segunda-feira, 4 de março de 2019

As contas do 1º semestre

O Sporting divulgou no final da passada semana as contas do 1º semestre de 2018/19, apresentando um lucro de aproximadamente 6,5 milhões de euros. É um valor que, sendo positivo, obrigará a SAD a fazer pelo menos uma boa venda até junho de 2019, já que o 1º semestre tem tipicamente bastante mais receitas do que o 2º semestre.

Há três aspetos negativos nas contas. 

1º problema: a redução das receitas operacionais. 

A conjugação da crise que o clube viveu a partir do final da época passada com a não qualificação para a Liga dos Campeões representou um enorme decréscimo ao nível dos prémios da UEFA e ao nível da bilheteira - lugares de época e lugares empresariais incluídos. O único aspeto positivo é o aumento de 15% registado nos patrocínios e publicidade.


Decompondo a componente Bilheteira, observa-se uma redução a todos os níveis, sobretudo ao nível dos bilhetes jogo a jogo. Isso explica-se pela redução de cerca de 1 milhão entre os jogos da Liga dos Campeões da época passada para os jogos da Liga Europa desta época, pelo facto de não ter havido nenhum jogo caseiro com equipas do topo da tabela até 31 de dezembro e, claro, não ajuda o pouco entusiasmo que a equipa de futebol tem despertado entre os sócios e adeptos sem Gamebox. 



2º problema: a falta de ajustamento dos custos à previsível queda das receitas

Perante a queda total de 8,7 milhões das receitas operacionais - que era mais que previsível -, teria sido fundamental fazer um ajuste do orçamento da equipa de futebol para manter as contas equilibradas. Infelizmente, não foi o caso. Se excluirmos a diferença de salário de Jorge Jesus para Peseiro/Keizer e o prémio de qualificação para Liga dos Campeões que foi pago na época passada, chegamos à conclusão que o plantel atual é mais caro do que o da época passada - com a agravante de isso não se ter refletido, nem de perto nem de longe, na manutenção da qualidade que existia.


Uma herança indesejada deixada pela Comissão de Gestão à atual direção, que, tendo entrado após o fecho de mercado de verão, só em janeiro pôde fazer os ajustes que se impunham. Será previsível que os custos com pessoal desçam no 2º semestre após as movimentações do mercado de inverno.



3º problema: as necessidades de tesouraria de curto prazo

Não é complicado perceber que as obrigações de pagamento do clube a curto prazo (neste caso a 1 ano) são imensamente superiores aos valores que a SAD tem a receber.

A pagar durante os próximos 12 meses:
  • Fornecedores - 54,2M;
  • Financiamento (banca) - 53,9M;
  • Estado - 6,3M.

A receber durante os próximos 12 meses:
  • Clientes - 12,3M;
  • Estado - 0,4M.

As rubricas de outros devedores e outros credores referem-se, em grande parte, a valores a pagar entre o grupo Sporting e não alteram de forma significativa o panorama.

O valor que se deve a fornecedores é relativamente normal. O problema está no resto: até há uns anos, assumia-se que os empréstimos bancários se renovariam automaticamente, coisa que hoje já não acontece; e o valor a receber de clientes (vendas de jogadores a outros clubes) é invulgarmente baixo, consequência da rescisão em massa de vários dos atletas com mais mercado que impossibilitaram os encaixes de que o clube necessitava. Tudo isto foi agravado pelo facto de o último empréstimo obrigacionista não ter tido a adesão desejada.

Não espanta, portanto, que corram notícias de que a SAD pondera a antecipação de receitas da NOS para fazer face a estas necessidades de tesouraria, no âmbito da reestruturação financeira que se encontra a ser negociada.


O endividamento e as receitas antecipadas

Não fossem as obrigações de curto prazo, o panorama do endividamento do Sporting até poderia ser encarado como bastante positivo. A dívida voltou a baixar, em parte explicada pela "troca" do EO de 30 milhões pelo novo de cerca de 25 milhões. A antecipação de receitas manteve-se estável em relação ao último ano. Obviamente que, à luz das notícias dos últimos dias, é de prever que o valor aumente significativamente durante o 2º semestre.