quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Evolução dos proveitos operacionais dos três grandes

Fazer uma comparação genérica dos proveitos operacionais dos três grandes é um exercício que neste momento não faz grande sentido. O universo a que as contas dizem respeito é completamente diferente, pelo que em determinadas rubricas acabamos por estar a comparar batatas com cenouras.

Por exemplo, o Benfica inclui o estádio no universo da SAD, pelo que existem determinadas verbas (como as receitas dos camarotes) que estão incluídas nas contas. O Porto, apesar de não incluir o estádio nas contas, contabiliza os camarotes nos proveitos da SAD - havendo depois um acerto com a Euroantas (empresa detentora do estádio). O Sporting não inclui as receitas de camarotes nas contas da SAD, pois trata-se de um proveito da Sporting Património e Marketing (empresa detentora do estádio). No caso das quotizações cada clube tem as suas próprias regras: enquanto a SAD do Sporting não recebe um único cêntimo de quotas (ficam 100% no clube), as SADs de Porto e Benfica ficam com 25% do valor das respetivas quotizações.

A partir de 2015/16 as contas dos grandes passarão a ser mais comparáveis, pois a SPM será integrada na Sporting SAD no âmbito da reestruturação financeira, e a Porto SAD passará brevemente a ser detentora de 50% do estádio no âmbito do aumento de capital aprovado recentemente.

Também nas receitas televisivas, com a passagem da Benfica TV para os moldes atuais, estamos a comparar coisas diferentes: enquanto Sporting e Porto declaram lucro puro, o Benfica apresenta um valor ao qual terão que ser deduzidos os custos de funcionamento do seu canal.

Como tal, parece-me que faz mais sentido confrontar os proveitos rubrica a rubrica, naquelas que poderão ser minimamente comparáveis.

As principais fontes de receitas dos clubes são:


Prémios da UEFA 

Fonte que depende exclusivamente do desempenho desportivo. Todas as equipas apresentam valores idênticos, já que pela primeira vez em vários anos os três clubes qualificaram-se para a fase de grupos. No primeiro trimestre há vantagem do Porto por ter recebido cerca de €2,5M adicionais pela participação no playoff de qualificação.

É preciso lembrar que o 1º trimestre termina a 30 de setembro, e que à data apenas tinha decorrido apenas 1 jornada da Liga dos Campeões.


Mais-valias com transações de jogadores

Valor que corresponde ao lucro da venda de um jogador, ou seja, o valor da venda deduzido de comissões, do montante a entregar a outros detentores do passe, e do valor do passe ainda por amortizar. 


É uma fonte de receitas que pode ser bastante volátil e muito dependente da conjuntura do mercado, e ao mesmo tempo está ligado ao desempenho desportivo das equipas - que é importante para a valorização dos jogadores. No 1º trimestre de 2014/15 o Sporting conseguiu pela primeira vez em muitos anos um desempenho semelhante ao dos dois rivais. A continuidade desta aproximação está no entanto longe de estar garantida, ficando sempre muito dependente do desempenho desportivo e de um bom aproveitamento da montra internacional a que já não tínhamos acesso há muito tempo.


Direitos televisivos


Nota: o valor do Benfica em 2013/14 representa o lucro da Benfica TV, e não os proveitos propriamente ditos, para ser comparável com o Sporting e Porto. O valor do 2014/15 Q1 refere-se apenas às receitas, já que os custos de operação do canal não foram divulgados. Trata-se portanto de um valor inflacionado em relação ao lucro propriamente dito.

É expectável que no final do ano o lucro da Benfica TV seja um pouco superior em relação ao de 2013/14, mas estará sempre dependente da prestação desportiva da equipa.


Bilheteira


Inclui também os bilhetes de época. O equilíbrio entre os grandes neste primeiro trimestre é enorme, mas é normal que as receitas acabem por se ir diferenciando à medida que a época avançar, em função do desempenho das equipas nas várias frentes em que competem. 

Ao longo dos últimos dois anos o Sporting conseguiu aproximar-se aos rivais. No ano passado o Sporting ultrapassou o Porto, mesmo não tendo participado em competições europeias e tendo sido eliminado prematuramente na Taça de Portugal. O domínio do Benfica nos últimos anos deve-se sobretudo ao facto de terem conseguido colocar-se em boa posição para vencer o campeonato desde muito cedo (garantido assistências bastante acima da média ao longo de meses) e por terem seguido nas provas europeias até ao fim.


Publicidade


Esta é a fonte de receita onde o Sporting regista o maior atraso em relação aos rivais, que se explica facilmente pelo acumular de anos de fraco desempenho desportivo. Para piorar o cenário, é conhecido o iminente abandono de empresas como a PT e o BES como patrocinadores de referência do futebol nacional. Este ponto será um dos maiores desafios que a direção terá pela frente.

O ponto positivo é que o trabalho da direção se tornará mais fácil se a evolução da militância dos sportinguistas que se tem registado ultimamente continuar a acontecer. Uma massa adepta ativa, fiel e participativa (comparecendo no estádio ou tornando-se sócios) é fundamental para aumentar a atratividade do Sporting para potenciais patrocinadores e aumentar o poder negocial do clube. Ou seja, cada um de nós pode contribuir para que o clube consiga assegurar uma maior fatia do bolo publicitário.

O merchandising não está aqui incluído pelo facto de a distribuição pelas SAD's e clubes ser realizada de forma diferenciada. No entanto, à imagem do que acontece com a publicidade, é um ponto em que o Sporting tem muito a recuperar em relação aos rivais.