segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Dever cumprido

Não há muito que se possa fazer numa situação de transição entre um treinador que foi incapaz de tirar rendimento do plantel que tem para um treinador que necessitará de tempo para colocar em prática as suas ideias, que se desejam bem diferentes (para melhor, claro) daquelas que nos levaram a este ponto. Ao treinador que fica com a criança nas mãos durante este período apenas se pode exigir que não caia nos equívocos mais aberrantes e que vá conquistando os pontos em disputa, seja lá como for.

Nesse sentido, Tiago Fernandes pode dormir tranquilo com a consciência de dever cumprido. Não pôs nem podia pôr a equipa a jogar melhor apenas com um par de treinos, mas arriscou algumas alterações e fez o que pôde com aquilo que o jogo lhe deu e, com a colaboração do adversário, acabou por ser feliz e saiu dos Açores com três pontos preciosíssimos. Um desfecho que o clube agradece nesta fase tão turbulenta, pois é muito mais fácil corrigir o rumo em cima de vitórias.



Três pontos - nota artística baixa, mas o fundamental era obter os três pontos. Valeu-nos o sangue (duplamente) frio de Dost, ao ser obrigado a repetir a marcação do penálti, o hara-kiri de Patrick Vieira, e a irreverência de Jovane e o movimento anti-natura de Acuña no segundo golo. E não esquecer que foi alcançado em condições climatéricas pouco favoráveis, que contribuem para um aumento de aleatoriedade da forma como o jogo decorre.

Opções corajosas - Tiago Fernandes mexeu um pouco no esquema ao colocar Diaby no meio no apoio a Dost e lançou Lumor a lateral algo surpreendentemente, optando por colocar Acuña como extremo e recuando Bruno Fernandes para fazer a vez de um Gudelj mais adiantado. A opção de Diaby não resultou, pois raramente conseguiu fazer a ligação entre setores e nunca conseguiu explorar a profundidade. Lumor fez genericamente um bom jogo, mas teve responsabilidades repartidas no golo sofrido - sendo, ainda assim, um claro upgrade em relação a Jefferson. O treinador esteve bem ao mexer na equipa cedo: a troca ao intervalo de Jovane por Diaby melhorou o rendimento da equipa e o jovem extremo confirmou a apetência para ter impacto decisivo quando é lançado com o jogo a decorrer, com a assistência para o segundo golo. Acuña, que com as trocas posicionais feitas ao intervalo passou para a faixa direita, conseguiu uma exibição positiva da qual se destaca, obviamente, o golo da vitória.


Mais do mesmo - Peseiro saiu, mas o seu legado, para o bem e para o mal (infelizmente muito mais para o mal do que para o bem), tardará a desaparecer. Mais uma exibição desgarrada, pouco inteligente - tardou que a equipa percebesse que podia usar o forte vento a favor -, sempre muito mais em esforço do que em jeito, com muitos jogadores em subrendimento. Mais do mesmo, portanto.

A gestão dos últimos minutos - apesar de o Santa Clara estar com menos um, a equipa foi completamente incapaz de manter a bola afastada da nossa área nos minutos finais da partida. Várias situações arrepiantes que, com uma pequena dose de felicidade para o Santa Clara, poderiam ter dado o golo do empate e retirado dois pontos ao Sporting.



MVP - Acuña 

Nota artística - 2

Arbitragem - bom trabalho de Manuel Mota. Decidiu bem todos os lances de dúvida na área, incluindo o penálti sobre Dost e manteve um critério disciplinar coerente ao longo de todo o jogo. Em relação à expulsão de Patrick Vieira, os aplausos irónicos justificariam um amarelo, mas deverá ter havido algo mais que só o árbitro e o jogador saberão.



Três pontos fundamentais que nos mantém a dois pontos de Porto e Braga. Para a semana recebemos o Chaves e os dois primeiros classificados defrontam-se no Dragão. Numa fase destas, nas circunstâncias que vivemos, não faz sentido pensar de outra forma: tem de ser jogo a jogo.