quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Um imenso fosso de um ponto

Os resultados da última jornada foram extremamente positivos, mas tem sido particularmente interessante ouvir a forma como os comentadores da nossa praça reagem à súbita aproximação do Sporting aos dois primeiros classificados.

Até ao final da semana passada as opiniões eram unânimes em relação ao facto de a disputa pelo título ser uma luta limitada a dois emblemas. Os dez pontos de atraso do Sporting eram considerados irrecuperáveis, ao passo que os seis pontos de atraso do Porto - que face à derrota por 0-2 no Dragão com o Benfica os transformam virtualmente em sete pontos - representavam uma distância suficientemente próxima para não se poder excluir os azuis e brancos de um eventual assalto ao 1º lugar.

Com a vitória do Sporting e a derrota de Benfica e Porto, é visível a dificuldade que alguns comentadores demonstram ao tentarem encaixar as mesmas peças do puzzle num cenário que mudou e que julgavam ser impossível.

A doutrina divide-se agora em duas linhas de raciocínio distintas.

A primeira é a dos que se recusam a analisar em função da bola que entra ou não entra na baliza depois de bater no poste, e que dizem que não podem mudar a sua análise só por causa do que aconteceu num jogo. Para estes a luta continua a ser a dois, ponto final, parágrafo.

A segunda é a dos que agora consideram a eventualidade de o Sporting vir a intrometer-se nas contas do 1º lugar se vencer o Benfica em Alvalade. Ou seja, neste momento o Sporting ainda não é candidato, mas se conseguir reduzir à 20ª jornada a distância para 4 pontos então já passa a ser. No entanto, para estas mesmas pessoas o Porto continua a ter um estatuto diferente, estando com os dois pés na luta pelo título.

Eu aceito e concordo que digam que as hipóteses do Sporting em chegar ao 1º lugar são mínimas. A distância para o Benfica é efetivamente grande, e estamos dependentes de escorregadelas de terceiros para nos podermos aproximar. A filosofia de encarar um jogo de cada vez é a que neste momento faz mais sentido, e se continuarmos a ganhar e entretanto os outros escorregarem logo se vê se vale a pena estabelecer objetivos mais alargados.

Agora, é de uma enorme hipocrisia que estas mesmas pessoas criem um estatuto completamente diferente para o Porto, como se as possibilidades de disputa pelo 1º lugar fosse algo de incondicional atribuído por decreto. Então as hipóteses do Porto não dependerão também do que farão na Luz? Por que motivo os 6(+1) pontos de atraso do Porto para o Benfica são assim tão diferentes dos 7 pontos de atraso do Sporting?

O Porto ainda não demonstrou uma consistência e qualidade de jogo assim tão superior em relação ao Sporting, e a melhor prova disso é que ao fim de 18 jogos e 54 pontos em disputado o avanço que conseguiram acumular é de... 1 ponto. É verdade que têm mais soluções individuais que o Sporting para determinadas posições, mas essa diferença de qualidade não se traduziu ainda num coletivo indiscutivelmente melhor - e desengane-se quem acredita que Lopetegui ainda poderá fazer evoluir significativamente esta equipa para além do que conseguiu ao fim de 7 meses de trabalho.

Sim, apesar da derrota em Paços o Benfica continua a ser o único grande favorito. Não pelo que tem demonstrado dentro de campo, mas acima de tudo pela "competência" demonstrada fora dele. E como essa vantagem extra-competitiva não se vai desvanecer de repente, os outros estão condenados a depender de improváveis deslizes do líder.

Bipolarização também é isto. Uma legião de comentadores que insiste em atribuir competências a Benfica e Porto com a mesma facilidade que as negam ao Sporting, por muito que os factos insistam em não suportar as suas teorias.