quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Mais curiosidades sobre a transferência de Francisco Vera

Em primeiro lugar, para quem não leu o post que escrevi há uma semana sobre o assunto, pode fazê-lo aqui: LINK.

Entretanto, ficou ontem disponível o programa paraguaio que se debruçou sobre a polémica transferência de Francisco Vera para o Benfica. Para quem tiver interesse, fica aqui o vídeo completo:


O programa contou com a presença do Ministro da Prevenção contra a Lavagem de Dinheiro e Bens e com a Diretor da autoridade tributária do país, e correspondeu às expetativas criadas pelo teaser divulgado na semana passada. Achei, no entanto, dois momentos particularmente interessantes.

O primeiro momento tem a ver com o facto de o ministro ter referido um possível efeito adicional, para além da lavagem de dinheiro, e da fuga ao fisco por parte do Rúbio Ñu: compras sobrevalorizadas de jogadores podem também significar uma tentativa de fuga ao fisco por parte dos clubes europeus que os compram, que assim empolam os seus custos e, consequentemente, reduzem artificialmente os lucros e pagam menos impostos.


O segundo momento foi logo no princípio do programa. O jornalista (que não é da área de desporto) entrevistou alguns jornalistas desportivos paraguaios para saber se conheciam Francisco Vera, e se os quase 3 milhões por que foi vendido ao Benfica correspondiam, de alguma forma, ao seu valor desportivo. As respostas são elucidativas.


Alguns dos jornalistas desportivos paraguaios não conheciam Francisco Vera, e os que o conheciam não compreendem como esteve na base de uma transferência de valor tão avultado. Uma apreciação bem diferente daquilo que os jornais desportivos portugueses fizeram, na altura, do jogador paraguaio:

Notícia d' A Bola, 31 de maio de 2015

Notícia d' A Bola, 1 de junho de 2015

Notícia do Record

Notícia d' O Jogo, 1 de junho de 2015

Uma das grandes esperanças do futebol paraguaio. Uma das maiores esperanças daquele país. Foi assim que Vera foi vendido por cá. Está visto que quem escreveu os artigos acima não se informou com colegas paraguaios.

Na altura em que o programa La Caja Negra entrevistou Francisco Vera, o jogador não tinha clube. Situação estranha para um ativo de 3 milhões que, um ano antes, era, supostamente, uma das "grandes promessas do futebol paraguaio". Mas entretanto - quem sabe se por terem soado alguns alarmes quando certas pessoas tomaram conhecimento que esta reportagem estava a ser produzida -, Francisco Vera arranjou finalmente um clube para jogar: o CA Fenix, um clube do meio da tabela da primeira divisão uruguaia.


Mas querem saber uma coisa curiosa? Na madrugada passada, a SIC Notícias passou um documentário da France 2 sobre os negócios no futebol, que foi produzido há três anos e que, na altura, teve bastante visibilidade. O momento que recordo melhor desse documentário foi a parte em que os jornalistas se deslocaram ao Estádio do Dragão para entrevistar um responsável do Porto pela compra de Mangala via Doyen e D'Onofrio, tendo levado, inclusivamente, uma figura do jogador em tamanho real (cobrindo-o depois parcialmente com o símbolo do fundo, do clube e do empresário, para representar a partilha do passe). Estão relembrados?

Pois bem, houve quem visse ontem o documentário e tenha reparado numa curiosidade. Vejam com atenção:


Sim, o CA Fénix, clube a quem o Benfica emprestou Francisco Vera, é um dos clubes assinalados como paraísos fiscais desportivos que ajudam os clubes europeus a cometerem fraude fiscal. Curiosamente, precisamente o tal efeito adicional mencionado pelo ministro paraguaio no programa.


Não podia haver clube mais adequado para se colocar um jogador envolvido numa novela destas. Há coincidências giras, não há?