Bruno de Carvalho, do ponto de vista da tradicional longevidade de um dirigente desportivo, é uma criança que está a aprender a ler e escrever num mundo recheado de adultos que já andam nisto há tempo suficiente para terem aprendido tudo o que há para saber.
Vieira é presidente do Benfica há onze anos, mas o seu passado desportivo enquanto diretor do Benfica e presidente do Alverca estende a sua experiência para um total de mais de quinze anos, tempo esse onde também teve oportunidade para estagiar com catedráticos como Pinto da Costa ou José Veiga. Durante todo esse percurso, não só nos deixou um legado de promessas que fazem parte do anedotário futebolístico nacional como cometeu uma infinidade de erros evidentes para todos (reconhecendo apenas um: o despedimento de Fernando Santos ao fim de uma jornada). Com o decorrer do tempo percebeu as suas limitações comunicacionais e que quanto menos fala menos escrutinado é, e agora tomou o gosto à arte da invisibilidade quando as coisas não lhe correm bem - esperando que os assuntos polémicos morram de velhice.
Pinto da Costa anda nisto há mais três décadas. Antes de ser presidente já tinha alguma experiência de dirigismo no clube, mas certamente que terão sido muitos os erros cometidos no princípio. A questão é que o escrutínio público no princípio da década de 80 é incomparavelmente inferior aos tempos de cobertura mediática furiosa que vivemos hoje. Pinto da Costa está agora claramente em declínio - o que é natural face à sua idade - mas continua a ser incapaz de reconhecer um erro em público.
Ambos têm muitas características em comum: o tentar passar uma imagem de infalibilidade é apenas uma delas.
Independentemente do que se tenha passado entre Bruno de Carvalho e Marco Silva, independentemente das responsabilidades que Bruno de Carvalho possa ter nas intervenções de José Eduardo, independentemente das razões que possam assistir a presidente e treinador, uma coisa é indiscutível: durante demasiados dias a vida do Sporting esteve totalmente descontrolada, certamente muito para além daquilo que Bruno de Carvalho alguma vez terá imaginado. É óbvio que Bruno de Carvalho cometeu erros e o clube sofreu um período de enorme instabilidade à custa desses erros.
Segundo o Maisfutebol, foi Bruno de Carvalho que na manhã de sábado promoveu a reaproximação com Marco Silva. Conversaram, encontraram forma de se entenderem a ponto de os dois ficarem suficientemente confortáveis para continuar a desempenhar as suas funções em prol do clube. Para mim é suficiente: não preciso que presidente e treinador sejam amigos, basta que saibam trabalhar juntos. Antes do jogo com o Estoril, Bruno de Carvalho fez uma declaração à Sporting TV onde reconheceu culpas próprias e a importância de manter o clube num clima de paz.
Não sendo possível apagar tudo aquilo que aconteceu, não podemos menosprezar a importância desta atitude do presidente, à presidente. Bruno de Carvalho soube colocar os interesses do clube acima do seu orgulho, mesmo que tenha sido a contragosto. Os detratores dirão que só o fez por temer a queda da sua popularidade, mas podemos ver a sua atitude por outro prisma: Bruno de Carvalho soube ouvir e avaliar a situação devidamente e teve capacidade para agir de forma a matar esta novela de forma bastante eficaz.
Não há nada pior para uma organização que um líder que seja incapaz de reconhecer os erros que comete e que seja incapaz de aprender com eles. Bruno de Carvalho é humano, já cometeu erros e continuará a cometer erros no futuro. Havendo conclusões negativas a retirar de tudo o que se passou, não devemos menosprezar o facto de Bruno de Carvalho ter demonstrado que percebeu o que falhou e de ter tomado as ações necessárias para corrigir a situação. E como é um homem inteligente, acredito que tenha aprendido muito com tudo aquilo que se passou ao longo das últimas semanas. E se assim for, não tenho grandes dúvidas de que temos hoje um presidente melhor do que tínhamos há três dias atrás.