Os sportinguistas deviam-se sentir desconfortáveis com o problema das arbitragens do Benfica.
Não por uma questão de solidariedade, porque os benfiquistas nunca se mostraram incomodados nas muitas ocasiões em que o Sporting foi sistematicamente prejudicado.
Não por uma questão de justiça porque, à semelhança do Porto, o Benfica nos últimos anos tem sido muito mais beneficiado do que prejudicado. Têm acima de tudo razões de queixa no golo do Maicon no jogo do título de 2011/12, mas não podem esquecer muitos outros jogos em que foram escandalosamente favorecidos.
Não por uma questão de ética, porque Luís Filipe Vieira não parece ser uma pessoa que se mostre muito incomodada com sistemas, desde que os controle (ou pense que os controle).
O Benfica é neste momento um problema muito grande para determinadas pessoas por causa da Benfica TV. Já escrevi sobre esse tema AQUI, antes de terem começado as polémicas das arbitragens. A Sport TV e o grupo Controlinveste estão a lutar pela vida. A crise em que o país vive e a falência anunciada de jornais, que cada vez vendem menos, e rádios, devido à pressão que existe sobre o mercado publicitário, já traziam enormes problemas aos grupos de comunicação social. O surgimento da Benfica TV como concorrente direto da Sport TV deve ter sido um terramoto para um canal que era provavelmente o oásis no deserto que é o grupo de Joaquim Oliveira. A situação só não é mais desesperada porque a banca andou anos a fio a injetar dinheiro, à semelhança do que tem acontecido com os clubes. Mas como os bancos estão agora com a corda ao pescoço, já andam a negociar a conversão da dívida da Controlinveste em ações.
Há uma coisa que pode melhorar a situação da Controlinveste: o falhanço da Benfica TV enquanto projeto económico viável. Para isso acontecer, vão necessitar que o Benfica fique rapidamente afastado da luta pelo título. Isso vai provocar muitas desistências de assinaturas da Benfica TV, e se a isso se juntar um afastamento da Liga dos Campeões do próximo ano, com consequente não valorização dos jogadores do plantel, a pressão de tesouraria que então existirá poderá obrigar o Benfica aceitar a "generosa" oferta que Joaquim Oliveira estará a reservar para um momento em que tenha uma posição negocial mais forte. Resta saber até que ponto a influência que o Benfica foi acumulando nos bastidores (que não é negligenciável) será suficiente para evitar este cenário.
E perguntam-me: o que é que isto tem a ver com o Sporting? Nada, respondo eu. Mas quando o Benfica começar a ser um problema menor para onde acham que essas figuras se vão virar imediatamente a seguir?