Jornalistas. Comentadores. Treinadores. Ex-treinadores convertidos em pilotos de rally. Dirigentes de associações de treinadores. Praticamente uma semana após o consumar do facto, continua a aumentar a lista de personalidades ligadas ao mundo de futebol que reagem de forma chocada/indignada/estupefacção ao despedimento de José Peseiro do Sporting. Aguarda-se a todo o momento o comentário do presidente Marcelo Rebelo de Sousa sobre o assunto.

Os argumentos utilizados por estes sábios andam todos à volta do mesmo. Que Peseiro pegou no Sporting quando mais ninguém o queria fazer. Que tinha em mãos um plantel desfeito e dispôs de meios limitados para o reforçar. E que deixou o Sporting na luta por todas as competições. Nada disto corresponde inteiramente à verdade, sendo que por vezes a forma como alguns defendem Peseiro chega a ser aberrante.
Havia outros treinadores - superiores, na minha opinião - disponíveis para assumir o cargo no verão, mas no momento da verdade a recomendação de Jorge Mendes pesou decisivamente na decisão de Sousa Cintra. O plantel é desequilibrado, é verdade - sendo que Peseiro teve responsabilidades nisso -, mas continua a ter alguns dos melhores executantes da liga como Nani, Bruno Fernandes ou Mathieu, e, mesmo dentro desses desequílibrios, há qualidade mais que suficiente para fazer melhor figura contra a maior parte dos adversários que defrontou. Quanto ao clube estar na luta por todas as competições, devemos agradecer antes de mais ao número anormal de pontos que Porto e Benfica têm perdido para o campeonato. Na época passada, à 9ª jornada, o Porto tinha mais 4 pontos e o Benfica tinha mais 3 pontos.
Podia falar dos equívocos de Peseiro na formação e utilização do plantel. Podia falar na inabilidade comunicacional. Podia falar nas incompreensíveis teimosias de dar minutos a jogadores inúteis. Mas o que é realmente fundamental na avaliação da justiça do despedimento é a mediocridade exibicional que se observou sistematicamente, sem quaisquer perspetivas de evolução. Uma pessoa que veja o Sporting 2018/19 a jogar fica a questionar-se se os jogadores alguma vez treinaram juntos, tal é a incapacidade de entendimento que revelam em campo. Peseiro conseguiu a proeza de fazer com que o coletivo seja inferior à soma das individualidades, quando a sua tarefa e obrigação era alcançar precisamente o contrário.
Sabemos bem que se trata de uma revolta bastante seletiva. Sabemos bem que muitos dos que defendem Peseiro o fazem porque lhes dá jeito que o Sporting esteja em subrendimento - e esses não defenderão Rui Vitória caso o atual treinador do Benfica venha a ser substituído por Jorge Jesus.
Ao invés, até consigo compreender os críticos que reagiram em defesa de Peseiro por estarem formatados para defender a classe dos treinadores - que em Portugal são tradicionalmente o elo mais fraco, muitas vezes vítimas da incompetência de outros. Mas deviam refletir melhor, pois isso não se aplica a este caso. Independentemente do nível sucesso que o futuro treinador tenha, a decisão de despedir José Peseiro é totalmente acertada porque seria uma questão de pouco tempo (algumas semanas, um par de meses no máximo) para ficarmos fora da luta pelo campeonato.
O que faz mais sentido? Mudar enquanto ainda se vai a tempo de salvar uma época, ou esperar comodamente pelo desastre anunciado? A resposta é tão óbvia...