Do ponto de vista dos resultados, continua imaculado o percurso de Fernando Santos na campanha de qualificação para o Euro 2016. Quinto triunfo em cinco jogos, quinta vitória pela margem mínima, das quais duas foram arrancadas nos descontos. Foi também a quinta exibição sofrível que tivemos que suportar. Bom futebol é coisa que Fernando Santos ainda não conseguiu mostrar ao fim de um ano de trabalho.
Não quero parecer ingrato nem ser acusado de falta de memória. Lembro-me bem do estado lastimável em que Paulo Bento deixou a seleção. Seguramente que das prioridades que os responsáveis federativos terão colocado ao atual selecionador aquando da sua contratação, a qualificação para a fase final do Europeu será seguramente a principal - e por aí os resultados tem sido irrepreensíveis até à data.
Pelo meio Fernando Santos obteve ainda duas vitórias raras contra a Itália (injusta face à superioridade italiana) e Argentina (com um golo marcado perto do fim), em jogos particulares.
Mas todos percebem que, a dez meses de se iniciar o Europeu, há que começar rapidamente a construir uma equipa. Fernando Santos abriu (e bem) o grupo de trabalho a todos os cidadãos portugueses aptos para a prática do futebol, em clara oposição à política de lugares cativos dos amigos de Paulo Bento. O problema é que o atual selecionador parece perdido em tantas indecisões, ao ponto de seguir um critério... incompreensível. Dos seis titulares do meio-campo e ataque que jogaram contra a França, manteve apenas 3 contra a Albânia. Danny e Bernardo Silva jogaram 11 e 5 minutos respetivamente contra a França, ontem foram titulares. Miguel Veloso, que ainda nem sequer tinha sido chamado por Fernando Santos, tirou o lugar aos habituais convocados Adrien e João Mário. Éder ora é opção, ora não é - com resultados idênticos quer esteja dentro quer fora de campo. Cristiano Ronaldo joga encostado à esquerda um dia, noutro é colocado no centro do ataque. E isto são apenas algumas das diferenças registadas entre dois jogos separados por 3 dias. Não espanta portanto que sejam raras as ocasiões em que a seleção consiga ligar lances de ataque com cabeça, tronco e membros, mesmo contra adversários de nível acessível como a Albânia.
Como é evidente, isto para já tem sido suficiente - com doses industriais de sorte à mistura - mas será muito curto quando apanharmos adversários de peso em jogos mesmo a sério. A seleção nacional revela um claro défice de talento, tendo neste momento um único jogador de dimensão internacional que tipicamente chega fisicamente por arames aos finais das épocas, pelo que não é difícil perceber que voltaremos a ter uma carreira curta na fase final do Euro 2016 se Fernando Santos não conseguir montar um coletivo cujo valor seja superior à soma das individualidades. Para já, sobram dúvidas e equívocos e uma desconfortável sensação de tempo perdido.
Não se pode adiar mais a renovação da seleção. Estou perfeitamente convencido que o grupo de jogadores que esteve na fase final do Europeu de Sub-21 seria capaz de derrotar a Albânia com mais facilidade que os A's. Paulo Oliveira, Raphael Guerreiro, William Carvalho, João Mário e Bernardo Silva têm que começar a ser opções frequentes nos 14 utilizados. Não tenho nada contra jogadores como Eliseu, Tiago, Danny e Eder, mas não têm lugar na seleção. E outros como Bruno Alves, João Moutinho, Miguel Veloso, Nani, Quaresma e Vieirinha, poderão ser úteis em determinadas circunstâncias, mas já não parecem ser elementos em que um coletivo forte possa assentar, a não ser que atravessem momentos de forma extraordinários.
Está na altura de começarmos a preparar o Mundial 2018, dando lugar a uma geração que possa carregar as ambições que todos temos. E há que não esquecer que Cristiano Ronaldo já não estará disponível para a seleção durante muito mais tempo.