quarta-feira, 29 de maio de 2019

O balanço da época, nº 1: Sucesso ou insucesso?

Terminada a época desportiva, em que contabilizámos dois títulos (Taça de Portugal e Taça da Liga), um 3º lugar no campeonato e a eliminação nos 1/16 de final da Liga Europa, as opiniões dividem-se em relação à avaliação geral do desempenho em 2018/19. O presidente Frederico Varandas disse, no seu discurso na Câmara de Lisboa, que foi a melhor época dos últimos 17 anos, ou seja, foi a melhor época desde que o Sporting venceu o campeonato pela última vez. Muitos sportinguistas concordarão, mas outros sportinguistas têm uma opinião distinta - a de que nunca se poderá considerar uma época de sucesso a partir do momento em que não alcançámos o objetivo primordial: o título de campeão nacional que há tanto tempo nos escapa. Entre as duas correntes, aproximo-me mais da posição de Frederico Varandas - ainda que não concorde totalmente com o que disse.

Na minha opinião, quando avaliamos o sucesso/insucesso da época temos de levar em consideração as expetativas que existiam a 31 de agosto, dia em que a janela de transferências encerrou e o plantel ficou definitivamente fechado. Nessa altura, só um louco (ou Sousa Cintra) poderia pensar que o Sporting tinha condições para lutar pelo título.

Começo pela escolha do treinador. Como se não bastassem todas as dificuldades causadas pelo estado de calamidade que o clube viveu entre maio e setembro de 2018, a contratação de José Peseiro foi uma aberração: não tinha a capacidade técnica necessária, é um fraco líder e, segundo o que se disse na altura, contribuiu decisivamente para o desequilíbrio do plantel com as suas indecisões numa altura em que o tempo urgia. 

Depois, o desequilíbrio do plantel. As inúmeras lacunas que estavam por resolver não foram devidamente abordadas. Bruno Gaspar, Marcelo, Diaby e Sturaro foram contratações fracassadas. Não se contratou nenhum médio defensivo para suprir a saída de William Carvalho. O único lateral esquerdo de raiz com que ficámos foi... Jefferson, recusando-se o regresso de Fábio Coentrão. Não contratámos um médio defensivo (Gudelj fez a posição mas não é o seu lugar) nem um ponta-de-lança puro que pudesse substituir Dost (Montero tem características bem diferentes e Castaignos... bem, é Castaignos). Renan foi contratado a pedido de Peseiro e valeu dois títulos mas, convenhamos, a posição da baliza não era uma prioridade havendo Viviano, Salin e Max. Mantivemos no plantel um conjunto de jogadores que se via claramente serem demasiado caros para o que poderiam render, como André Pinto, Marcelo, Jefferson, Petrovic, Misic ou Castaignos. Bruno César ficou mas não contou para o totobola (mais valia ter saído logo). Considerando as lacunas, as dispensas de Demiral (um crime, nas condições em que saiu), Matheus Pereira, João Palhinha e Gelson Dala são incompreensíveis. Resultado: tivemos de atacar a época com um plantel caríssimo e carente de soluções.

Junte-se a isto o facto de Benfica e Porto terem acesso às dezenas de milhões da Liga dos Campeões, e não é difícil perceber que ninguém poderia realisticamente acreditar na conquista do campeonato. Se no dia 1 de setembro me tivessem perguntado se ficaria satisfeito vencendo a Taça de Portugal e a Taça da Liga, obviamente que responderia afirmativamente.

A prestação no campeonato acabou por estar na linha do que se previa. Ficámos fora da corrida muito cedo e o terceiro lugar alcançado, tão longe dos rivais, não é nenhuma proeza. A boa ponta final acabou por corrigir um percurso que foi demasiado irregular entre novembro e fevereiro e, a determinada altura, chegou a cheirar a humilhação. Por muito mal que o clube tenha iniciado a época, não seria tolerável terminar abaixo do Braga.

A boa ponta final no campeonato, a partir de março, e o sucesso nas taças abre algum otimismo para o futuro. Para vencer a Taça de Portugal foi preciso bater tanto Benfica como Porto. A Taça da Liga, sendo um troféu de importância secundária, foi conquistada numa final four disputada pelas quatro equipas mais fortes do país - incluindo o Braga, que jogava em casa - e que tudo fizeram para a conquistar. Não existiram quaisquer facilidades pelo caminho, pelo que o mérito do Sporting é absolutamente incontestável.

Não concordo com Frederico Varandas quando afirmou que esta foi a melhor temporada dos últimos 17 anos. Pensando exclusivamente em títulos, até poderá ter razão... mas, porque o acesso à Liga dos Campeões é agora mais fundamental do que nunca devido aos prémios que distribui, preferia um 2º lugar no campeonato à Taça da Liga - algo que Paulo Bento alcançou em 2007/08: 2º lugar, Taça de Portugal e ainda a Supertaça. Esta sim, foi a melhor época dos últimos 17 anos. Mas considerando as expetativas com que partimos e aquilo que foi alcançado, sou de opinião de que podemos considerar 2018/19 como uma época de sucesso, seguramente a de maior sucesso desta década. Para além disso, Keizer parece estar a adaptar-se bem à realidade nacional após alguns erros iniciais, e houve um bom trabalho no mercado de inverno que abre boas perspetivas para o que se poderá fazer na preparação da próxima época. Há motivos para que os sportinguistas sintam satisfação pelo que foi conquistado nesta temporada, e há também motivos para reforçarmos a esperança naquilo que 2019/20 - uma época em que a ambição terá de ser necessariamente mais elevada - nos poderá proporcionar.