domingo, 4 de maio de 2014

A crónica do Nacional - Sporting, por Q.

                                                                                                                       
Este é um dia muito especial para este blogue. Ao contrário do que é habitual, o post sobre o jogo entre o Sporting e o Nacional não foi escrito por mim, mas por um ilustre jornalista da nossa praça que aceitou interromper o primeiro dia de descanso após um período prolongadíssimo de trabalho ininterrupto, carregado de emoções fortes.

O jornalista, que por acaso até é diretor de um conhecido jornal desportivo, pediu-me para não revelar a sua identidade (devido ao contrato de exclusividade que tem com o grupo económico para quem trabalha), pelo que vou referir-me a ele por Q.. 

É com grande orgulho que deixo de seguida a crónica do Nacional - Sporting, escrita por Q. em rigoroso exclusivo para este blogue.


O Nacional - Sporting ficará na história do futebol português pelos piores motivos. Mais uma vez, a verdade desportiva foi colocada em causa quando o Nacional decidiu realizar este jogo na Choupana. Com esta atitude lamentável de Rui Alves, foi permitido que o adversário pudesse ter milhares de adeptos a apoiá-los. Não se compreende como o Nacional não tenha mudado o jogo para o campo do Camacha, onde caberiam apenas os sócios da equipa da casa. No fundo, deixou que os interesses económicos se sobrepusessem aos desportivos, o que é um atentado à verdade desportiva que não pode passar impune, e que se tem repetido vezes sem conta esta época nos jogos em que o Sporting tem jogado fora de casa.

Apesar do ritmo lento, próprio de equipas que já não têm nada para lutar, foi um jogo com várias ocasiões de golo, quase todas protagonizadas pelo Nacional, que tem o 2º ataque mais perigoso da liga (não é por acaso que a equipa de Manuel Machado foi das poucas que conseguiu marcar 2 golos à melhor dupla de centrais da Europa -- Luisão e Garay).

O Sporting jogou com pouca intensidade, tendo sido poucos os jogadores que tentaram lutar contra a avalanche ofensiva da equipa da casa. Cédric foi provavelmente o jogador mais inconformado, talvez para tentar chamar a atenção de Paulo Bento, na vã esperança de conseguir o lugar nos convocados para o mundial que pertence por direito a André Almeida.

Foi no entanto contra a corrente do jogo que o Sporting acabou por inaugurar o marcador, com um auto-golo de Nuno Campos, que se estreou a titular neste jogo. O jovem jogador não deve ficar desmotivado pelo erro que cometeu. Comparando com uma outra situação célebre, ficou a milhas do enorme frango que Rui Patrício sofreu no golo de Luisão para a Taça de Portugal, que acabaria por eliminar o seu clube num dos mais espetaculares jogos deste século (em que o melhor Sporting do ano conseguiu dar alguma luta a um Benfica que teve sempre o jogo controlado, com uma excelente arbitragem de Duarte Gomes).

Na primeira parte, é de destacar a enorme exibição de Candeias, certamente motivadíssimo pela transferência para o único clube de dimensão verdadeiramente internacional em Portugal, procurando mostrar desde já ao futuro treinador que talvez tenha talento para fazer parte do plantel do próximo ano.

Na segunda parte, o Sporting continuou a jogar num ritmo morno, e o Nacional conseguiria chegar ao empate num golo em que Rui Patrício tem claras responsabilidades, ao não conseguir impedir com a cara o remate à queima-roupa de Diego Barcellos. Se tivesse a escola eslovena, o guarda-redes do Sporting saberia que tinha que colocar a testa na trajetória da bola para afastá-la para longe da baliza, em vez de marcar mais um auto-golo tão típico nele.

A partir desse momento o Sporting procurou aumentar a intensidade de jogo, mas raras vezes chegou com perigo à área adversária. De destacar um lance de Capel, em que o espanhol, não dispondo daquela magia argentina / sérvia que caracteriza os melhores extremos do mundo, preferiu atirar-se para o chão ao sentir os braços de um defesa adversário nas costas. Esteve bem o árbitro Rui Costa em amarelar o jogador do Sporting.

Empate injusto, pois o Nacional foi a única equipa em campo que demonstrou categoria para vencer a partida. De qualquer forma foi um mau jogo que acabou por ser uma perda de tempo para todos aqueles que aguardam ansiosamente o dia de amanhã para voltar a ver futebol que valha a pena.


Como esta crónica de Q. não espelha exatamente aquilo que penso do jogo, deixo também a minha opinião.

O Sporting pareceu entrar em campo já com a cabeça nas férias. A partida até foi relativamente interessante de seguir por terem existido várias oportunidades de perigo distribuídas pelas duas equipas, mas pareceu faltar alguma agressividade (para não dizer empenho) na forma como vários jogadores encararam o jogo. Destaco pela positiva Rui Patrício, Cédric, Maurício, Dier, André Martins, e Capel. Não gostei do jogo de Carrillo, William (cometeu vários erros que não lhe são habituais), Gerson Magrão (não compreendo a insistência de Leonardo Jardim em apostar nele), e Slimani (muito perdulário).

As substituições foram tardias: há muito que se tinha percebido que havia jogadores que não estavam a acrescentar nada em campo. Foi pena, porque tivemos o jogo na mão e poderíamos ter garantido uma vantagem maior caso a equipa tivesse colocado um pouco mais de atitude competitiva em campo.

Mais uma vez ficou um penálti por assinalar, que nos poderia ter dado a vitória. É verdade que, olhando para o que as duas equipas fizeram, o empate é o resultado que mais se aceita. Mas infelizmente o Sporting voltou a ser penalizado pelas arbitragens num jogo em que demonstrou menos inspiração. É verdade que o campeonato está decidido, o jogo já não aquece nem arrefece para as contas finais, mas são mais dois pontos que se acumulam a outros tantos que não deveríamos ter perdido se as arbitragens não tivessem influência no resultado final.