Quando se fala no colo que a classe da arbitragem está a dar ao Benfica é normal que se abordem sobretudo a questão dos golos marcados em fora-de-jogo, dos golos dos adversários mal anulados por foras-de-jogo inexistentes (ou, no caso do jogo com o Rio Ave, um fiscal-de-linha que acertou mas que em função da sua posição só podia decidir a favor do atacante), dos penáltis contra o Benfica que ficam por assinalar ou dos penáltis a favor do Benfica que são assinalados com alguma generosidade.
No entanto, há um outro fator que não costuma ser tão mencionado e onde tem havido uma incrível disparidade entre Benfica e os seus rivais: a frequência com que os cartões são mostrados. No passado já fiz um post (LINK) que mostra a forma como os amarelos aos adversários do Benfica começam saem do bolso dos árbitros muito mais cedo do que os amarelos aos adversários do Sporting (com tudo o que significa em termos de condicionamento para o resto da partida), para não falar na enorme facilidade com que os árbitros mostram cartões a jogadores do Sporting.
No entanto, essa análise que fiz não distingue cartões amarelos de cartões vermelhos. Considerando apenas para os cartões vermelhos mostrados na liga até ao momento, vemos que:
- Jogadores do Benfica - 0 expulsões
- Jogadores do Porto - 2 expulsões
- Jogadores do Sporting - 4 expulsões (inclui a expulsão de Nani contra o Estoril, que foi forçada pelo próprio)
Mesmo sem fazer um grande esforço de memória, é evidente que o facto de os jogadores do Benfica não terem visto qualquer cartão vermelho não faz justiça à agressividade que colocam em campo. Por exemplo, Enzo devia ter sido expulso contra o Moreirense e Estoril, e Samaris fez duas faltas para amarelo claríssimo contra o Arouca (vendo apenas 1) - e nestes três jogos o resultado ainda estava em aberto. Ainda ontem Maxi fez uma falta duríssima na primeira parte e foi poupado de qualquer cartão, tendo acabado por ver um amarelo mais tarde por outra falta.
É indiscutível que existe uma tolerância bastante maior para a dureza com que os jogadores do Benfica abordam lances divididos.
Fazendo o mesmo exercício aos adversários dos grandes, as conclusões apontam no mesmo sentido:
- Adversários do Benfica - 7 expulsões
- Adversários do Porto - 2 expulsões
- Adversários do Sporting - 2 expulsões
Em praticamente metade dos jogos deste campeonato, o Benfica chegou ao final dos 90 minutos em superioridade numérica em relação ao adversário. Mesmo considerando que algumas dessas 7 expulsões aconteceram perto do final (o que também se passou em jogos de Porto e Sporting) e acabaram por não ter influência no resultado, a disparidade não deixa de ser enorme.
Fiz um pequeno exercício de como estaria a classificação se congelássemos os resultados no momento em que o primeiro cartão vermelho da partida é mostrado, ou seja, uma espécie de tabela classificativa enquanto ambas as equipas em campo têm 11 jogadores. Eis o que aconteceria aos 10 pontos que o Benfica tem de avanço:
Não estou a dizer que as expulsões aos adversários do Benfica sejam todas injustas, mas o que é facto é comparando as expulsões a favor e contra dos 3 clubes vemos que:
- o Benfica tem um saldo de +7
- o Porto tem um saldo de 0
- o Sporting tem um saldo de -2 (ou -1, se omitirmos a expulsão de Nani)
Se ao menos o futebol do Benfica se caracterizasse por uma avalanche ofensiva de tal forma superior a Porto e Sporting, até se compreenderia que os adversários se vissem obrigados a cometer bastante mais faltas merecedoras de duplos amarelos e expulsões - mas definitivamente não é esse o caso.
E se comparássemos a disciplina das três equipas nas competições europeias ficaria tudo ainda mais estranho, já que o Benfica foi a equipa mais indisciplinada das 32 em prova...