sexta-feira, 6 de novembro de 2015

A inocente cortesia da oferta de refeições

A propósito das afirmações dos dirigentes da arbitragem em como os árbitros nunca se deixariam influenciar pela oferta de vouchers para jantar no Museu da Cerveja, das pessoas ligadas ao Benfica que juram a pés juntos não existir qualquer intenção do clube em retirar algum tipo de benefício a partir dessas ofertas, e na sequência do post que escrevi com base no programa de John Oliver (LINK), deixo agora para reflexão um excerto de um artigo da drugwatch.com (LINK para o artigo completo em inglês), intitulado How Big Pharma Influences Doctors (traduzindo: como as grandes farmacêuticas influenciam os médicos).

(obrigado, @baavin)



Empresas farmacêuticas influenciando o processo de prescrição

As farmacêuticas dizem que se limitam a informar os médicos sobre as mais recentes terapias desenvolvidas pelas suas equipas de investigação. Os médicos, entretanto, negam que tenham sido influenciados de alguma forma pela generosidade das grandes farmacêuticas.

No entanto, duas constatações parecem rebater as duas ideias referidas acima:

Em primeiro lugar, as empresas farmacêuticas não seriam tão generosas se os seus investimentos em ofertas não resultassem em enormes retornos. As empresas farmacêuticas gastam uns estimados 20 mil milhões de dólares por ano em marketing para médicos, ao passo que as vendas de medicamentos prescritos chegam aos 300 mil milhões de dólares.

E em segundo lugar, vários estudos determinaram que os médicos, tal como todos os seres humanos, são suscetíveis à natural tendência de quererem dar algo em troca a quem os presenteia, numa dinâmica que os psicólogos designam de reciprocidade.

Num artigo de 2000 do Journal of the American Medical Association, o Dr. Ashley Wazana, da Universidade McGill em Montreal, analisou 29 estudos do comportamento prescricional dos médicos no Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Holanda e Estados Unidos. Wazana observou, entre outras coisas, que:
  • Amostras grátis aumentaram "significativamente" a probabilidade de os médicos prescreverem um determinado medicamento;
  • As ofertas levaram os médicos a pedir para se incluírem medicamentos nos formulários hospitalares (a lista oficial dos medicamentos que podem ser prescritos por um hospital);
  • Aceitar a oferta de viagens para conferências organizadas por empresas farmacêuticas levou os médicos a prescrever mais medicamentos dessas empresas, num aumento entre 80 a 190%;
  • Médicos que ocasionalmente usufruiram de refeições patrocinadas por farmacêuticas revelaram uma probabilidade entre duas e três vezes maior de pedir que os medicamentos dessas farmacêuticas fossem colocados nos formulários hospitalares.