quarta-feira, 22 de outubro de 2014

O longo braço da injustiça

                                                                                                                                                             
Até podíamos ter perdido por 3-1, mas teria ficado satisfeito com o comportamento da equipa. Enquanto jogámos 11 contra 11 fomos claramente superiores: empurrámos o Schalke para o seu meio-campo e caímos em cima deles forçando erros atrás de erros, numa demonstração de personalidade, classe e alegria de jogar que apenas uma grande equipa consegue proporcionar.


Até podíamos ter perdido por 3-1. Mas não perdemos. Os 10 indomáveis leões recusaram-se a baixar os braços e continuaram a desmultiplicar-se em campo, fazendo com que qualquer bola que repousasse uns segundos nos pés de um alemão se arriscasse a ser roubada. Procurando sempre o golo. E então Carrillo teimou em atirar-se para cima de três alemães para ser pisado de forma clara, e Adrien bateu o consequente penálti de forma irrepreensível.

Até podíamos ter perdido por 3-2, que já era suficiente para me sentir com mais motivos para acreditar nesta equipa como já não acreditava há muito. Mas os rapazes já não se sentiam em desvantagem numérica. Parecia que estavam em campo 13 ou 14 jogadores de amarelo que sabiam que iam conseguir aquilo que poucos minutos antes era impensável. E então Cédric vislumbrou Adrien do outro lado do campo e colocou-lhe a bola mesmo a jeito de fazer o empate.

O Sporting não fez um jogo perfeito, claro que não. A expulsão de Maurício foi forçada, mas o central devia saber que não pode gastar os créditos da paciência dos árbitros ao fazer faltas duras e escusadas a meio-campo. Neste caso, teve o azar de apanhar um árbitro em modo de tolerância zero para os nossos, e foi expulso ao fim de duas faltas. Teve azar ele, e acabou por ser a equipa a sofrer com isso.

O primeiro golo surge imediatamente a seguir, num lance em que o grande Rui Patrício podia ter feito certamente melhor - mas não é por isso que deixo de ter total confiança nele. Não fomos capazes de travar o Schalke nas bolas paradas, e Sarr foi batido por Howedes no lance do 3º golo - apesar de a bola ter sido cruzada de uma forma que seria difícil de intercetar sem fazer falta.

Mas de resto era impossível fazer melhor, e só não conseguimos um resultado melhor graças a uma desastrosa arbitragem que tem todos os condimentos para reavivar toda a desconfiança que existe sobre o protecionismo que determinados clubes têm sobre outros nas competições da UEFA.

Schalke --> sponsor Gazprom <-- Liga dos Campeões --> UEFA --> nomeação de árbitro russo

Uma expulsão forçada, o segundo golo do Schalke em fora-de-jogo (difícil de ajuizar, é verdade), uma diferença de critérios gritante na amostragem de cartões e marcação de faltas, e para terminar aquele penálti. 10 contra 16 foi uma luta demasiado desigual para que pudesse ter havido outro desfecho.


Como é evidente, a história das competições da UEFA está carregada de casos destes - não só de situações em que clubes de países mais pequenos como o nosso são prejudicados para além do razoável, mas também de polémicas que envolveram duas equipas da elite europeia (quem não se lembra das queixas do Chelsea numas meias-finais com o Barcelona?). Como tal, é uma daquelas lutas que não merece o nosso esforço. O foco tem que centrado estar nas batalhas que podemos ganhar.

Prefiro olhar para o jogo magnífico que os nossos jogadores nos proporcionaram. Até me parece injusto fazer destaques, mas Adrien, William e João Mário foram uns gigantes no meio-campo, Nani e Carrillo semearam inúmeras vezes o pânico na defesa adversária sem regatearem esforços a defender, e Cédric e Jonathan fizerem piscinas atrás de piscinas nos respetivos flancos sempre numa rotação elevadíssima. Uma exibição de luxo, cheia de alma, que me deixa com um orgulho imenso.

Uma última palavra para Marco Silva: está a levar a equipa a um nível que eu julgava impossível. Ter um jogador como Nani ajuda muito, mas isso está longe de ser a única explicação. Só posso desejar que fique connosco durante muitos e bons anos. 

Obrigado, rapazes!