Foi interessante registar o escárnio com que alguns benfiquistas se referiram aos 11600 espectadores que marcaram presença na quarta-feira passada para o jogo Sporting - Famalicão.
É indiscutível que se tratou de uma assistência muito reduzida, e não serve de desculpa o facto de ter sido às 21h de um dia de semana e de ter calhado ser o dia mais frio deste inverno. Para além disso, este número ainda contou com a ajuda preciosa de 1500 entusiásticos adeptos famalicenses.
Mas de imediato me ocorreu que esses benfiquistas estavam a esquecer-se de algo relevante: as 11600 pessoas que estiveram em Alvalade são reais, estavam mesmo lá, coisa que já não se pode dizer das assistências imaginárias que são oficialmente registadas com cada vez mais frequência nos jogos realizados no Estádio da Luz.
Mas como gosto sempre de tentar compreender o raciocínio das outras pessoas, fiz um esforço e cheguei a uma conclusão bastante interessante.
É sabido que existe um relacionamento difícil de muitos benfiquistas (não todos, felizmente) com a ciência dos números. Há muitos benfiquistas inteligentes que teimam em atirar números para o ar que, para o comum dos mortais, não faz qualquer sentido. "Somos o clube do mundo com mais sócios, 235.000" - dizem eles. E no entanto, vamos ao R&C do Benfica e as receitas das quotizações são demasiado reduzidas para poderem confirmar esse número de associados. Nem de perto nem de longe.
A explicação é na realidade imensamente simples: da mesma forma que a maior parte de nós interpreta 10 como "uma dezena", muitos sistemas informáticos interpretam 10 como "2", pois baseiam-se no sistema binário.
Foi a partir desse princípio que cheguei à brilhante conclusão de que muitas mentes benfiquistas estão formatadas para utilizarem um sistema de numeração até agora desconhecido: o sistema lampional. Ou seja, no exemplo dos sócios, a disparidade explica-se porque o R&C utiliza o sistema de numeração decimal (uma obrigação imposta pela CMVM) enquanto que os discursos dos dirigentes benfiquistas sobre esse assunto utilizam invariavelmente o tal sistema lampional.
É um sistema efetivamente complicado de acompanhar: ao contrário do carácter linear e progressivo da generalidade dos sistemas de numeração, o sistema lampional é irregular e tortuoso, dando alguns nós que tornam quase impossível a sua compreensão por pessoas que não cresceram a venerar figuras como Eusébio, Chalana, Rui Costa, Vieira ou o Adepto Possuído.
Apesar de ser um sistema desconhecido, o mundo vai gradualmente começando a descobri-lo. Por exemplo, muitos alemães que residem na região da Baviera já se aperceberam que a relação do Benfica com os números não é a mesma que por lá existe. Será uma questão de tempo até descobrirem este novo sistema de numeração - é sabido que os alemães estão sempre na vanguarda da tecnologia.
Depois de uma investigação bastante aprofundada, produzi um quadro que - espero - ajudará adeptos de outros clubes a compreender os mistérios insondáveis do sistema de numeração lampional - algo que é fundamental para preservar a nossa sanidade mental quando sofremos de sobre-exposição a discursos de Luís Filipe Vieira.