogo durante mais tempo, o Sporting fez uma exibição bastante competente do ponto de vista defensivo e soube ser venenoso nas poucas vezes que conseguiu ter espaço para atacar a baliza de Vlachodimos e, inclusivamente, chegar à vantagem no marcador. Infelizmente, e à semelhança do que aconteceu na época passada, não conseguimos segurar a vitória, sofrendo perto do fim um golo que o Benfica fez por justificar.




Herói improvável - esperava que José Peseiro entregasse a baliza a Viviano ou Renan após o erro de Salin na jornada passada, mas o treinador acabou por manter o francês no onze. Em boa hora teve essa coragem, porque Salin fez uma exibição irrepreensível apesar do muito trabalho a que foi sujeito. Se o Sporting trouxe um ponto da casa do rival, deve-o à prestação de um guarda-redes a quem há umas semanas tinha dado guia de marcha. Ironias da vida.

O onze escolhido por Peseiro - José Peseiro já estava obrigado a mexer na equipa devido às ausências de Mathieu e Dost por lesão, mas decidiu ir mais além: colocou André Pinto ao lado de Coates, puxou Acuña para o centro do terreno, colocando Nani na esquerda e Raphinha na direita no apoio a Montero. As opções resultaram. A dupla Battaglia/Acuña funcionou bastante melhor do que as apostas anteriores em Petrovic e Misic, sendo que os extremos conseguiram dar o apoio defensivo necessário aos laterais. É justo referir que Jefferson esteve bastante concentrado e Ristovski, fora o lance do golo em que foi batido por João Félix, realizou uma excelente exibição. Bruno Fernandes foi também importante no equilíbrio defensivo, acabando por sacrificar muita da habitual influência ao nível ofensivo. Mesmo nunca tendo dominado, o Sporting raramente se deixou controlar até ao golo de Nani. Depois disso, no período em que o Benfica efetivamente encostou o Sporting à sua área, o melhor indicador de todos: a equipa revelou um nível de estabilidade emocional que me surpreendeu, mesmo nos momentos de maior pressão.

Boas indicações - Raphinha teve a sua estreia a titular e fez bom uso dos poucos momentos com bola que teve. Peseiro decidiu levar os talentos de Acuña para o centro do terreno durante os 90 minutos, e o argentino não se deu mal. André Pinto teve uma exibição bastante eficaz ao lado do imperial Coates (que jogo do uruguaio!), fazendo com que os sportinguistas não se lembrassem de Mathieu durante os 101 minutos da partida. 

Arranque acima das expectativas - um conjunto de circunstâncias faziam com que este arranque de época fosse previsivelmente penoso: a sangria que sofremos com as rescisões, o plantel desequilibrado, a pré-época aos soluços com um nível de competitividade muito aquém do necessário, reforços para lacunas importantes a serem concretizados com a época oficial já em andamento, a que se juntaram ontem lesões em jogadores-chave numa partida de elevado grau de dificuldade contra um adversário com um ritmo competitivo bastante superior em virtude do dobro dos jogos a doer que já realizaram. Ao nível exibicional, o arranque da época foi efetivamente penoso, mas, felizmente, os resultados não têm sofrido do mesmo mal: sete pontos nas primeiras três jornadas incluindo uma deslocação à Luz é um arranque que tem de ser considerado positivo face a tudo o que referi anteriormente. Resta agora a receção ao Feirense para terminar este primeiro ciclo de jogos. Sendo quase certo que a qualidade de jogo não irá melhorar significativamente até sábado, a verdade é que se conseguirmos mais três pontos, ficam criadas as condições ideais para que Peseiro aproveite as três semanas seguintes sem campeonato para integrar os jogadores recém-chegados e trabalhar os processos coletivos, que nos permitam depois atacar os desafios de outubro e novembro com uma equipa bastante mais sólida.



A substituição - Peseiro apenas mexeu na equipa aos 78' retirando o apagado e desgastado Bruno Fernandes para meter Petrovic. Percebe-se a vontade em segurar o resultado, mas o efeito da troca foi convidar o Benfica a instalar-se no nosso meio-campo. Não foi por culpa direta de Petrovic, mas a verdade é que resistimos apenas 6 minutos após a substituição. 

A CG na tribuna presidencial da Luz, as declarações exclusivas da CG à BTV, e a conferência de imprensa improvisada de Cintra no final do jogo - para já fica só a nota sobre os momentos degradantes e humilhantes que vivi ontem enquanto sportinguista. Falarei mais em detalhe sobre isto nos próximos dias. 



MVP - Salin

Nota artística - 2

Arbitragem - Bom trabalho de Luís Godinho. Cometeu alguns erros de menor importância, mas esteve muito bem no penálti assinalado e teve um critério disciplinar consistente. Os seis minutos de descontos (que depois se converteram justificadamente em onze) foram exagerados, considerando que não houve muitas paragens e que o Sporting apenas realizou uma substituição até ao momento em que a placa do 4º árbitro foi levantada.



Mais uma vez, o resultado foi melhor do que a exibição - mas a verdade é que se me tivessem oferecido este resultado antes de o jogo ter começado, teria aceitado sem hesitações. E, claro, é bem melhor estar a escrever isto do que a lamentar-me de que merecíamos um melhor resultado face a uma boa exibição realizada. A bem das aspirações que temos para o campeonato, há muitas coisas que têm de ser corrigidas... mas há tempo para isso, e é muito mais fácil fazer essas correções em cima de bons resultados.

De qualquer forma, foi um bom sábado: não estava nada à espera que o Sporting passasse a noite como um dos líderes do campeonato.