segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Confirmou-se: foi mesmo uma equipa contra 11 jogadores

Escrevi no lançamento da partida que estava confiante para o dérbi de ontem, mas tenho que admitir que nem nos meus melhores sonhos imaginava que o Sporting estaria a ganhar por 3-0 e com o jogo na mão ao fim de 36 minutos. Jesus parece ter feito muito bom uso do software que tem na sua cabeça e teve uma abordagem estratégica perfeita perante um adversário que tão bem conhece: foi um Sporting muito bem organizado, cínico e implacável que subiu ao relvado da Luz, e que mereceu inteiramente a felicidade de ter marcado nas primeiras ocasiões que construiu.

O Sporting poderia ter carregado de forma a ir à procura de um resultado verdadeiramente histórico? Podia, mas não teria sido a atitude mais inteligente. Para quê sacrificar a segurança para obtermos um quarto ou um quinto golo, quando estaríamos ao mesmo tempo a aumentar as hipóteses do adversário em marcar um golo que os poderia galvanizar para uma reviravolta que também seria histórica? Jesus nunca permitiu, e bem, que o Sporting corresse riscos desnecessários, já que quem tinha necessidade de os correr era a equipa em desvantagem. A segunda parte foi um hino ao (bom) controlo de um jogo de futebol, em que até poderíamos ter alargado a vantagem, e em que a única verdadeira oportunidade de golo do Benfica (e única defesa difícil de Rui Patrício em todos os 90 minutos) surgiu a partir de um momento displicente de um jogador do Sporting.

É certo que o balanço da exibição de duas equipas em confronto depende muito daquilo que a outra joga e deixa jogar, mas Rui Vitória acaba por ser um dos derrotados da noite: não só pelos números da derrota, não só pela incapacidade revelada pelo Benfica em diversas vertentes do jogo, mas sobretudo pelo ricochete das suas infelizes declarações de sábado. O Sporting apresentou efetivamente uma equipa, no sentido coletivo da palavra, e a avaliar pela reação de William Carvalho no final as palavras de Rui Vitória apenas serviram para espicaçar os nossos jogadores. O Benfica nunca conseguiu ser mais do que a soma das suas individualidades, com os setores a jogarem separados uns dos outros, jogadores entregues à sua sorte sem apoio, e uma evidente ausência de ideias a partir do momento em que se viu em desvantagem no resultado, o que até é surpreendente considerando que estavam em campo 8 jogadores que foram decisivos para a conquista do campeonato da época passada.

Do lado do Sporting acaba por ser ingrato tentar nomear os melhores jogadores em campo: destacaria Slimani, João Mário, Adrien, William e Paulo Oliveira, mas todos estiveram muito bem. Tirando um ou outro erro individual (Naldo, eu avisei-te para não facilitares naquele lance com o Jimenez!), não consigo apontar o dedo a qualquer aspeto de uma exibição pragmática que roçou a perfeição.



Positivo

Jesus, o grande vencedor da noite - por motivos óbvios, era inevitável que Jesus fosse a grande figura do jogo, independentemente do resultado e das incidências da partida. Mas na realidade acabou por merecer inteiramente esse estatuto não pelo lado da polémica, mas pela forma brilhante como preparou a equipa. Como exemplos poderemos referir o pressing do trio da frente que frequentemente isolou a linha defensiva do Benfica na primeira fase de construção, o total sucesso da semi-adaptação de João Mário para o lugar que era de Carrillo (alguém se lembrou do peruano durante a partida de ontem?), a ausência de espaço dado ao Benfica para aproveitar o contra-ataque, ou a eficácia com que Jonas foi anulado durante praticamente toda a partida. Todo o plano de jogo foi bem pensado pelo treinador e executado imaculadamente pelos jogadores. Na conferência de imprensa após o jogo, no seu estilo habitual, Jorge Jesus mencionou uma estatística que é tão indesmentível quanto elucidativa: enquanto foi treinador do Benfica, o Sporting ganhou apenas 1 jogo em 14; nesta nova fase da sua carreira, o Sporting ganhou 2 em 2. Contra factos não há argumentos.

A eficácia na concretização - aquele que tem sido um dos principais problemas do Sporting foi ontem um dos alicerces de uma vitória inesperadamente fácil. Tivemos a felicidade e talento para concretizar as três primeiras grandes ocasiões de que dispusémos, a primeira das quais com a sorte de um ressalto à mistura, e que interrompeu uma entrada forte em jogo do Benfica. Ajudou a equipa a estabilizar-se emocionalmente e a encarar o jogo com outro nível de confiança.

O apoio nas bancadas - como seria de esperar, foram muitos os momentos em que as vozes dos 3000 sportinguistas presentes abafavam os benfiquistas que preenchiam 95% do estádio. Mas também tenho que reconhecer aquele excelente momento a meio da segunda-parte protagonizado pelos adeptos da casa, que durante vários minutos apoiaram ruidosamente a sua equipa mesmo sabendo que o jogo estava perdido.

Calções pretos e meias listadas - que saudades que tinha!



Vitória expressiva na casa do rival com o bónus do empate do Porto que nos dá a liderança isolada e o melhor ataque do campeonato. Já vivi domingos piores. Há no entanto que não esquecer que estes três pontos valem tantos quanto os que estarão em disputa com o Estoril daqui a uma semana. Podemos e devemos saborear esta vitória, mas mantendo os pés bem assentes no chão. Tirando a Supertaça, ainda estamos muito longe de ganhar o quer que seja.