terça-feira, 3 de março de 2020

A contratação de Rúben Amorim

Não sei o que Rúben Amorim vale como treinador. Os resultados iniciais no Braga são bastante positivos, mas a amostra ainda é muito pequena para se saber ao certo se são fruto das circunstâncias ou da capacidade do treinador. Não é preciso fazer um grande esforço de memória para nos recordarmos dos primeiros dois meses de Keizer ao serviço do Sporting: o holandês arrasou quando chegou, deixou Varandas babado com a sua própria capacidade para detetar talento onde mais ninguém via - fácil, fácil -, mas não tardou muito para que o clube caísse de novo na realidade.

Da mesma forma que não sei o que vale Rúben Amorim como treinador, tenho a certeza que Varandas e a sua entourage também não sabem. Já o viram treinar alguma vez? Sabem que ideias tem como treinador? Como reagirá em momentos de dificuldade, em períodos de maus resultados prolongados? Se tem a capacidade para lidar com a pressão de um clube como o Sporting? Se conseguirá agarrar um balneário com jogadores que já viveram de tudo na sua carreira? Se encaixará num projeto sustentado e adequado à nossa realidade? Obviamente que não sabem o suficiente. Andam a jogar à lotaria com treinadores na esperança que lhes saia o prémio grande. A ânsia que existe no futebol português em encontrar o novo Mourinho raramente funcionou no passado, e as probabilidades de sucesso encolhem ainda mais num clube como o Sporting - em que à habitual falta de tempo derivada dos longos anos sem conquistar o campeonato, se junta a incompetência de uma estrutura de futebol incapaz de montar um plantel competitivo, de proteger as costas ao seu treinador (a estrutura defendeu Keizer timidamente mas deixou Silas a cozer em lume brando desde a eliminação com o Alverca), de defender o clube contra quem o procura prejudicar e de mobilizar os adeptos.

A esta incapacidade crónica, acresce a irresponsabilidade do investimento que a contratação de Rúben Amorim implicará. O Sporting vendeu recentemente o único jogador do plantel de nível internacional, e não se pode dar ao luxo de estourar num treinador grande parte do dinheiro que é a última tábua de salvação para construir um plantel minimamente competitivo a curto prazo. Da mesma forma que não é solução tentar reduzir o valor em dinheiro através da cedência de jogadores que poderiam perfeitamente fazer parte do nosso plantel. Num treinador que há três meses estava no Braga B e que na época passada treinava o Casa Pia.

Tudo isto que escrevi tem muito pouco a ver com Rúben Amorim. Tem a ver sobretudo com o discernimento de quem o quer contratar. Varandas falhou com Viana, falhou com Beto, falhou com Vidigal, falhou com Keizer, falhou com Leonel Pontes e falhou com Silas. Falhou em demasiadas contratações e falhou em várias dispensas. Falhou estrondosamente a união do clube. Prepara-se agora para fazer um all in no seu 4º projeto de treinador. A única coisa que o separa de ser o pior presidente da história é a responsabilidade financeira que Godinho Lopes não teve. Mas por este caminho, é uma discussão que poderemos começar a ter em breve...