Tendo uma primeira página na linha do habitual (largo destaque
dado ao Benfica), confesso que não estava à espera que o interior fosse
distribuído de forma tão equilibrada: 5 páginas para o Benfica (2 das quais
dedicadas à final perdida com o Barcelona), 3 para o Porto, e 4 para o
Sporting. Depois seguiram-se várias páginas dedicadas a outros clubes e ao futebol
internacional, uma página dedicada inteiramente à equipa de andebol do
Sporting, e mais algumas para outras modalidades.
Estava, portanto, com as defesas em baixo quando entrei na
secção das opiniões. Erro meu. Desprevenido, coloquei os meus olhos na página
da direita e foi como se levasse violentamente com uma viga de metal em cheio numa das têmporas.
Não, não estou a falar de Miguel Sousa Tavares, que ocupa a
página esquerda da secção de opiniões. Sabemos que dá a sua opinião enquanto
adepto, pelo que há alguma margem para lhe tolerarmos muito dos excessos a que
nos habituou. O autor da agressão intelectual a que fui sujeito foi Fernando
Guerra, jornalista desportivo de A Bola, que decidiu presentear-nos com isto:
Fernando Guerra consegue, a partir do choro de jovens que
perdem uma final, fazer uma extrapolação inacreditável para a mentalidade que
Vieira quer incutir no Benfica e para o projeto que o presidente do Benfica tem
para o clube. Parece-me uma forma forçada de tentar aproveitar um momento altamente emocional, ao qual ninguém fica insensível, virando os holofotes para Vieira.
É curioso: em qualquer final é normal vermos homens feitos a
chorar que nem crianças de quatro anos a quem tiraram um doce, fruto da
desilusão após meses de trabalho e semanas de expetativas criadas. Mas neste caso
concreto o choro dos jovens benfiquistas é mais do que isso: é o novo Benfica! É
sinal que as finais são para se ganhar! É resultado do trabalho árduo diário
que o seu líder teima em consolidar.
Já era conhecida a promiscuidade que existia entre Fernando
Guerra e a direção de Vieira. Diz-se que naquela famosa reunião de indignados
após uma derrota em Guimarães que levaria o Benfica a decretar o boicote de
adeptos aos jogos fora de casa, Fernando Guerra era um dos participantes.
Que Fernando Guerra tem lacunas graves ao nível da isenção,
já se sabia, mas choca-me sempre ver um jornalista ser um veículo de propaganda
ao serviço de uma figura que, tendo os seus méritos, está longe de ser um
símbolo da competência, coerência e até da honestidade. E o pior é que não se
trata de um caso único.