Artur Torres Pereira abandonou funções no domingo e não perdeu tempo a fazer publicamente o balanço do seu curto mandato de presidente do Conselho de Gestão e administrador da SAD. Ainda não teriam passado 24 horas após ter cessado funções, e deu entrevistas ao Record e à A Bola que foram publicadas na terça-feira. como o Record publicaram ontem entrevistas com o ex-presidente do Conselho de Gestão. Só tive oportunidade de ler a última e tenho alguns comentários a fazer em relação a alguns dos tópicos abordados.
O litígio com os jogadores que rescindiram
A Comissão de Gestão entendeu fazer um esforço para recuperar alguns dos jogadores que rescindiram. Resgatar Bruno Fernandes, Bas Dost e Battaglia foi uma atitude polémica - que poderá ser enterrada de vez ou novamente reacendida assim que forem conhecidas as contrapartidas dadas a jogadores e empresários no momento do seu regresso -, mas ninguém pode colocar em causa que foi muito vantajosa do ponto de vista desportivo e financeiro.
Agora, não vejo qual é a utilidade de Torres Pereira estar publicamente a dizer que o caminho a seguir no litígio com os restantes jogadores é a negociação com os clubes - e muito menos na linha do que fizeram com o Bétis, que terminou com a cedência de William por valores abaixo daquilo que seria razoável exigir. Mas o pior é ter definido um objetivo de 100 milhões, que me parece claramente insuficiente - pode corresponder mais ou menos ao somatório valor de mercado dos atletas em causa, mas não é suficientemente punitivo para quem se aproveitou da situação em que o clube se viu metido.
Se aceitarmos uma resolução apenas pelo valor do mercado, estaremos a incentivar os futuros Gelsons, Podences e Leões a rescindirem sem justa causa assim que quiserem voar para outras ligas, em conluio com os Mendes e os Wolverhamptons da vida. Não me parece definitivamente uma boa mensagem a passar para dentro e para fora do clube.
A presença na tribuna da Luz
Torres Pereira não está arrependido de ter marcado presença na tribuna presidencial do estádio da Luz. O argumento que utiliza é que não aceitou nenhum convite do Benfica por se terem ocupado lugares que, segundo os regulamentos da Liga, são um direito do clube visitante.
Balelas.
Está escrito em algum ponto do regulamento que os dirigentes visitantes têm de dar entrevistas ao canal do clube da casa? Está escrito em algum ponto do regulamento que os dirigentes visitantes devem receber uma salva em honra a um bom relacionamento entre os clubes que é insultuoso para qualquer sportinguista com o mínimo de memória?
A argumentação de que "os clubes têm de se entender por causa das receitas de que necessitam sejam geradas por uma indústria transparente"... é um disparate completo, considerando que do outro lado estava um clube metido em inúmeras suspeitas (e agora uma acusação) que fazem pressupor uma atitude que é tudo menos transparente. Um clube cujo presidente prometia, semanas antes, que iria fazer uma pequena loucura para ir buscar jogadores que tinham rescindido. Um clube que, há poucos anos, conspirou para nos tirar Bruma. Um clube que tem feito uma campanha ininterrupta contra dirigentes e funcionários do Sporting. Que espiou processos judiciais que apenas diziam respeito ao Sporting. Que alegadamente aliciou jogadores adversários para perderem e tirarem um título que o Sporting merecia pelo que fez em campo. Que tem um plano para dominar o futebol português nos bastidores em todas as suas vertentes.
Os empréstimos de Geraldes, Palhinha e Matheus
Daquilo que levou às saídas de Francisco Geraldes, João Palhinha e Matheus Pereira só conhecia as versões dos jogadores e a versão de José Peseiro. Não estava lá, pelo que com não posso ter a certeza do que se terá passado. Admito que pode ter havido um desfasamento entre as expectativas dos jogadores e o papel que o treinador estava disponível para lhes dar. Perante essa diferença, os jogadores terão pedido para sair e o seu desejo foi-lhes conseguido.
Sendo jogadores da casa e, sobretudo, tendo qualquer um deles mais qualidade do alguns que permanecem no plantel, penso que deveria ter havido um esforço maior de dirigentes e equipa técnica para os manter. Ainda assim, não sabemos se algum deles terá tomado alguma atitude mais impensada que tenha tornado impossível um entendimento com o treinador.
Não tendo eu conhecimento suficiente para concluir quem terá razão, apenas tenho uma coisa a dizer: não me parece que Torres Pereira devesse ter falado sobre isto apenas após a sua saída. Enquanto administrador da SAD, não lhe faltaram ocasiões para o fazer - aliás, os sportinguistas teriam agradecido os esclarecimentos -, mas guardar para depois da sua saída comentários sobre o assunto que acabam por pôr em causa o profissionalismo de ativos do Sporting parece-me uma atitude pouco corajosa e pouco responsável.