segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Os bons exemplos de Luís Pedro Sousa

                                                                                                                                                    

Olho para este texto e espanto-me com a forma simplista como os nossos jornalistas fazem este tipo de extrapolações. Sim, Marco Silva deixou-se levar pelos acontecimentos na questão do penálti de Nani, mas não estou a ver com que bases é que Luís Pedro Sousa afirma liminarmente que uma situação destas "nunca existiria num banco liderado por Jorge Jesus ou Julen Lopetegui".

Comecemos pelo espanhol: certamente que Luís Pedro Sousa deve ter acompanhado com grande atenção a carreira de Lopetegui no Rayo Vallecano em 2003 e no Real Madrid B em 2008/09. Quem afirma uma coisa destas só pode ser um especialista na forma de agir (e reagir) do atual técnico do Porto em assuntos do foro disciplinar. Luís Pedro Sousa já deve ter testemunhado situações potencialmente semelhantes na longa carreira que Lopetegui tem na gestão de balneários cheios de jogadores feitos e com egos a condizer.

Será que devemos todos ficar imensamente impressionados por Lopetegui ter deixado Quaresma fora dos convocados porque o "minino" entrou amuado a um minuto do fim contra o Lille? Ao deixar Quaresma de fora, sobraram-lhe apenas Quintero, Adrian, Oliver, Tello, Brahimi e Evandro para levar para Paços de Ferreira - não se pode dizer que o treinador tenha corrido um risco desportivo IMENSO para impôr a sua veia disciplinadora. Será que se fosse com Jackson faria o mesmo?

Quanto a Jesus, suponho que Luís Pedro Sousa tenha feito um retiro espiritual na primavera / verão de 2013 e não se terá apercebido de alguns acontecimentos ocorridos nessa altura. No final da Taça de Portugal, Jesus viu um jogador seu espetar-lhe um dedo na cara a acusá-lo pela derrota, perante câmaras televisivas que transmitiam as imagens para todo o país, e o treinador comeu e calou. Não me lembro de ter tido qualquer tipo de reação imediata para se impôr perante um ato de indisciplina bem mais grave. E Jesus voltaria a comer e calar quando a direção lhe impôs esse mesmo jogador no plantel da época seguinte. O treinador soube ultrapassar isso, tirou (e bem) proveito de Cardozo (infelizmente para o Sporting) e a época acabou por ser o sucesso que todos sabemos - mas não me venham dizer que do ponto vista disciplinar Jesus teve um pulso de ferro e um comportamento irrepreensível.

Mais: Luís Pedro Sousa diz que Marco Silva, ao contrário de Lopetegui e Jesus, não tem voz ativa na política de contratações e na planificação da época. Ele lá terá fontes que eu não tenho, pelo que não o vou contradizer, mas usar o planeamento de Jesus como termo de comparação é ridículo: não há clube que falhe mais em contratações que o Benfica de Jesus. Depois de ter gasto mais de €30M em reforços nesta época, olhamos para o Benfica e vemos que o plantel está longe de estar fechado a menos de uma semana do fim do período de transferências. Se Luís Pedro Sousa queria usar termos de comparação, ao menos que use bons exemplos - mas pelos vistos a tentação de usar o Benfica como modelo a seguir sempre que possível é demasiado grande.

Na vida existem situações totalmente inesperadas, cuja especificidade exige um pouco mais de ponderação antes de se retirarem conclusões definitivas - ainda para mais utilizando exemplos comparativos totalmente despropositados. 

Nada que espante vindo do Record, que na capa de hoje anuncia uma entrevista com Rúben Semedo (à semelhança do que já tinham feito com Dier, mas para quando uma entrevista com João Cancelo, Bernardo Silva ou Ivan Cavaleiro?) e pela segunda vez colocam na capa a notícia de que Dier marcou um golo (não usando o mesmo critério quando Cardozo marcou a meio da semana passada pelo seu novo clube).