segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Almofadas que confortam e almofadas que asfixiam



Parece cada vez mais evidente que o Conselho de Arbitragem tem revelado uma enorme preocupação em nomear juízes que gozem de simpatia nas hostes encarnadas. Tirando os internacionais Marco Ferreira e Pedro Proença (que são internacionais e, quer se goste ou não goste, têm currículo que os aconselham para os principais jogos), a lista de árbitros escolhidos este ano para os jogos do Benfica causam arrepios na espinha a qualquer adepto sportinguista: Bruno Paixão, Manuel Mota, Hugo Miguel, Vasco Santos, Luís Ferreira, João Capela e Cosme Machado. Retirando Cosme Machado desta lista (não é um bom árbitro, mas parece-me que erra indiscriminadamente), os outros seis são uma espécie de cavaleiros do apocalipse da verdade desportiva, com um longo histórico de bons e relevantes serviços prestados à nação benfiquista.

É uma questão de juntar a fome à vontade de comer. Se esses árbitros já têm uma predisposição intrínseca para serem mais compreensivos com as necessidades encarnadas, o sinal dado pelo CA certamente que não lhes passará despercebido.  E como consequência natural disso, não espanta que em caso de dúvida os árbitros não hesitem em favorecer sistematicamente os interesses do Benfica (seja nos campos em que os encarnados jogam, seja noutros em que os rivais joguem). 

Não nos iludamos: a lei do fora-de-jogo é bastante complicada de ajuizar nos casos nos lances em que o último defensor e avançado estão em linha, e acredito que na maior parte dessas situações a avaliação por parte do árbitro assistente é ditada muito mais por instinto do que por convicção. O problema é que o instinto é uma rede onde se podem apanhar muitos tipos de motivações - incluindo os reflexos de simpatias clubísticas ou meramente de sobrevivência num sistema que privilegia os favorzinhos e em que o mérito, definitivamente, não costuma ser premiado.

A verdade é que têm sido poucos os jogos em que não tenham existido casos ajuizados em favor do Benfica em momentos que poderiam ditar uma história do jogo completamente diferente daquela que se verificou. Vejamos:


10ª jornada: Bruno Paixão (Nacional)

O segundo golo do Benfica é marcado em posição muito duvidosa. Deu-se o benefício da dúvida ao atacante (Benfica).

A meio da segunda parte, é assinalado um fora-de-jogo ao Nacional que deixaria o jogador isolado. A bola chegou a entrar na baliza mas é justo que se diga que Júlio César não se fez ao lance. De qualquer forma, desta vez o fiscal-de-linha (o mesmo que deu o benefício da dúvida a Jonas) não teve quaisquer dúvidas e interrompeu o lance - sendo que o jogador do Nacional nem sequer está em linha, parte de um metro atrás em relação ao último defesa do Benfica. Poderia ter sido o 2-2.

9ª jornada: Manuel Mota (Rio Ave)

A meio da segunda parte, houve um fora-de-jogo corretamente assinalado a Esmael, que marcou o golo que faria o 1-1. No entanto, o fiscal-de-linha estava de tal forma atrasado em relação à linha de fora-de-jogo que era impossível ter condições para avaliar devidamente o lance, e só levantou a bandeirola depois da bola estar dentro da baliza (!).

8ª jornada: Marco Ferreira (Braga)

Erros para os dois lados, com ligeiro prejuízo para o Benfica. Os primeiros erros foram contra o Braga, os erros contra o Benfica aconteceram mais tarde.

7ª jornada: Hugo Miguel (Arouca)

Penálti claríssimo não assinalado aos 24' contra o Benfica. Mais tarde perdoou uma expulsão por acumulação de amarelos a um jogador do Arouca. Mais uma vez, os erros a favorecerem o Benfica aconteceram primeiro.

6ª jornada: Vasco Santos (Estoril)

Penálti de Jardel sobre Kleber não assinalado, Enzo Perez devia ter sido expulso por acumulação de amarelos, e Cabrera foi mal expulso. Três erros graves a beneficiarem o Benfica com o resultado ainda em aberto.

5ª jornada: Luís Ferreira (Moreirense)

Expulsão perdoada a Enzo Perez aos 22', quando o Moreirense já ganhava por 0-1. Aos 66' ficou um penálti por assinalar a favor do Benfica. Mais uma vez, o primeiro erro beneficiou o Benfica, e neste caso marcaria definitivamente o jogo - Benfica a perder e obrigado a jogar em desvantagem numérica durante 70 minutos.

4ª jornada: João Capela (V. Setúbal)

Golo incorretamente anulado ao Setúbal por fora-de-jogo inexistente. Mais uma vez o fiscal-de-linha optou por não dar o benefício da dúvida ao atacante, mas a verdade é que o setubalense partiu bem de trás. Este golo colocaria o resultado em 1-1.

3ª jornada: Pedro Proença (Sporting)

Jogo sem casos relevantes de arbitragem.

2ª jornada: Marco Ferreira (Boavista)

Dois golos anulados ao Boavista um dos quais absolutamente milimétrico (e que colocaria o resultado em 1-1). Mais uma vez, não foi dado o benefício da dúvida ao atacante. 

1ª jornada: Cosme Machado (Paços Ferreira)

Jogo sem casos relevantes de arbitragem.


Não estou a dizer que em TODOS os casos o Benfica foi beneficiado, mas parece indiscutível a permissividade dos homens do apito em faltas para segundo amarelo ou expulsão, tal como a incongruência na concessão do benefício da dúvida dado ao atacante em lances de potencial fora-de-jogo nos jogos em que o atual líder do campeonato participa ((o benefício da dúvida que Montero ontem não teve quando fez o golo que daria o 2-1).

A almofada que conforta o Benfica nos momentos mais difíceis é a mesma que asfixiou o Sporting em momentos decisivos nas últimas duas jornadas. Nada de novo em relação ao que se passou no ano passado, a diferença é que este ano decidiram bloquear-nos a respiração mais cedo.

Fora-de-jogo nos ataques do Benfica? Deixa seguir. Fora-de-jogo nos ataques adversários. Interrompe. Penálti na área do Benfica? Não marca. Patadas do Enzo que dão direito a segundo amarelo ou expulsão. No pasa nada.

O sistema no seu melhor. Só não vê quem não quer.