sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

O Silas é que a sabe toda

Não tinha percebido bem o sentido das palavras de Silas no lançamento do jogo de ontem quando disse que "Keizer está a aproveitar o trabalho de Peseiro", mas a verdade é que acabaram por ter o seu quê de proféticas. De certa forma, o Sporting que defrontou o Belenenses foi o menos Keizeriano e o mais Peseiriano desde que o holandês assumiu o cargo, pois durante a maior parte do tempo foi uma equipa divorciada da baliza, previsível nas suas intenções, lenta e trapalhona na execução.

Isso sentia-se dentro das quatro linhas e também na bancada: quando o Sporting foi para o intervalo a perder com o Nacional, notava-se que os adeptos nas bancadas confiavam que seria apenas uma questão de tempo até a reviravolta se concretizar; ontem havia incerteza no ar, fruto da incapacidade que a equipa revelava para criar situações de golo e também do mérito de um adversário muito personalizado que sabia exatamente o que fazer em campo para contrariar os pontos fortes leoninos.



3 pontos - havendo a possibilidade de recuperar o segundo lugar e sendo imperioso não deixar afastar mais o líder, era imperativo que o Sporting vencesse a partida, fosse lá como fosse. Não foi bonito, mas o essencial foi alcançado.

O regresso de Wendel - a antecipação da sua recuperação em relação à previsão inicial foi uma excelente notícia e Keizer não hesitou em entregar-lhe a titularidade. Wendel correspondeu e foi, a par de Nani, o elemento mais dinâmico do meio-campo. Muito bem na procura do espaço para receber a bola, decide e executa rapidamente com a bola nos pés. Faz parecer simples aquilo que, na realidade, não está ao alcance de muitos. Acabou por ser substituído a vinte minutos do fim numa altura em que estava mais desaparecido do jogo.

Pela positiva - Nani fez uma boa primeira parte, caindo de rendimento na segunda. Petrovic voltou a entrar muito bem, bem defensivamente e muito confiante com a bola nos pés. Acuña, apesar de raramente ter procurado a linha de fundo e de ter tido pouco acerto nos cruzamentos que tentou, compensou com a habitual intensidade e concentração defensiva. Mathieu foi mais uma vez Mathieu.

Os golos - a classe da jogada que envolveu oito jogadores no golo de Bruno Gaspar mereceu a felicidade do toque de Sasso que desviou a bola para o ângulo certo. O golo de Miguel Luís foi o melhor momento da partida - um remate espontâneo, forte e colocado, que surpreendeu Muriel e fez lembrar o ausente Bruno Fernandes. 



A exibição - foi a exibição caseira mais frouxa desde que Keizer pegou na equipa, muito afastada da filosofia que Keizer tem tentado implementar: sentido de jogo muito mais basculante do que vertical, ritmo imposto mais lento do que tem sido habitual, incapacidade de chegar à área adversária e pouquíssimas oportunidades de golo. Em certa medida, a fazer lembrar o pior do Sporting de Jesus na segunda metade da época passada. Há que dar mérito a Silas e aos seus jogadores, que chegaram a Alvalade como segunda defesa menos batida do campeonato, e demonstraram ser uma equipa muito organizada e que raras vezes se desequilibrou. Por outro lado, parece-me que o nervo e o talento de Bruno Fernandes fez muita falta, o que é preocupante - não podemos estar tão dependentes da inspiração de um jogador.

Apesar de decisivos... - Diaby e Gudelj assistiram Bruno Gaspar e Miguel Luís nos dois golos que valeram a vitória, mas o rendimento destes jogadores, de uma forma geral, ficou abaixo das exigências. Gudelj e Miguel Luís raramente conseguiram ligar o jogo com Nani e Wendel, e tiveram pouco acerto nos passes. Diaby fez um jogo pavoroso. Parecia estar numa peladinha de solteiros contra casados, alheando-se do que se passava no seu flanco quando o lateral do Belenenses subia, deixando frequentemente Bruno Gaspar em desvantagem numérica, e com bola teve várias decisões incompreensíveis - uma das quais comprometeu uma excelente ocasião de golo na primeira parte. Devia ter sido substituído quinze minutos antes. Quanto a Bruno Gaspar, teve mais um jogo pouco conseguido e continua a não convencer.

Desconcentração defensiva - no caso do golo do Belenenses, podemos falar mesmo em desleixo: Coates e Gudelj desistiram de acompanhar os dois jogadores do Belenenses que seguiam em velocidade pelo centro do terreno, deixando Mathieu e Acuña numa situação de desvantagem numérica de 2x3. Renan esteve muito mal no controlo da profundidade, decidindo ficar na área em duas situações perigosas que poderia ter anulado com facilidade caso se corresse na direção da bola.

Os assobiadores profissionais - não consigo conceber por que razão há pessoas que vão ao estádio para assobiar a equipa ao fim de... quatro minutos. QUATRO MINUTOS. Assobiam a equipa porque o adversário entra melhor no jogo. Assobiam Renan porque este tenta encontrar um colega a quem passar em vez de despejar para a frente. Assobiam Nani porque contemporiza à espera de opções de passe. Assobiam Nani quando tenta jogadas individuais. Um bocadinho mais de paciência não faria mal a ninguém.



Nota artística - 2

MVP - Wendel

Arbitragem - João Capela teve um jogo fácil de apitar, mas conseguiu complicar o seu trabalho com más decisões no julgamento de várias faltas a meio-campo e tendo um critério disciplinar incoerente na exibição de amarelos, principalmente nos quinze minutos finais.



Três pontos preciosos que nos permitem regressar ao segundo lugar e manter o Porto à vista. É imperioso vencer o Tondela na próxima segunda-feira para depois termos a primeira final da época na receção ao Porto no fecho da 1ª volta.