segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

A conferência de imprensa

A oportunidade da CI

Considerando a antecedência com que a conferência de imprensa foi marcada e os temas que foram abordados, diria que a direção se sentiu forçada a falar face ao nível de contestação que os maus resultados da equipa de futebol foram acumulando - mesmo sem ter nada de verdadeiramente novo para dizer.

Com exceção das revelações relativas à auditoria forense, nada do que foi dito é novidade para os mais atentos. Quando muito, Frederico Varandas, Francisco Zenha e Miguel Cal deram a conhecer mais pormenores que complementam os diagnósticos que já tinham sido feitos na campanha eleitoral e em entrevistas dos vários elementos da administração da SAD de setembro para cá. As dificuldades de tesouraria eram conhecidas, o estado de descuido da Academia já tinha sido mais que discutida, tal como a falta de meios humanos e tecnológicos no backoffice da SAD, indignos de uma organização desta dimensão.

Foto: A Bola
Compreendo, no entanto, que a administração da SAD tenha vindo relembrar aquilo que não deveria ser necessário relembrar. Os sócios do Sporting estão a esquecer-se com demasiada facilidade de todas as condicionantes com que esta administração tem de lidar, e não faz sentido que se apontem determinados tipos de responsabilidades quando a preparação da época foi feita pela Comissão de Gestão e quando ainda nem há sequer seis meses estão em funções. A implementação de medidas estruturantes precisa de bastante mais tempo para produzir efeitos palpáveis. Isso, no entanto, também é sintoma de que a comunicação para os sócios está longe de funcionar como seria desejável.


A auditoria forense

A CI começou com o anúncio de alguns dos resultados da auditoria aos mandatos de Bruno de Carvalho. As revelações feitas por Frederico Varandas têm de ser devidamente explicadas porque falamos de questões graves - principalmente as despesas com a firma de advogados que integrou o ex-sogro do ex-presidente como associado. Neste caso, do ponto de vista da perceção de quem está de fora, não ajuda nada o facto de Bruno de Carvalho ter colocado Joana Ornelas como responsável de áreas tão amplas como as de Marketing, Comercial, Sócios, Museu, Merchandising, Comunicação, Fundação Sporting e Relações Públicas. Juntando uma coisa a outra, há motivos pertinentes para que se desconfie da existência de práticas de nepotismo, mas agora deve ser dada oportunidade a Bruno de Carvalho para apresentar as suas explicações sobre o tema.

De qualquer forma, não me pareceu nem o local nem o tempo apropriado para este tipo de revelações: deviam ter sido feitas em AG e apenas após a conclusão de todo o processo.


O all in

Francisco Zenha usou a expressão "all in" para descrever a forma como a época de 2017/18 foi planeada financeiramente e executada, pelo facto de a direção anterior ter recorrido à antecipação de receitas e à conta de reservas para pagar o reforço da equipa em janeiro. Efetivamente foram decisões que podem ser descritas como desnecessárias e perigosas quando avaliadas a posteriori, mas, na altura, face ao valor do plantel, ao desempenho desportivo da equipa na primeira metade da época e à perspetiva do encaixe com vendas no verão, diria que poderiam ser vistas mais como um risco calculado do que como um all in. O problema dos riscos calculados é quando surgem factos que à partida se julgariam impossíveis, como foi o caso da sucessão de desastres que atingiram o Sporting nos meses finais da época.

Houve dois all in bem mais nefastos que nos conduziram ao estado atual: o all in emocional colocado por Bruno de Carvalho na pressão ao plantel - que terminou num estado de rutura total entre atletas e clube no momento decisivo da época - e o all in de Cintra na tentativa de construção forçada de um legado que falhou na sua presidência nos anos 90, que se traduziu numa série de contratações precipitadas e na ausência de preocupação em adequar o orçamento da equipa de futebol às receitas previstas para a temporada de 2018/19.

Aliás, considerando a lavagem de roupa suja que houve nesta conferência de imprensa, faltou uma referência à incompetência demonstrada pela Comissão de Gestão nos dois meses e meio em que geriram o Sporting. Para além da questão do orçamento atrás referida, houve ainda outras decisões incompreensíveis como a contratação de Peseiro, o aumento de Battaglia, a venda de Demiral a preço de saldo, ou - esperemos que não se confirmem - as noticiadas garantias de venda de Bruno Fernandes por 35 milhões e de Acuña por 20 milhões.