quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

A não expulsão de Jackson e a simulação de Salvio

Sendo este blogue um espaço de opinião pessoal declaradamente sportinguista, não sinto por norma qualquer necessidade de ter que me justificar pelos posts que decido ou não fazer. No entanto, vejo algum interesse em esclarecer porque é que a simulação de Salvio (um lance que não afetou diretamente o meu clube) teve direito a um post, enquanto que a falta violenta de Jackson no jogo com o Boavista (um lance que afetou diretamente o meu clube) passou sem qualquer referência da minha parte.

Isto vem a propósito de algumas interpelações de adeptos benfiquistas nas caixas de comentários de posts anteriores.

Começo por deixar clara a minha opinião sobre ambos os lances: acho que Jackson devia ter sido expulso - e como tal não deveria poder jogar contra o Sporting -, e acho que Salvio simulou falta na área - pelo que Jorge Ferreira lhe deveria ter mostrado o cartão amarelo.

O que me incomodou no lance da simulação de Salvio foi a reação da blogosfera e redes sociais benfiquistas ao lance. Acompanho vários espaços de adeptos benfiquistas e todos defendem que ficou um penálti por marcar. Mais, alguns deles apresentaram a fotografia ou o GIF animado (que terminava no momento do suposto contacto, não mostrando o salto de Salvio) que apresentei no post. Não vi nenhum blogue ou qualquer outro espaço nas redes sociais que mostrasse um vídeo completo do lance.

Falta de recursos técnicos para fazer o vídeo? Claro que não. Fosse um lance polémico de outro clube não tardariam a aparecer vídeos de toda a espécie e feitio, como o fizeram, por exemplo, na suposta agressão de Martins Indi no Paços Ferreira - Porto da 1ª volta - e que circularam depois por todo o lado.

Para mim, isto é um sinal claro de que os benfiquistas revelam agora aquilo que tanto criticavam nos portistas: incapacidade de reconhecer ou admitir uma situação de benefício sistematizado. Não sei se estão a viver num estado de negação ou se simplesmente estão a borrifar-se para a verdade desportiva que ainda gostam de apregoar, mas o que é facto é que não é a primeira vez que tentam mascarar uma realidade distorcendo factos ou apresentando uma imagem incompleta do que aconteceu.

Lembram-se do que aconteceu no Belenenses - Benfica do ano passado? O mesmo Jorge Ferreira anulou um golo limpo ao Belenenses, e a blogosfera benfiquista - liderada pelo paladino Rui Gomes da Silva - de imediato inundou a opinião pública de imagens de documentos do International Board alegando que o jogador em fora-de-jogo posicional tapava a visão de Oblak no momento do remate, e que como tal o golo tinha sido bem anulado - apesar de ser óbvio que não existia qualquer obstrução à visão do guarda-redes.



Dos 3 erros de arbitragem de Jorge Ferreira mais falados no Moreirense - Benfica (o canto mal assinalado que dá origem ao 1º golo do Benfica, a expulsão de André Simões e o penálti de Eliseu) só me incomodou verdadeiramente a expulsão, que apesar de ser legítima em função das palavras proferidas pelo jogador, não é prática comum nos relvados. Ou seja, para mim o problema foi um critério ter sido invertido num momento muito conveniente. E, como é evidente, a suspeição ganha contornos mais credíveis pelo facto de todos os erros mais falados da partida terem beneficiado sempre o Benfica.

Ora, com isto chegamos à expulsão de Jackson. Porque é que não tive uma reação semelhante? Por dois motivos.

O primeiro é que o árbitro do Boavista - Porto enganou-se para os dois lados. Começou por deixar passar em claro um penálti a favor do Porto que desbloquearia o jogo, e não puniu com cartões algumas entradas bastante duras de jogadores do Boavista. Como tal, duvido que estivesse ali com ideias de beneficiar intencionalmente o Porto.

O segundo motivo é que o juiz em causa era Hugo Miguel, provavelmente o mais permissivo árbitro que existe no primeiro escalão. Não o acho um bom árbitro, mas foi fiel ao critério dele - que não costuma mudar em função dos clubes em ação. Por exemplo, Hugo Miguel foi o árbitro do Guimarães - Sporting, em que prejudicou o Sporting ao validar mal o 2º golo vimaranense e ao assinalar indevidamente o penálti que deu origem ao 3-0. Nesse jogo, o Sporting cometeu 21 faltas e Hugo Miguel apenas mostrou 1 cartão amarelo. O Guimarães fez 17 faltas e o árbitro mostrou 2 amarelos.

Aliás, mais do que a qualidade do trabalho de Hugo Miguel no Boavista - Porto, o que me incomodou verdadeiramente foi a sua nomeação para esse jogo. Colocar um árbitro permissivo era meio caminho andado para que o Porto ficasse mais salvaguardado de eventuais incidentes que pudessem provocar a expulsão de jogadores seus - e que os deixariam de fora no clássico.

Mais: querem saber uma "coincidência" gira? Qual foi o jogo do Benfica que antecedeu o Sporting - Benfica de há algumas semanas atrás?

Benfica - Boavista.

Quem foi o árbitro?

Hugo Miguel.

Por algum motivo Jorge Jesus ter-se-á sentido suficientemente confiante para utilizar Talisca, apesar do risco de suspensão para o Sporting - Benfica. Apesar de o Benfica ter cometido 18 faltas contra o Boavista, Maxi foi o único que viu um amarelo, e já nos descontos. Nessa mesma jornada, o Sporting apanhou... Jorge Ferreira, que mostrou 4 amarelos e 1 vermelho a jogadores do Sporting (1 cartão por cada 2,8 faltas), e apenas 1 amarelo a jogadores do Arouca (em 11 faltas). Jonathan acabou por ficar de fora do dérbi por suspensão. 

Jackson é um jogador que admiro imenso e aquele que, dos que jogam em Portugal noutros clubes, mais gostaria de ver no Sporting, mas não deveria poder jogar no clássico. Mas no meio de tantas coisas estranhas que se passaram neste fim-de-semana (e que se têm passado ao longo de toda a época), a forma como não foi expulso não é definitivamente uma das que me preocupam mais.