Bruno Fernandes sintetizou bem no final aquilo que foi o jogo de ontem: muitas responsabilidades próprias na forma como entrámos na partida, oferecendo 45 minutos a um adversário que não tinha qualquer intenção de jogar à bola perante a complacência de um árbitro que foi inclinando o campo na medida das possibilidades.
Começo pelas culpas próprias. Depois de um jogo fisicamente exigente em Vila-real em que estivemos praticamente meia partida em desvantagem numérica, seria de esperar que Keizer fizesse algumas alterações que assegurassem o nível de intensidade de que necessitávamos para ultrapassar uma equipa de Petit ao longo dos 90 minutos. O treinador não viu assim as coisas e fez uma única alteração: colocou em campo o seu onze preferido, recuperando Acuña para o lugar que Jefferson ocupou em Espanha por castigo do argentino, mas desta vez com uma disposição de 4-2-3-1, com Diaby bem encostado à linha. A primeira parte foi de muita luta com um ritmo lento e demasiado paciente, o que se traduziu em escassas ocasiões de perigo.
Keizer mexeu logo ao intervalo metendo Doumbia e Raphinha (que, na minha opinião, deveriam ter sido titulares) retirando os amarelados Borja e Gudelj. Decisão prudente que revela algum conhecimento de como pensam os árbitros do Sporting, mas que forçou a mais um esforço suplementar dos desgastados Wendel e Bruno Fernandes, que rebentariam fisicamente aos 60'. Ainda assim, o Sporting subiu de rendimento e criou muitas situações de golo na segunda parte, mas que, infelizmente, esbarraram no excesso de cerimónia no momento do remate e nos pinos insulares que povoavam a área. Acordámos tarde, demos razões ao Marítimo e a Tiago Martins para acreditarem que podiam sacar um pontinho, e acabámos em cima adversário a tentar recuperar o tempo que desperdiçámos na primeira parte. Deixámo-nos embalar pela ondulação marítima e assim se perderam dois pontos contra um adversário fraquíssimo.
Há depois o outro lado da questão. Mais uma vez tivemos uma arbitragem que fez os possíveis para facilitar a vida ao adversário. Renê foi distribuindo pauladas nas pernas de Bruno Fernandes e Wendel à discrição, sem que o árbitro se incomodasse a admoestá-lo. Ao invés, transformou uma queda normal de Borja numa tentativa de simulação e foi assistindo passivamente às inúmeras queixas de Charles que se agarrava à mão para depois ser assistido na perna. Perto do final, arranjou forma de expulsar Coates por este tentar despachar uma reposição de bola e mostrou o mesmo caminho a Keizer por motivos que só o próprio árbitro saberá. Perante tudo isto, teve ainda o descaramento de dar apenas 3 minutos de desconto na primeira parte e 4 na segunda, dos quais só se jogou efetivamente um minuto.
Nada que surpreenda considerando as sucessivas arbitragens que têm gozado connosco, ao ponto de o Sporting ser, neste momento, a equipa com mais cartões amarelos na Liga (!!!) a par com o Boavista. E é triste que tenha de ser o craque da equipa a vir a público mencionar o óbvio - sujeitando-se aos humores do Dr. Meirim -, em contraponto com a "gestão silenciosa" que tem poupado o team manager, o diretor desportivo ou o próprio presidente de sujar um pouco as mãos em defesa do clube.