terça-feira, 2 de setembro de 2014

A aposta na formação

                                                                                                                                              
Durante o defeso, ao ser anunciada a contratação de Ryan Gauld, jovem promessa de 18 anos com muitos minutos nas pernas na primeira divisão escocesa, por um valor que terá rondado os €2M-€2,5M, não tardaram as reações (de alguns jornalistas, paineleiros e até de sportinguistas), a denunciar o mito que é a aposta do Sporting na formação. 

Segundo os defensores desta teoria, outra prova concludente é o número elevado de contratações de jogadores com idades entre os 18 e os 22 anos realizadas pela direção: para além de Gauld, entraram ainda Slavchev, Paulo Oliveira, Rabia, Sarr, Jonathan, Rosell, Sacko e Geraldes. 9 jogadores. Curiosamente, não vejo tanta estranheza pelas 17 contratações que o Porto já fez este ano, a maior parte dos quais neste intervalo de idades, e muitos deles sem vínculo de longo prazo.

Admito que se possa discutir a sabedoria de algumas contratações - apesar de ainda ser cedo para estarmos a fazer conclusões alargadas - mas é um absurdo colocar em causa a aposta na formação do clube. Os jogadores da casa continuam a ter as suas possibilidades de ascender se demonstrarem competência e vontade em evoluir. 

Ontem, no fecho do mercado, o Benfica contratou uma truta italiana de 19 anos por €6M que tem no seu currículo uns impressionantes 3 jogos pela equipa principal do Milan. Não estou a fazer julgamentos sobre o seu valor, mas será que vamos ter o mesmo clamor indignado que tivemos que ouvir quando o Sporting contratou Gauld? Nomeadamente num clube que recentemente despachou para bem longe várias das suas promessas, muitas das quais nunca chegaram a ter oportunidade de mostrar em campo o que valiam?

E olhando para o Porto, um deserto de jogadores da casa nos últimos anos, interrompido agora de forma inesperada por Rúben Neves, mas que de qualquer forma contratou de emergência mais um brasileiro de 19 anos e um espanhol de 21 para lhe fazerem concorrência? Onde Gonçalo Paciência, uma promessa do clube de 20 anos a quem nunca foram poupados elogios, já foi relegado para a equipa B e que poucos minutos terá enquanto Jackson e o reforço Aboubakar por cá andarem?

De qualquer forma, nada como fazer um balanço inicial após 3 jornadas:

Rui Patrício, 3 jogos, 270 minutos
Adrien Silva, 3 jogos, 259 minutos
André Martins, 3 jogos, 231 minutos
Ricardo Esgaio, 2 jogos, 180 minutos
Nani, 2 jogos, 167 minutos
William Carvalho, 2 jogos, 156 minutos
Carlos Mané, 2 jogos, 56 minutos
Cédric Soares, 1 jogo, 45 minutos

Oito jogadores da formação. Na visita ao estádio do atual campeão, entrámos em campo com 6 jogadores da formação - mais de meia-equipa - e ainda entrou um 7º jogador na segunda parte. Acham pouco?

O Sporting é o único clube dos grandes que aposta de forma sustentada nos jogadores da casa. Isso não é sinónimo de que qualquer jogador da formação tenha imediatamente o direito de ascender ao plantel principal. Isso é o que os detratores da política de formação do Sporting queriam: uma equipa tenrinha, com jogadores ainda com demasiado por provar, e que desse menos luta na disputa dos lugares da frente.