Duvido que na história do dirigismo dos grandes clubes portugueses, haja alguém que tenha tido tarefa mais difícil que Bruno de Carvalho. Herdando uma situação catastrófica, os primeiros problemas tiveram que ser resolvidos sem tempo e sem dinheiro. Apertado por jogadores, banca, adversários, empresários e imprensa, acredito que não dormisse mais do que as famosas 4 horas por dia. Eu acrescento que se estivesse no lugar de BdC, não pregaria olho nas 4 horas que passaria na cama, perante a perspetiva dos dias de pesadelo que me esperariam.
Os sportinguistas, pelo menos os que gostam do clube independentemente do nome do presidente em exercício, estão reconhecidos por haver alguém que esteja a lutar diariamente para inverter o rumo da história recente. E também não têm dúvidas do amor que o presidente tem ao clube. Daí o chamado estado de graça que BdC ainda mantém. No entanto, aproximam-se a passos largos grandes testes a esse estado de graça:
- Os primeiros jogos a doer para o campeonato com o treinador escolhido pela direção, que substituiu outro por quem os sportinguistas tinham grande admiração
- O desempenho dos reforços contratados por BdC e Inácio que, segundo eles, só fariam sentido se representassem uma melhoria evidente
- A decisão do caso Bruma
- Montantes das vendas dos poucos jogadores do Sporting com mercado, nomeadamente Rui Patrício
Ou seja, se as coisas correrem mal, o bom ambiente que BdC vive hoje, 7 de Agosto, poderá ter-se transformado completamente no final do mês. E neste momento os dados estão lançados, o único ponto que a direção efetivamente ainda controla é o das vendas de jogadores.
Talvez por isso, BdC tem estado a dar alguns sinais de intranquilidade. No início do mandato teve uma presença discreta. Falava poucas vezes, com intervenções ponderadas e agregadoras. Gradualmente foi abrindo campos de batalha, com empresários, jornais e clubes adversários (não está em causa se tem razão ou não), que o expuseram mais. Neste momento emite comunicados quase diários (a maior parte justificadamente, na minha opinião), alguns em nome pessoal (aí já não compreendo), por vezes com alvos pouco claros. No jogo com o West Ham, gastou desnecessariamente cartuchos ao falar com os árbitros sobre o tempo de desconto dado, e pelo que dizem, a dar reprimendas a um jogador. Esta última, a ser verdade, é inaceitável por dois motivos:
- Está a entrar num domínio que compete ao treinador, desautorizando-o; Leonardo Jardim, pelo trabalho demonstrado e pela sua postura não merece esta interferência
- Mesmo que se sinta no direito de criticar alguém do clube, deve fazê-lo sempre em privado; em público apenas se fazem elogios
BdC não precisa de estar em todo o lado para ser um bom presidente. Deve escolher sabiamente os seus campos de batalha. E muito menos deve querer ser a estrela da companhia. Deve deixar esse papel para os jogadores, por muito pouco entusiasmante que seja o plantel atual. Se as coisas correrem bem, essas estrelas hão-de emergir rapidamente.
Este Cristo fartou-se de cantar, mas não foi por isso que deixou de ir parar à cruz |